Nova carta aos brizolistas: nossa dignidade não entra em férias
Os amigos do PDT que – mesmo com minha saída, em 2013, sabem que nunca fui um ingrato com o partido em que militei quase toda a minha vida adulta, por 32 anos – sabem que nunca fiz desta tribuna um degrau para atacá-lo.
Também não vão encontrar aqui, ao longo de 12 mil postagens, diatribes contra os dirigentes que o herdaram, mais por ousadia que por mérito, de Leonel Brizola.
Por mais que divergisse – e divergia muito – do que faziam, sempre respeitei o fato de manterem o partido vivo e, basicamente, na linha progressista que sempre tomou, quase sempre.
Não sou herdeiro político de Leonel Brizola, longe de mim a tola pretensão, mas creio ter conhecido e absorvido boa parte de seu pensamento conclusivo, nos 22 anos que privei ao seu lado, desde os dias de protagonismo aos de ocaso e, afinal, ao dia de sua morte.
Busco ser digno, todos os dias, do privilégio que a história me deu.
Não sou o único a fazer isso, mas tenho deveres maiores, pela visibilidade que este blog alcançou ostentando no título uma marca que é de Brizola.
Brizola era um combatente de peito aberto, jamais um sorrateiro. Um ousado, jamais um dissimulado.
“Brito, nós jogamos damas, não jogamos xadrez”; “Eu uso as palavras para explicar, não para dissimular”, duas das frases que me queimam a memória para revelar o homem que, com todo o direito de ter urdido, nos 15 anos de dolorido exílio, os planos para empalmar o poder por armadilhas, sempre escolheu o combate franco por suas ideias.
Leio hoje que Carlos Lupi, que todos os méritos tem por ser um operador político, diz que não entrará de cabeça na campanha do candidato a quem dá “apoio crítico”, Fernando Haddad, porque pretende que “no dia 29 a gente já vai para a rua preparar a campanha do Ciro para 2022”.
Espero que isso seja falso, por várias razões.
A primeira delas por ser uma afirmação imbecil politicamente, porque aparta o partido do processo social e trata a possível eleição de daqui a quatro anos (sim, apenas possível, porque entraremos, com Bolsonaro, num período autoritário) como motivo de uma traição ao dever patriótico de evitar que o Brasil caia nas mãos de um governo de exceção e anti-nacional.
Recusa o combate político em nome de achar-se apto, futuramente, a reinar sobre a terra arrasada.
Sei que não é esta a natureza dos remanescentes do PDT brizolista, a quem conheço bem.
Não lhes peço que abandonem a legenda que a todos nós – como dói romper este vínculo – incorporou-se quase como um sobrenome.
Imagine se, agora, um de nossos grandes, se um Brizola, se um Darcy, ou Doutel de Andrade, ou se um Francisco Julião, diriam que iam “se preparar para 2022” em plena batalha antifascista?
Nós somos a memória histórica que se renova a cada dia, segundo nossos atos. 2022 será o que fizermos em 2021, em 2020, em 2019 e, sobretudo, o que fizermos agora.
Fora do partido já há cinco anos, não tenho legitimidade para mais que isso, embora tenha, talvez, mais do aqueles que estão nele há tão pouco tempo e já conspurcam seu nome aderindo a Jair Bolsonaro, como alguns a quem se emprestou a legenda fazem.
Ou, mesmos evidentemente, omitindo-se do combate.
Devo muito a Leonel Brizola e a nada devo mais do que à sua coerência e coragem.
Incoerência e covardia, a esta altura, seriam vilipendiar esta herança.
Jamais o farei e sei que jamais os brizolistas farão.
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