quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

COMO AJUDAR TRUMP Uma lição de comunicação.

Como ajudar Trump
 George Lakoff

Mesmo sem querer, muitos democratas, progressistas e membros da mídia ajudam Donald Trump, todos os dias. A maneira como o fazem é simples: divulgam as suas mensagens.
Senão vejamos: cada vez que Trump tuíta uma mensagem ou faz uma declaração chocante, milhões de pessoas ficam obcecadas com as suas palavras. Jornalistas cuidam de destacá-las em manchetes chamativas. Os jornais televisivos não cansam de reproduzir o que ele diz. Democratas horrorizados e progressistas estupefatos compartilham nas redes sociais essas narrativas, repetindo as declarações mais desagradáveis, para, em seguida, a refutá-las. Embora as respostas trabalhadas sejam compreensíveis por seus fundamentos, terminam, no entanto, reverterem em favor do Trump.
Basta alguém mencionar o nome de Trump, para o está ajudando, com maior razão quando faz circular mensagens urbi et orbi.
Ninguém sabe isso melhor do que o próprio Trump, pois é  um mestre da comunicação que conduz com arte e técnica um debate. Quando ele escolhe um campo de luta, o faz deliberadamente. Costuma tuitar ou a dizer coisas ultrajantes, sabendo que as suas palavras serão repetidas milhões de vezes. Quando os meios de comunicação e os democratas repetem as representações de Trump, eles estão fortalecendo os objetivos perseguidos, na medida em que dezenas milhões de americanos se estejam sempre atualizados com as suas ideias e as repitam incessantemente em cadeia.
Rápido: não pense em um elefante. Agora, o que você vê? O volume, a cor cinza e o perfil gigante de um elefante. Você não pode bloquear a imagem - o quadro - de ser acessado por seu inconsciente. Como professor de ciência neurológica, esta é a primeira lição que costumo repassar aos meus alunos. É também o título do meu livro sobre a ciência do enquadramento dos debates políticos.
A lição chave: quando negamos um quadro, evocamos a sua imagem. Quando o presidente Richard Nixon se dirigiu ao país durante o chamado escândalo Watergate e usou a frase "eu não sou um trapaceiro", ele juntou sua imagem com a de um trapaceiro. Ele estabeleceu o que estava negando repetindo a mensagem de seus oponentes.
Isso ilustra um dos princípios mais importantes de enquadrar um debate: Ao argumentar contra o outro lado, não use sua linguagem, porque evoca seu quadro e não o quadro que você procura estabelecer. Nunca repita suas acusações! Em vez disso, use suas próprias palavras e valores para reformular a argumentação.
Quando você repetir Trump, você ajuda Trump.
Nas próximas semanas e meses, usarei esse espaço para fornecer conselhos simples e práticos sobre como democratas, progressistas e jornalistas conscienciosos podem usar os princípios de enquadramento efetivo para expor e minar a propaganda de Trump.
Conhecimento é poder!
Devemos nos armar com os fundamentos de uma comunicação política eficaz. Devemos conhecer nossos valores e enquadrar o debate - e evitar ajudar Trump.
Quando você repetir Trump, você ajuda Trump.

* Professor de Linguística da Universidade da Califórnia. Foi um dos fundadores da Linguística Gerativa e da Linguística Cognitiva.


Fonte: Linguista da UnB que, mesmo sem querer, ajuda Trump.

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