quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Ao mesmo tempo em que fustigava Lula e o PT, Moro já recebia acenos de Bolsonaro

Ao mesmo tempo em que fustigava Lula e o PT, Moro já recebia acenos de Bolsonaro. Por Joaquim de Carvalho

 
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Um ano antes da eleição, Jair Bolsonaro prometeu um benefício a Sergio Moro caso se elegesse presidente.
Em entrevista ao site de extrema-direita O Antatonista, Moro foi perguntado sobre a indicação do juiz ao Supremo Tribunal Federal:
— O próximo presidente vai poder indicar três ministros (na verdade, dois, pelo critério da aposentadoria compulsória). O senhor indicaria o Sergio Moro? — pergunta o repórter.
— Está na lista — responde o então pré-candidato (veja o vídeo abaixo).
Moro havia condenado Lula três meses antes, no processo do triplex do Guarujá, em uma sentença que mais de 100 juristas — sem nenhum vínculo com o PT — dizem ser inconsistente.
Lula foi condenado em um processo sem provas e por “ator indeterminados”, o que contraria frontalmente a legislação penal, conforme está narrado no livro “Crônica de uma sentença anunciada”.
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Hoje, ao tomar conhecimento de que Moro fará parte do governo de Jair Bolsonaro, uma das organizadoras da obra, a professora da UFRJ Carol Proner, se manifestou no Twitter:
“Moro ministro é a prova da sentença anunciada”.
Por atos indeterminados, qualquer um de nós pode ser condenado.
O que fazer ou não fazer para afastar o risco de ser alcançado pela justiça?
Depois da sentença de Moro, fica difícil saber.
A sentença foi apenas um dos atitudes suspeitas do juiz, que tiveram como consequência óbvia a tentativa de desgaste da imagem de Lula.
Foi Moro quem, em março de 2016, mandou conduzir Lula coercitivamente para depor, sem que o ex-presidente tivesse se recusado a comparecer à justiça.
Pelo contrário.
O ex-presidente já havia prestado depoimento na justiça estadual de São Paulo.
Pouco depois, Moro divulgou para o Jornal Nacional as escutas telefônicas de Lula, que não revelaram nenhum crime, mas perturbaram seriamente o ambiente político.
E criaram o cenário propício para a derrubada de Dilma Rousseff da presidência da república.
Em maio de 2017, Moro gravou um vídeo em que se dirigiu a seus seguidores, para pedir que não fossem a Curitiba para acompanhar o depoimento de Lula. Mais uma evidência de que agia como político, não como magistrado.
Quando o Supremo Tribunal Federal negou habeas corpus ao ex-presidente, em decisão apertadíssima, em abril de 2018, Moro telefonou para o então diretor da PF para pressioná-lo no sentido de realizar logo a prisão.
Em julho, quando um desembargador do Tribunal Regional Federal concedeu habeas corpus a Lula, Moro interrompeu suas férias para dar um ordem no sentido de que o medida não fosse cumprida.
Na véspera do primeiro turno das eleições, Moro tornou público um dos depoimentos do ex-ministro Antonio Palocci, no acordo de delação premiada, com evidente desgaste na campanha de Fernando Haddad, o candidato de Lula.
São muitas as ações de Moro que desequilibraram a disputa política e pavimentaram o caminho que levou Bolsonaro ao Planalto.
O escândalo dentro do escândalo é que, ao mesmo tempo que, consciente ou inconscientemente, dava a sua contribuição para a campanha de Bolsonaro, Moro já sabia que poderia fazer parte do futuro governo.
Segundo o vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, o futuro ministro da economia, Paulo Guedes, foi quem sondou Moro.
“Isso já faz tempo, durante a campanha foi feito contato”, disse, segundo registro da Folha de S. Paulo.
Desde 2016, o DCM tem feito reportagens para mostrar a parcialidade do juiz.
Na série “Lava Jato — das origens à perseguição a Lula”, contamos como o processo, iniciado em 2006, se transformou num instrumento político.
No final de 2017, relatamos detalhes do que pode ser entendido como a indústria da delação premiada, isto é, depoimentos que, ao mesmo tempo que ajudavam no enredo para fustigar Lula e o PT, proporcionavam ganhos elevados a advogados, muitos deles do círculo próximo de Moro.
Em muitas de suas manifestações, Moro deu pistas de que pensava e agia como político.
Por exemplo, quando teve sua isenção questionada, se comparou a Lula, ao falar das fotos públicas dele com João Doria, adversário do ex-presidente.
Na verdade, as fotos com Doria eram apenas um detalhe, na reclamação de que Moro não poderia atuar em processos da Petrobras, já que a palestra realizada por ele em Nova York, organizada por uma empresa de Doria, tinha o patrocínio de escritório de advocacia contratado pela estatal brasileira.
“Pessoas tiram fotos em eventos públicos ou sociais e é possível encontrar, na rede mundial de computadores, dezenas de fotos até mesmo do Excipiente (Lula) com políticos oposicionistas, o que também não significa que, por conta da foto, eram ou se tornaram aliados políticos”, escreveu, em um despacho de maio deste ano.
O escritor Tom Wolfe, autor de “A Fogueira das Vaidades”, ao falar dos jornalistas, disse:
“Só existem duas maneiras de fazer carreira em jornalismo. Construindo uma boa reputação ou destruindo uma”
Com a entrada de Moro no Ministério, a frase poderia ser atualizada: o caminho mais curto para um juiz chegar ao poder política é tentando destruir uma biografia.
No caso, a de Lula.
Foi a oposição a Lula e a tudo que ele representa que levou Sergio Moro a se tornar aquele que deve ser o ministro mais forte de Bolsonaro, ao lado de Paulo Guedes.
Com os acenos de Bolsonaro, ainda na pré-campanha, Moro certamente já sabia que poderia chegar lá.
Teria sido um toma lá, dá cá?
.x.x.x.
Abaixo o vídeo em que Moro anuncia, ainda na pré-campanha, que cogitava nomear Moro para o Supremo:
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