Perder a democracia é pior do que perder a eleição
Está cada vez mais claro que no próximo dia 7 de outubro os mais de 143 milhões de eleitores brasileiros irão às urnas escolher entre dois regimes de governo. Se mantêm a democracia ou se retornam à ditadura. Pelo que mostram todas as pesquisas de intenções de voto, o segundo turno presidencial deve se dar entre o candidato do PT e de Lula, Fernando Haddad, e o candidato da extrema-direita e do fascismo, Jair Bolsonaro (PSL).
A decisão é do povo brasileiro e seja qual for o resultado ela deve ser soberana. No entanto, a classe política tem o dever histórico de não titubear neste momento, esclarecendo à população os perigos envolvidos nesta escolha. Os principais candidatos a presidente do campo da centro-direita, Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede), devem ter a grandeza que a democracia espera deles neste momento crucial do País.
Superar as diferenças programáticas em prol da estabilidade do regime político não é tão difícil e tem sido relativamente comum em democracias consolidadas no mundo. Em 2016, na Áustria, os conservadores ignoraram distinções políticas e apoiaram o candidato do Partido Verde, Alexander Van der Bellen, para derrotar o candidato de extrema-direita Norbert Hofer. Em 2017, ainda que não se concorde com o governo que está executando, Emmanuel Macron recebeu na França o apoio do adversário conservador François Fillon para derrotar a candidatura fascista de Marine Le Pen.
O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, tem igualmente uma responsabilidade histórica neste momento. Protagonista do maior vexame eleitoral do seu partido nas últimas seis eleições presidenciais, com apenas 8% de intenções de voto segundo o Ibope, Alckmin tem a escolha de recuperar a sua dignidade política, reafirmando a democracia como regime de governo, superando diferenças programáticas e declarando apoio a Fernando Haddad.
O PSDB, como se sabe, é um dos responsáveis pelo enfraquecimento da democracia brasileira, ao questionar o resultado das eleições presidenciais de 2014, ao liderar a sabotagem política do segundo governo de Dilma Rousseff e ao idealizar e executar um golpe parlamentar que solapou a decisão da maioria da população expressa nas urnas e mergulhou na pior crise de sua história.
Geraldo Alckmin também tem sua parcela pessoal de responsabilidade: atropelou as instâncias internas do PSDB para bancar a candidatura de João Doria Jr à prefeitura de São Paulo em 2016. Doria destilou ódio ao PT, foi servente de pedreiro na edificação do fascismo, traiu Alckmin querendo ser o candidato tucano a presidente e, dois anos depois, com sério risco de perder a eleição para o governo de São Paulo, já não esconde que irá apoiar Bolsonaro. Se democrata quiser voltar a ser, Alckmin deve ter a altivez de declarar apoio a Fernando Haddad.
Para a candidata Marina Silva, que há apenas quatro anos foi considerada como a terceira via entre a polarização PT – PSDB, seu posicionamento tem caráter duplamente civilizatório. Com 5% de intenções de voto segundo o Ibope, Marina tem a responsabilidade de reafirmar a posição de protagonismo da Mulher contra um candidato claramente machista, que faz apologia ao estupro, que defende que mulheres devem ganhar menos do que homens, e que ameaçou a ex-esposa. Marina também pode se redimir do erro que cometeu no segundo turno das eleições de 2014, quando declarou apoio a um candidato claramente anti-democrático, como se revelou Aécio Neves. O momento não cabe mais nem tibieza nem manutenção dos erros.
O candidato Ciro Gomes (PDT), que tem 11% das intenções de voto e desde o início um dos mais combatentes do campo progressista, já externou sua posição favorável à democracia, dizendo que votará em Fernando Haddad no segundo turno. Assim como Guilherme Boulos, do PSOL.
Já os demais candidatos, João Amoêdo (Novo), Henrique Meirelles (MDB), Alvaro Dias (Podemos), Eymael (DC), Cabo Daciolo (Patriota), Vera Lúcia (PSTU) e João Goulart Filho (PPL), que juntos somam 7% de intenções de voto, precisam se manifestar claramente em defesa da democracia, pois será a única saída que os tornará maiores do que entraram nesta campanha.
Reafirmar os valores soberanos da democracia deve ser a batalha principal de todos os candidatos a presidente que têm compromisso com o Brasil. Não há saída sem democracia.
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