Superministro Moro, que denunciou caixa dois como “crime contra a democracia”, atuaria no governo ao lado de Onyx, que admitiu caixa dois; Malafaia, indiciado, elogia escolha
O convite de Bolsonaro a Moro é manobra política perfeita: leva o juiz para o governo, congela a Lava Jato e “estanca a sangria” como desejava Romero Jucá. O mérito é de líderes do Centrão. É o novo Plano de Combate à Corrupção. Ricardo Noblat, no twitter
Da Redação
O assunto do momento é a indicação — e provável aceitação — do juiz Sergio Moro para um superministério do governo Bolsonaro.
“A pasta vai somar as estruturas da Justiça, Segurança Pública, Transparência e Controladoria-Geral da União e o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), este último hoje ligado ao ministério da Fazenda”, informou a Folha.
O juiz de primeira instância seria transformado em uma espécie de xerife de alcance nacional.
Para o jornalista Ricardo Noblat, foi uma “manobra política perfeita”, por congelar a Operação Lava Jato.
“Eu acho que vai ser um gol de placa se o Moro for ministro ou se for pro STF. É o cara, um símbolo da luta contra a corrupção, do anseio do brasileiro que quer ver justiça, quer ver as coisas certas. Eu acho que é um golaço”, reagiu o pastor Silas Malafaia depois de uma visita ao presidente eleito esta tarde.
Malafaia já recebeu a visita de Bolsonaro na sede da Assembleia de Deus da Penha, no Rio de Janeiro.
O pastor foi indiciado pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro na Operação Timóteo. Foi alvo de busca e apreensão.
Quando seus advogados tentaram trancar a ação no STJ, a Procuradoria Geral da República recomendou que as investigações fossem aprofundadas, já que Malafaia “foi beneficiário de vultosos recursos oriundos de um dos principais investigados”.
Malafaia é suspeito de fazer parte do núcleo colaborador da quadrilha “que, conforme os policiais, era responsável por auxiliar na ocultação e dissimulação do dinheiro desviado. Entre os integrantes desse núcleo, diz a PF, está Malafaia, que recebeu dinheiro do principal escritório de advocacia responsável pelo esquema. A PF apura se ele emprestou contas bancárias da instituição que ele comanda para ocultar a origem supostamente ilícita do dinheiro”, informou o G1.
O pastor diz que recebeu um cheque de 100 mil reais “de um membro da igreja do meu amigo pastor Michael Abud”.
Duas indicações de Jair Bolsonaro já suscitaram críticas de seus próprios apoiadores.
Em vídeo, o neofascista disse que pretendia indicar o deputado Alberto Fraga, do DEM, para coordenar sua bancada no Congresso.
Fraga é coronel da reserva da Polícia Militar e lidera a Frente Parlamentar da Segurança Pública.
A chamada “bancada da bala” foi essencial para eleger Bolsonaro e espera, como recompensa, liberar a posse e o porte de armas no Brasil.
Fraga foi condenado em primeira instância a 4 anos, 2 meses e 20 dias de prisão.
“De acordo com o Ministério Público, o crime foi cometido em 2008, quando Alberto Fraga era secretário de Transportes do governo de José Roberto Arruda (PR). A denúncia diz que o secretário pediu – e recebeu – R$ 350 mil para firmar um contrato entre o governo e a cooperativa de ônibus Coopertran”, diz o G1.
Ele diz que a condenação foi “política” e está recorrendo.
Bolsonaro negou pelo twitter que Fraga será indicado ministro, mas confirmou na Casa Civil o deputado Onyx Lorenzoni, do DEM.
Em 2014, Lorenzoni recebeu R$ 200 mil em doações eleitorais da Forjas Taurus e da CBC, a Companhia Brasileira de Cartuchos. À época, as contribuições de empresas a candidatos ainda eram legais.
Quando estourou o escândalo da JBS, Lorenzoni admitiu ter recebido R$ 100 mil “por fora” da empresa, ou seja admitiu publicamente ter praticado “caixa dois”.
Se Moro aceitar o superministério de Bolsonaro, vai conviver com Lorenzoni.
Em abril de 2017, numa palestra em Cambridge, nos Estados Unidos, Moro afirmou, segundo O Globo:
— Temos que falar a verdade, a Caixa 2 nas eleições é trapaça, é um crime contra a democracia. Me causa espécie quando alguns sugerem fazer uma distinção entre a corrupção para fins de enriquecimento ilícito e a corrupção para fins de financiamento ilícito de campanha eleitoral. Para mim a corrupção para financiamento de campanha é pior que para o enriquecimento ilícito. Se eu peguei essa propina e coloquei em uma conta na suíça, isso é um crime, mas esse dinheiro está lá, não está mais fazendo mal a ninguém naquele momento. Agora, se eu utilizo para ganhar uma eleição, para trapacear uma eleição, isso para mim é terrível. Eu não estou me referindo a nenhuma campanha eleitoral específica, estou falando em geral.
Por fim, a possível indicação de Moro para um superministério de Bolsonaro suscita críticas de que ele está recebendo “pagamento” por ter afastado o ex-presidente Lula das eleições de 2018.
Desde que teve início a Operação Lava Jato, o juiz responsável pelas ações contra o ex-presidente tomou decisões polêmicas que prejudicaram eleitoralmente o PT — a mais recente delas, ao tornar públicos trechos da delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci, faltando seis dias para o primeiro turno.
“A conduta adotada hoje pelo juiz Sérgio Moro apenas reforça o caráter político dos processos e da condenação injusta imposta ao ex-presidente Lula”, denunciou à época a defesa de Lula.
“Moro divulga para imprensa parte da delação de Palocci. Não podia deixar de participar do processo eleitoral! A ação política é da sua natureza como juiz”, escreveu a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, no twitter.
Para o experiente jornalista político Ricardo Noblat, o objetivo de Bolsonaro ao nomear Moro é congelar a Operação Lava Jato, que teria o potencial de atingir políticos de sua por enquanto frágil base no Congresso.
“É o novo Plano de Combate à Corrupção”, escreveu, usando palavras que remetem à sigla PCC. Teria sido urdido pelo Centrão, que tem muitos políticos enrolados na própria Lava Jato.
Mas o xerife Moro, com amplos poderes, pode simplesmente concentrar a Polícia Federal e outros órgãos do governo na perseguição a políticos do PT.
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