quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Matéria do The Washington Post sobre a noite de reabertura do Canecão


Tradução da matéria do The Washington Post sobre a noite de reabertura do Canecão.
Tradução de Letícia Gelabert para a OcupaMinc-RJ
Quando Londres foi o palco da cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de 2012, uma das estrelas na cerimônia apresentando músicos e atores brasileiros foi o rapper carioca BNegão. Mas ele não se apresentará na cerimônia da abertura oficial dos Jogos Olímpicos Rio 2016 nesta sexta-feira.
Ao contrário, o rapper, cujo verdadeiro nome é Bernardo Santos, foi uma das estrelas da música brasileira que apareceu em um show político, na quinta-feira, encenado por manifestantes que ocupam uma casa de shows cavernosa, abandonada chamado Canecão. Eles nomearam o evento com um trava-língua "Cerimônia- Festa- Ato Olímpico de Re-existência.''
"Este é a anti-Olimpíadas", disse Santos, 42. Ele atacou os jogos oficiais por julgar terem sido feitos através de contratos super faturados de empreiteiras e através da remoção de comunidades de baixa renda chamadas favelas - particularmente a Vila Autódromo, ao lado do Parque Olímpico, onde os poucas casas sobreviventes foram demolidas na semana passada.
O evento gratuito foi o último de uma série de protestos contra um dos Jogos Olímpicos mais impopulares na memória recente. Algumas demonstrações bloquearam o curso da tocha olímpica e tentaram apagá-la com extintores de incêndio e baldes de água. Mais ações estão planejadas para a Cerimônia de Abertura de sexta-feira.
Durante o ensaio desta semana, para a cerimônia de abertura oficial, houve um ensaio controverso em que a supermodel loira, de olhos azuis, Gisele Bündchen protegia um ator negro, criança, de oficiais de segurança que pensavam que ele era um ladrão. O ensaio foi atacado por reforçar estereótipos raciais e depois retirado da cerimônia.
Enquanto isso, a abertura no Canecão contou com Chico Buarque - que é considerado um dos maiores músicos de todos os tempos do Brasil - chutando uma bola de futebol para fora do palco e cantando seu clássico "Apesar de Você", um ataque à censura e que foi proibido nas rádios durante a ditadura militar no Brasil .
O contraste mostrou como os artistas, intelectuais, sindicalistas e ativistas de esquerda do Brasil vêem estes Jogos Olímpicos.
"Os Jogos Olímpicos poderiam ser realmente bons se fossem mais inclusivos", disse o ator, comediante e colunista de jornal Gregório Duvivier, que falou durante o show. "Eles não são democráticos."
Os primeiros Jogos Olímpicos na América do Sul foram defendidos pelo popular e carismático ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, que ajudou a Rio a ganhar a votação para sediar os Jogos em 2009. Os críticos argumentam que eles tornaram-se manchados pela associação com poderosos especuladores imobiliários, e pelo fato dos preços dos ingressos excluirem o Rio dos pobres.
"Um evento como este cria uma ilha na sociedade. É uma elite e um grupo de estrangeiros ", disse Laio Rocha, 23, um dos cerca de 40 ativistas que dorme em barracas de camping em um dos lados do Canecão e que faz parte da" ocupação ". Eles criaram uma ilha de laptops no meio do edifício onde ativistas estavam atualizando a página do Facebook do movimento, perto das áreas restritas onde o entulho foi empilhado. Uma jovem vestida como Batman limpava um piso do vazamento nos banheiros unissex.
O Canecão foi palco para shows de grandes artistas brasileiros, como Chico Buarque, durante décadas, mas foi fechado em 2010 e está vazio desde então.
Ocupantes dizem que não vão sair até impopular presidente interino do Brasil Michel Temer deixar o cargo. Eles acreditam que o presidente interino forçou a suspensão da sucessora de Lula, Dilma Rousseff, por um processo de impeachment que eles consideram uma farsa e estão chamando de "golpe de Estado".
"Fora, Temer!", foi o grito de guerra da noite, cantado, estampado em camisetas e rabiscado pelo Canecão pelo público, jovem, em grande parte de classe média, que agitava todas as performances e discursos políticos.
"Este governo, instalado em um golpe, está capitalizando sobre as Olimpíadas porque não tem legitimidade", disse Bruno Falci, 32. "Isso é uma mentira."
Embora Rousseff tenha sido destituída um ano e meio depois de ter ganho a reeleição por uma margem estreita de votos e sob a acusação de que manipulou contas públicas para esconder gastos, o processo de impeachment do Brasil também tem sido uma benção inesperada para a esquerda e para o Partido dos Trabalhadores fundado por Lula.
A deposição de uma presidente democraticamente eleita, em um processo que muitos consideram ser composto por falsas acusações, fomentou uma frouxa aliança entre grupos feministas, grupos indígenas, sindicatos, intelectuais, ativistas dos direitos gays e manifestantes dos direitos dos negros a sairem em apoio à ela. Isto tem dado um novo impulso, um foco e uma causa à esquerda, e agregou novos adeptos e jovens, muitos dos quais estavam no Canecão.
"Um amigo da minha mãe nos convidou", disse Luisa Mateille, 18, que estava com a amiga Maria Luiza Cordeiro, 16. "É muito político. É Fora, Temer. "
Mateille descreveu o vice-presidente, que usa o cabelo penteado para trás e foi apelidado de "O Mordomo," como um personagem de filme de terror. "Este vampiro", ela disse, "ele quer sugar a consciência das pessoas."
A ocupação é parte de um movimento nacional criado pela comunidade artística do Brasil quando Temer fechou o Ministério da Cultura e o incorporou no Ministério da Educação. Um grupos de artistas, intelectuais, músicos e produtores ocuparam os prédios do ministério em todo o Brasil em protesto.
No Rio o grupo ocupou um palácio vazio e sede do ministério, então extinto, e fizeram do seu pátio um local para shows, exposições e debates. Em 25 de julho, 73 dias depois da ocupação, eles foram expulsos pela polícia - um movimento que eles viam como uma limpeza pré-olímpica. Dias depois, eles assumiram o Canecão.
Falci disse que ocupações como estas são as equivalentes, no Brasil, ao movimento Occupy Wall Street nos Estados Unidos.
A abertura alternativa também contou com cientistas e pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz - uma instituição de ponta de pesquisa do governo conhecida como Fiocruz. Eles entraram no palco segurando uma faixa que denunciou o "golpe" e os planos do governo para cortar gastos em serviços públicos da saúde, já precária, do Brasil.
Os cientistas disseram que também estavam contra os Jogos Olímpicos.
"É um momento muito infeliz", disse Marcio Boia, 62, um pesquisador em doenças infecciosas. "Há um golpe - e eles estão destruindo o serviço de saúde."
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Rio’s alternative opening ceremony showcases the left’s anger over the Olympics

  

Activists protest the Summer Olympics, calling them a symbol of corruption and mismanagement in Brazil as well as the domination of the wealthy. (Leo Correa/AP)

RIO DE JANEIRO — When London staged the closing ceremony of its 2012 Olympics, one of the stars in the handover featuring Brazilian musicians and celebrities was Rio rapper BNegão. But he won’t be playing Friday’s official opening ceremonies for his hometown's 2016 games.
Instead the rapper, whose real name is Bernardo Santos, was one of the Brazilian music stars appearing at a political concert staged on Thursday by demonstrators occupying a cavernous, abandoned concert hall called the Canecão — or "Big Saucer."
They named the event a tongue-twisting "Ceremony-Party-Act of Olympic Re-existence.’’
“This is the anti-Olympics,” said Santos, 42. He attacked the official games for alleged, over-inflated construction contracts and the removal of lower-income communities called favelas — particularly Vila Autodromo, beside the Olympic Park, where the few surviving houses were demolished last weekend.
The free event was the latest in a series of protests against one of the most unpopular Olympic Games in recent memory. Some demonstrations have blocked the Olympic torch’s progress and attempted to put it out with fire extinguishers and buckets of water. More actions are planned ahead of Friday’s Opening Ceremonies.
During the rehearsal this week for the official Opening Ceremonies, there was a controversial sketch in which blonde-haired, blue-eyed supermodel Gisele Bündchen protected a young black actor from security officials who thought he was a thief. The sketch was attacked for reinforcing racial stereotypes and later pulled.
Meanwhile, the opening at the Big Saucer featured Chico Buarque, regarded as one of Brazil’s greatest ever musicians, kicking a football off the stage and singing his classic "Apesar de Você," an attack on censorship that was banned from radios during Brazil’s military dictatorship.
The contrast spoke volumes about how the artists, intellectuals, unionists and activists on Brazil’s left see these Olympics.
“The Olympic Games could be really good if they were more inclusive,” said actor, comedian and newspaper columnist Gregorio Duvivier, who spoke at the show. “They are not democratic.”
South America’s first Olympics were championed by Brazil’s popular and charismatic former president Luiz Inácio Lula da Silva, or Lula, who helped Rio win its bid in 2009. Critics argue they have become tainted by association with powerful real estate developers, and the ticket prices exclude Rio’s poor.
“An event like this creates an island in society. It is an elite and a group of foreigners,” said Laio Rocha, 23, one of around 40 activists sleeping in tents on one side of the concert hall as part of the "occupation." They had set up a bank of laptops in the middle of the building where activists were updating the movement's Facebook page near sealed off areas where building rubble was piled up. A young woman dressed as Batman mopped a leaking floor in the unisex bathrooms.

Luciana Servulo joined hundreds gathered to see Brazilian music stars and political speeches at a free event dubbed the Alternative Olympic Opening Ceremonies on Thursday in Rio de Janeiro. ( Jonathan Newton / The Washington Post)
The Big Saucer hosted shows by great Brazilian artists like Buarque for decades, but it was closed in 2010 and has been empty ever since.
Occupiers say they will not leave until Brazil’s unpopular interim president Michel Temer leaves office. They believe he forced the suspension of Lula’s successor, Dilma Rousseff, by an impeachment trial they regard as a farce and are calling a "coup d’etat."
“Temer out!” was the rallying cry of the night, chanted, emblazoned on T-shirts and scrawled on signs the young, largely middle class audience waved throughout performances and political speeches.
“This government, installed in a coup, is capitalizing on the Olympics because it has no legitimacy,” said Bruno Falci, 32. “This is a lie.”
Although it unseated Rousseff a year and a half after she narrowly won reelection on charges that she manipulated public accounts to hide spending, Brazil’s impeachment process has also been an unexpected boon for the left and the Workers’ Party Lula founded.
The ouster of a democratically elected president on what many consider spurious charges prompted a loose alliance of feminist groups, indigenous groups, trade unions, intellectuals, gay rights activists and black rights protesters to come out in support of her. It has given the left new impetus, a focus and a cause, and brought in new, young supporters, many of whom were at the Canecão.
“A friend of my mother’s invited us,” said Luisa Mateille, 18, who was with her friend Maria Luiza Cordeiro, 16. “It is very political. It is Temer Out.”
Mateille described the vice president, who wears his hair slicked back and has been nicknamed "The Butler," as a horror movie character. “This vampire,” she said, “he wants to suck out people’s consciousness.”
The occupation is part of a national movement by Brazil’s artistic community that coalesced when Temer closed the Culture Ministry and incorporated it into the Education Ministry. Groups of artists, intellectuals, musicians and producers occupied ministry buildings across Brazil in protest.
In Rio, they took over an empty palace and former ministry headquarters and turned its courtyard into a venue for concerts, exhibitions and debates. On July 25, 73 days later, they were evicted by police — a move they saw as a pre-Olympic clean-out. Days later they took over the Canecão.
Falci said occupations like this are Brazil’s equivalent of the Occupy Wall Street movement in the United States.
The alternative opening also featured scientists and researchers from the Oswaldo Cruz Foundation — a leading government research institution known as Fiocruz. They filed onto the stage holding a banner that denounced the "coup" and government plans to cut spending on Brazil’s precarious public health services.
The scientists said they were also against the Olympic Games.
“It is a very unhappy moment,” said Marcio Boia, 62, a researcher in infectious diseases. “There is a coup — and they are destroying the health service.”

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