China, Alemanha e Argentina, grandes parceiros comerciais do Brasil, observam Bolsonaro com preocupação
Da Redação
A expectativa de que Jair Bolsonaro fará um governo extremista de direita, pró Estados Unidos e Israel, causa preocupação nas chancelarias de alguns dos maiores parceiros comerciais do Brasil.
O intercâmbio comercial com a China foi de U$ 70 bilhões em 2017, com superávit de U$ 20 bi para o Brasil.
Porém, Bolsonaro visitou Taiwan em março passado, o que pode ter sido interpretado como “provocação” pelos chineses.
O ativismo radical de Bolsonaro contra a Venezuela, se mantido, também pode impactar as relações com os chineses, que recentemente concederam uma linha de crédito de U$ 5 bi ao governo Maduro.
Um dos objetivos explícitos dos Estados Unidos, desde que o ex-presidente Barack Obama anunciou seu “giro” diplomático em direção à Ásia, é a contenção da China.
Beijing investiu fortemente na África e na América do Sul nos últimos anos. Com o Brasil, a Rússia, a Índia e a África do Sul, tentou defender um projeto de mundo multipolar através dos BRICs.
Donald Trump, ao conversar com Bolsonaro depois que o neofascista foi eleito, propôs o estreitamento das relações militares entre os dois paises — ao longo dos governos Lula e Dilma, a estratégia brasileira foi obter tecnologia de países como a França (submarino atômico) e a Suécia (caças).
Uma relação especial entre Washington e Brasília, sob Bolsonaro, seria recebida com grande desconfiança pelos vizinhos latinoamericanos.
A decisão de Bolsonaro de visitar primeiro o Chile, deixando a Argentina em segundo plano, causou constrangimento em Buenos Aires.
O futuro superministro Paulo Guedes destratou uma repórter do diário conservador Claríndurante a entrevista em que disse que o Mercosul não é prioritário.
Vinte por cento das exportações da Argentina são para o Brasil.
Bolsonaro é crítico de supostas vantagens que o Brasil teria concedido a vizinhos. O ex-chanceler Celso Amorim sempre sustentou que o país deveria considerar a assimetria em sua relação com os vizinhos.
Trump talvez tenha inspirado Bolsonaro: ela já se desentendeu abertamente com líderes do México e do Canadá, tendo como um dos objetivos renegociar alguns aspectos do acordo comercial de “livre comércio”.
O ocupante da Casa Branca tem como um dos eixos de seu discurso para o público interno que outras nações “tiram proveito dos Estados Unidos”, o que ele promete enfrentar.
Bolsonaro, para uso na campanha eleitoral, atacou a política externa do PT como “ideológica”, como se o país tivesse concedido vantagens inaceitáveis a países como a Bolívia, a Venezuela e Cuba.
Também na Alemanha, informa a Deutsche Welle, a reação à eleição de Bolsonaro foi contida.
Não houve felicitações nem grandes promessas: apenas a afirmação de que o Brasil é um parceiro de particular importância (10% do PIB industrial brasileiro vem de empresas alemãs) e de que, respeitados os valores comuns, as trocas continuarão amigáveis e estreitas.
Na segunda-feira, em Berlim, o porta-voz da chanceler federal Angela Merkel, Steffen Seibert, disse que a Alemanha pretende cooperar com o próximo governo e medi-lo pelos seus atos após a posse, embora veja com preocupação as declarações dadas por Bolsonaro ao longo da campanha.
Entre a diplomacia em Berlim, a ideia é deixar o governo Bolsonaro numa espécie de quarentena: esperar alguns meses para ver o que, de fato, das promessas mais polêmicas pode virar realidade, antes de levar qualquer troca diplomática a um nível mais intenso que o normal.
O fato de que Bolsonaro escolheu Israel como um dos destinos da primeira viagem também é visto com preocupação por empresários brasileiros e diplomatas do Oriente Médio.
O Brasil é grande exportador de proteína animal para a região e o Itamaraty sempre manteve uma postura equilibrada no conflito entre Israel e os árabes, particularmente os palestinos.
De longe, a reação mais dura contra Bolsonaro foi a chinesa, embora tenha sido expressa de forma oblíqua.
O jornal estatal China Daily, espécie de braço de relações públicas controlado pelo Partido Comunista chinês, dedicou um editorial a Bolsonaro chamado “Não há razão para que o ‘Trump Tropical’ revolucione (disrupt) as relações com a China”. O texto afirma que Bolsonaro foi “menos que amigável” na campanha – o brasileiro já defendeu que a China não compra no Brasil, mas “o Brasil”. Os chineses cobram que, como presidente, Bolsonaro aplique uma avaliação “objetiva e racional” das relações porque, do contrário, “o custo pode ser árduo para a economia brasileira”.
Em agosto passado, quando chefe do Pentágono visitou o Brasil como parte de um giro pelo continente, um subordinado dele foi muito claro.
Sergio de la Peña, subsecretário adjunto de Defesa para Assuntos do Hemisfério Ocidental, afirmou a jornalistas:
Estamos preocupados que a China tem uma maneira de fazer negócios que não necessariamente responde da melhor forma possível aos interesses dos nossos parceiros no hemisfério.
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