08/08/2016 15:38 - Copyleft
Leonardo BoffDe tempos em tempos a plutocracia tenta um golpe
A plutocracia brasileira usa o mesmo recurso farisaico do moralismo e do combate à corrupção para ocultar a própria corrupção e dar um golpe na democracia
A plutocracia brasileira (os 71.440 mil milhardários segundo o IPEA) possui pouca fantasia. Usa os mesmos métodos, a mesma linguagem, o mesmo recurso farisaico do moralismo e do combate à corrupção para ocultar a própria corrupção e dar um golpe na democracia e assim salvaguardar seus privilégios. Sempre que emerge uma democracia com abertura ao social se enchem de medo. Organizam um concluio de forças que envolve setores da política, do judiciário, do MPF, da PF e principalmente da imprensa conservadora e até reacionária como é o caso do conglomerado de O Globo. Assim fizeram com Vargas, com Jango e agora com Lula-Dilma.
Numa entrevista à Folha de São Paulo (24/04/2016) escreveu acertamente Jessé Souza, autor de um livro que merece ser lido, também com certa crítica, “A tolice da inteligência brasileira”(Leya 2015):”Nossa elite do dinheiro nunca sentiu compromisso com os destinos do país. O Brasil é palco de uma disputa entre esses dois projetos: o sonho de um país grande e pujante para a maioria; e a realidade de uma elite da rapina que quer drenar o trabalho de todos e saquear as riquezas do país para o bolso de meia dúzia. A elite do dinheiromanda pelo simples fato de poder "comprar" todas as outras elites”(Quem deu o golpe e contra quem).
No atual processo de impeachment à Presidenta Dilma contam com um aliado poderoso: o complexo jurídico-policial do Estado que substitui as baionetas. O vice Presidente usurpou o título de Presidente e montou um ministério de pantomima com vários ministros corruptos e reduzindo os ministérios da cultura, da comunicação e da secretaria dos direitos humanos, dos negros e das mulheres, cortando de forma criminosa verbas da saúde, da educação, atacando os direitos dos trabalhadores, o salário mínimo, a legislação trabalhista, as aposentadorias e outros benefícios sociais, inagurados pelos dois mandatos anteriores.
Por trás do golpe parlamentar estão estas forças citadas por Jessé Souza. Bem disse o Papa Francisco à Letícia Sabatella quando junto com uma famosa jurista teve, há dois meses, um encontro com o Papa em Roma, relatando a ameaça que corre a democracia brasileira. O Papa comentou:”esse golpe vem dos capitalistas”.
O fato é que estamos todos cansados de tanta corrupção, justamente denunciada e das delongas no processo do impeachment.
Ninguém sabe para onde estamos indo. Algo parece ficar claro que o design social, montado a partir do colonialismo e do escravagismo com as castas de endinheirados que se firmaram no poder seja na sociedade seja nos aparatos do Estado está chegando ao seu fim.
Em momentos de obscuridade como os atuais precisamos de uma grelha teórica mínima que nos traga luz e alguma esperança. Para mim serve como orientação Arnold Toynbee, o ultimo historiador inglês a escrever dez volumes sobre a história das civilizações. Para explicar o nascimento, o desenvolvimento, a maturação e a decadência de uma civilização usa uma chave extremamente simples mas esclarecedora:”o desafio e a resposta”(challenge and response).
Diz Toynbee: sempre há crises fundamentais no interior das civilizações. São desafios que exigem uma resposta. Se o desafio for maior do que a capacidade de resposta, a civilização entra num processo de colapso. Se a resposta for excessiva face ao desafio, surge a arrogância e o uso abusivo do poder. O ideal é encontrar uma equação de equilíbrio entre o desafio e a resposta de forma que a civilização mantenha a sua coesão, enfrente positivamente novos desafios e prospere.
Voltando ao caso do Brasil. Os grupos do dinheiro e do poder não conseguem dar uma resposta ao desafio que vem das bases que nos últimos anos cresceram enormemente em consciência e em reclamos de direitos. Eles, por mais que manipulem dados, sabem que dificilmente voltarão ao poder central pela via da eleição. Daí a razão do golpe. Desmoralizados, não têm nada a oferecer ao novo Brasil que escapa de seu controle.
O legado da atual crise será provavelmente o surgimento de um outro tipo de Brasil, de democracia, de Estado, de formas de participação popular.
A dores do tempo presente não são as dores de um moribundo nas vascas da morte, mas as dores de um parto de um outro tipo de Brasil, mais democrático, mais participativo e mais sensível para superar a pior chaga que nos envergonha: a abissal desigualdade social. Um Brasil finalmente mais humano onde podemos ser singelamente felizes.
Leonardo Boff é articulista do JB on line e autor de “Depois de 500 anos que Brasil queremos”, Vozes 2000.
Numa entrevista à Folha de São Paulo (24/04/2016) escreveu acertamente Jessé Souza, autor de um livro que merece ser lido, também com certa crítica, “A tolice da inteligência brasileira”(Leya 2015):”Nossa elite do dinheiro nunca sentiu compromisso com os destinos do país. O Brasil é palco de uma disputa entre esses dois projetos: o sonho de um país grande e pujante para a maioria; e a realidade de uma elite da rapina que quer drenar o trabalho de todos e saquear as riquezas do país para o bolso de meia dúzia. A elite do dinheiromanda pelo simples fato de poder "comprar" todas as outras elites”(Quem deu o golpe e contra quem).
No atual processo de impeachment à Presidenta Dilma contam com um aliado poderoso: o complexo jurídico-policial do Estado que substitui as baionetas. O vice Presidente usurpou o título de Presidente e montou um ministério de pantomima com vários ministros corruptos e reduzindo os ministérios da cultura, da comunicação e da secretaria dos direitos humanos, dos negros e das mulheres, cortando de forma criminosa verbas da saúde, da educação, atacando os direitos dos trabalhadores, o salário mínimo, a legislação trabalhista, as aposentadorias e outros benefícios sociais, inagurados pelos dois mandatos anteriores.
Por trás do golpe parlamentar estão estas forças citadas por Jessé Souza. Bem disse o Papa Francisco à Letícia Sabatella quando junto com uma famosa jurista teve, há dois meses, um encontro com o Papa em Roma, relatando a ameaça que corre a democracia brasileira. O Papa comentou:”esse golpe vem dos capitalistas”.
O fato é que estamos todos cansados de tanta corrupção, justamente denunciada e das delongas no processo do impeachment.
Ninguém sabe para onde estamos indo. Algo parece ficar claro que o design social, montado a partir do colonialismo e do escravagismo com as castas de endinheirados que se firmaram no poder seja na sociedade seja nos aparatos do Estado está chegando ao seu fim.
Em momentos de obscuridade como os atuais precisamos de uma grelha teórica mínima que nos traga luz e alguma esperança. Para mim serve como orientação Arnold Toynbee, o ultimo historiador inglês a escrever dez volumes sobre a história das civilizações. Para explicar o nascimento, o desenvolvimento, a maturação e a decadência de uma civilização usa uma chave extremamente simples mas esclarecedora:”o desafio e a resposta”(challenge and response).
Diz Toynbee: sempre há crises fundamentais no interior das civilizações. São desafios que exigem uma resposta. Se o desafio for maior do que a capacidade de resposta, a civilização entra num processo de colapso. Se a resposta for excessiva face ao desafio, surge a arrogância e o uso abusivo do poder. O ideal é encontrar uma equação de equilíbrio entre o desafio e a resposta de forma que a civilização mantenha a sua coesão, enfrente positivamente novos desafios e prospere.
Voltando ao caso do Brasil. Os grupos do dinheiro e do poder não conseguem dar uma resposta ao desafio que vem das bases que nos últimos anos cresceram enormemente em consciência e em reclamos de direitos. Eles, por mais que manipulem dados, sabem que dificilmente voltarão ao poder central pela via da eleição. Daí a razão do golpe. Desmoralizados, não têm nada a oferecer ao novo Brasil que escapa de seu controle.
O legado da atual crise será provavelmente o surgimento de um outro tipo de Brasil, de democracia, de Estado, de formas de participação popular.
A dores do tempo presente não são as dores de um moribundo nas vascas da morte, mas as dores de um parto de um outro tipo de Brasil, mais democrático, mais participativo e mais sensível para superar a pior chaga que nos envergonha: a abissal desigualdade social. Um Brasil finalmente mais humano onde podemos ser singelamente felizes.
Leonardo Boff é articulista do JB on line e autor de “Depois de 500 anos que Brasil queremos”, Vozes 2000.
Créditos da foto: reprodução
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