Neonazistas
brasileiros 'sonham em morrer em combate' na Ucrânia
Sputnik |
Rio de Janeiro - 26/07/2017 - 14h52
Polícia do Rio Grande do Sul investiga ações de
jovens neonazistas que estariam sendo recrutados pela organização extremista
internacional Misanthropic Division
No último mês de dezembro, a polícia realizou oito
buscas em todo o estado em endereços ligados a grupos radicais. Agentes da
polícia confiscaram munições, materiais de propaganda e livros sobre nazismo,
além de deterem um jovem de 26 anos. Naquele momento, o objetivo da operação
era a possível ligação de brasileiros com membros da organização neonazista
internacional Misanthropic Division, que opera em mais de 15 países e tem
provocado distúrbios no território ucraniano.
A Sputnik Mundo entrou
em contato com o comissário Paulo César Jardim, encarregado das investigações
sobre ações de neonazistas no Rio Grande do Sul, para pedir informações sobre a
investigação e suposto recrutamento de jovens brasileiros para participar de
atividades paramilitares e extremistas na Ucrânia. De acordo com o
comissário-chefe, havia suspeitas de que estavam fabricando uma bomba.
"Detectamos um laboratório, mas ali não teria
condição para fazer aquilo", disse Jardim. O agente afirmou que
as investigações estão sendo realizadas secretamente e apenas concordou em
informar que todos os interrogados desde então estão em liberdade, mas foram
processados por violar a lei que proíbe "produzir, vender e difundir
propaganda nazista", entre outros crimes.
A polícia do Rio Grande do Sul tem investigado há
15 anos ações locais de neonazistas que "sentem prazer em odiar",
segundo o encarregado. "As primeiras detenções ocorreram em 2002 e houve
um aumento em 2005, quando foi comemorado o 60º aniversário do fim do
Holocausto e fizeram um ataque, onde massacraram um jovem", afirmou.
Flickr/CC
Neonazistas brasileiros querem ir combater na Ucrânia
Neonazistas brasileiros querem ir combater na Ucrânia
O delegado disse ter encontrado naquela época uma
legião de tatuados com suásticas e frases como "I hate your face" (Eu
odeio sua cara). O comissário começou a estudar a filosofia deles e entendeu
que "estão aborrecidos pelo movimento brasileiro se limitar a exibir
tatuagens e se opor à polícia e à cadeia, em casos mais extremos".
Ucrânia
"Por que a Ucrânia?", essa era uma
pergunta que o intrigava. "Delegado, nós somos jovens guerrilheiros
urbanos e nós temos uma causa: nosso orgulho é tombar em combate",
acrescentando que sonham com isso "porque nesta sociedade retrógrada e
capitalista, financiada pelos judeus", como afirmaram os neonazistas para
o delegado, "não encontraram espaço para cumprir seu sonho romântico de
morrer lutando", contou.
O responsável pelas investigações ressaltou que
tais aspirações heroicas são expostas em materiais, propagados entre eles, como
se fosse um manual verdadeiro de conduta e uma "bíblia neonazista",
em que defendem ódio a judeus e a homossexuais, exaltando "a pureza de sua
raça". "Como pode ser prazeroso para alguém odiar, causar dor, causar
um mal, sangrar as pessoas? E eles entendem isso como uma naturalidade
surpreendente, eles me respondem assim: 'delegado, quando na sua casa o senhor
vê uma barata no chão, o senhor pisa em cima e mata, não? […] E barata é uma
subespécie, uma sub-raça, então a gente não tem que ter pena do judeu, do negro
ou do homossexual'", citou, falando sobre alguns dos pensamentos dos
interrogados.
Para Jardim, a existência de simpatizantes de
ideologias nazistas e fascistas na região sul do país se deve à imigração alemã
nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando o então
presidente Getúlio Vargas possuía alguns pontos em comum com o líder alemão,
Adolf Hitler, até que finalmente se mostrou contra.
"Os aliados obrigaram o Brasil, ou seja,
Getúlio Vargas, a decretar que o partido nazista que havia no Brasil deveria
ser expulso, e ele passou à clandestinidade", diz o delegado, mas lamenta
pelos nazistas terem continuado suas atividades.
(*) Publicado
em Sputnik
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