quarta-feira, 11 de julho de 2018

Mobilização popular freia privatização da Eletrobras

DISPUTA  

Mobilização popular freia privatização da Eletrobras

Após pressão intensa, presidente da Câmara anunciou que medida não será votada este ano

Brasil de Fato | Brasília (DF)
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Mobilização de trabalhadores contra a venda Eletrobras em Brasília / Foto: Mídia Ninja
Após a articulação de setores da oposição para impedir a votação que permitiria a privatização da Eletrobras, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou que o Projeto de Lei (PL) 9463/18 não será mais apreciado neste ano.
De iniciativa do Poder Executivo, a medida tramita desde janeiro e prevê a privatização da estatal por meio de mudanças no marco regulatório do setor elétrico e da preparação para a venda das ações. A proposta não chegou a ter o relatório votado na comissão legislativa que analisa a pauta.
O anúncio de Maia foi feito na noite dessa terça-feira (10), durante a sessão que finalizava a votação do PL 10.332/18, que prevê a venda de seis distribuidoras da empresa.
Para Fabíola Antezana, do Comitê Nacional dos Eletricitários, o anúncio do presidente traduz um avanço da luta travada pelo campo popular.
Os trabalhadores da Eletrobras e diversos outros segmentos da sociedade organizada investem atualmente em uma ampla frente contra a privatização da empresa. A articulação envolve uma forte pressão sobre os parlamentares e também campanhas destinadas à população em geral, com o objetivo de dar conhecimento sobre o risco de aumento da tarifa de energia e piora do serviço em caso de privatização.
“Nós realizamos audiências e aulas públicas em praticamente todos os estados do país, tanto nas capitais quanto no interior, fazendo os esclarecimentos de quais são os impactos para a sociedade da possível privatização da Eletrobras. [O anúncio] é uma vitória parcial nesse processo”, avalia.
Do ponto de vista institucional, a novidade, que pegou de surpresa alguns deputados aliados do Planalto, veio após uma articulação de meses entre parlamentares que se opunham ao projeto e o presidente da Casa, responsável pela definição da pauta de votações.
Em acordo feito na semana passada, lideranças da oposição e de alguns partidos governistas negociaram o naufrágio do PL em troca da votação de outras propostas pelo plenário, incluindo medidas provisórias e projetos da pauta microeconômica.
O líder da bancada do PCdoB, Orlando Silva (SP), destaca o peso do movimento popular na conduta de parlamentares que estavam indecisos em relação ao PL.
“Muitos deputados vacilavam o tempo inteiro sobre se votariam ou não. Eu considero uma vitória da política, do diálogo político, mas sobretudo do povo brasileiro. A luta parlamentar isolada, descolada da luta das ruas, tem pouca eficácia”, enfatizou.
Para o coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Eletrobras e do Setor Elétrico, deputado Henrique Fontana (PT-RS), a paralisação do PL por conta da resistência popular demonstra a necessidade de que a pauta das privatizações seja decidida pelo voto nas próximas eleições.
Ele destaca que o resultado do próximo pleito será definitivo para saber se o PL poderá retornar ou não à pauta da Câmara.
“Esse debate precisa ser feito durante o processo eleitoral e o povo brasileiro é que vai definir”, reforça.
Medidas
A Eletrobras tem sido alvo de diferentes medidas de caráter neoliberal. Além do PL 9463/18, trabalhadores da estatal e outros segmentos da sociedade civil organizada travam uma batalha contra o PL 10.332/18, que privatiza seis distribuidoras da empresa.
A proposta teve os destaques (sugestões de alteração no texto-base) votados na noite dessa terça-feira (10), com derrota da oposição em todos eles. Diante disso, o PL segue agora para análise do Senado.
Além disso, a Eletrobras é alvo do PL 1917/15, que trata da portabilidade da conta de energia e altera normas do marco legal do setor elétrico. A medida tramita numa comissão da Câmara e aguarda a apresentação do relatório.
O governo também atuou em outras frentes. Uma delas se deu por meio da Medida Provisória (MP) 814/17, apresentada em dezembro de 2017, que previa a inclusão das empresas de geração e transmissão de energia no Plano Nacional de Desestatização (PND).
Polêmica, a MP caducou no início de junho sem ser votada nos plenários da Câmara e do Senado.
Edição: Diego Sartorato

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