quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Kissinger agiu para evitar fim de repressão da ditadura militar argentina, indicam documentos


Kissinger agiu para evitar fim de repressão da ditadura militar argentina, indicam documentos


Segundo arquivos secretos divulgados nesta semana, ex-secretário de Estado norte-americano fez elogios a regime de ex- ditador argentino Jorge Videla
O ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, agiu para evitar o fim da repressão durante a ditadura civil-militar na Argentina (1976-1983), segundo arquivos secretos desclassificados norte-americanos divulgados na última segunda-feira (08/08).
Os documentos, que cobrem os anos de 1977 e 1982, apontam para uma relação próxima entre Kissinger e o governo militar argentino. De acordo com os arquivos, o ex-secretário de Estado norte-americano encorajou o combate ao “terrorismo” no país sul-americano.
Agência Efe

John Kerry entregou documentos sobre ditadura militar da Argentina a Mauricio Macri
Segundo o jornal britânico The Guardian, um documento aponta que, em visita em 1978 à Argentina, Kissinger elogiou os métodos utilizados pelo regime de Jorge Videla. Em um almoço com o ex-ditador argentino, “Kissinger aplaudiu os esforços argentinos em combater a repressão”. “Seu elogio ao governo argentino por sua campanha contra o terrorismo era a música que o governo argentino estava ansioso para ouvir”, aponta um arquivo.
 
No mesmo ano, Kissinger atendeu ao convite de Videla para assistir a um jogo durante a Copa do Mundo de 1978, realizada no país sul-americano. Nesse ano, Kissinger já não exercia mais o cargo de secretário de Estado do país - ele ocupou a função entre 1973 a 1977, nos governos dos republicanos Richard Nixon e Gerald Ford -  mas sua presença no evento contrariou a administração do então presidente Jimmy Carter (1977-81).
Wikicommons

Segundo documentos desclassificados, Henry Kissingir teve relação próxima com regime do ditador argentino Jorge Videla
Kissinger também participou de encontros com Videla sem a presença do embaixador dos EUA em Buenos Aires, Raúl Hector Castro, no qual seriam discutidas questões relacionadas a direitos humanos e política externa. “Videla rearranjou [o encontro], então Kissinger e o intérprete poderiam se encontrar com ele de forma privada meia hora antes de o embaixador chegar”, indica um documento.
 
Houve também uma tentativa de ocultação de informações. Segundo reportagem do jornal argentino Clarín, trechos de um informe sobre a situação da Argentina, elaborado pela secretária de Direitos Humanos do governo Carter, Patricia Derian, foram apagados por determinação de Kissinger.
As ações de Kissinger contrastavam com a postura adotada por Carter e seu assessor para assuntos de segurança nacional, Zbigniew Brzezinski. Ao contrário de seus antecessores, acusados de colaborar com os regimes autoritários sul-americanos, Carter era contrário à repressão a militantes e era favorável à abertura democrática nos países onde havia regimes autoritários. Uma das medidas de seu governo foi a retenção de empréstimos e vendas de equipamentos militares aos argentinos.

Sócios que quebram, empresas no Panamá Papers, amizade com Macri: conheça os negócios de Donald Trump na América Latina

Republicanos especialistas em segurança atacam Trump

Pais de soldados dos EUA mortos na Líbia processam Hillary por negligência e difamação

 
Os 1.081 documentos desclassificados foram entregues ao presidente argentino, Mauricio Macri, pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, na última semana, e em seguida liberados para a imprensa e organizações de direitos humanos.
Wikicommons

Ex-ditador argentino Jorge Videla (à esquerda) comandou país entre 1976 e 1981
A promessa de entregar documentos que pudessem ajudar a esclarecer crimes cometidos na ditadura argentina foi feita pelo presidente Barack Obama em março deste ano durante visita a Buenos Aires.
“Estamos supresos com a velocidade com que os EUA entregaram essa documentação”, disse o secretário de Direitos Humanos e Pluralismo Cultural da Argentina, Claudio Avruj. “Pensamos que demoraria mais”, acrescentou.
Aliança do Cone Sul
Os documentos também indicam que os países do Cone Sul teriam tentado unir suas ditaduras para enfrentar a nova política de direitos humanos implementada por Carter na época.
“Durante um curto período, no início de 1977, os países do Cone Sul – Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai – tentaram estabelecer um bloco para confrontar nossa politica de direitos humanos”, diz um memorando de 1978 escrito por Robert Pastor, que integrava o Conselho de Segurança Nacional norte-americano, segundo informou a Agência Brasil.
“Como esses governos desconfiavam uns dos outros, mais do que eles desprezavam o presidente Carter, o movimento não decolou”, completa.
Pastor descreveu Argentina, Brasil e Chile como “países grandes, com governos extremamente autoritários e ultraconservadores”, cuja visão limitada os levou a confrontos regionais “mesquinhos”. Um exemplo, para ele, foi a disputa entre Argentina e Chile pelo Canal de Beagle e brigas entre argentinos e brasileiros por causa da construção de hidrelétricas na fronteira com o Paraguai.

Nenhum comentário:

Postar um comentário