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Tereza Cruvinel
Apesar dos 94% de rejeição e
da mala com R$ 500 mil recebida pelo emissário Rocha Loures , Temer vai escapar
da denúncia de corrupção mas pode ser derrubado pelos custos do
salvamento.
Há sinais de que começa uma
nova fase no jogo.
A grita contra sua gastança e
o consequente caos fiscal, e o derretimento de Henrique Meirelles como seu
fiador junto às elites começam a tomar o lugar da reprovação moral.
Se não cai por corrupção,
Temer pode ser derrubado pela inviabilidade econômica de seu governo.
Esta estratégia política da
parte da elite que deseja se livrar dele foi claramente traduzida
editorialmente nesta quarta-feira (26) pelo noticiário das Organizações Globo.
Este é o tom em todos os veículos do grupo.
No jornal O Globo, sob a
manchete do dia, “Contas que não fecham”, seus colunistas disparam contra a
desordem econômico-financeira. Gaspari anuncia a fervura de Meirelles na água
em que Temer ceva os votos para salvar o pescoço, Miriam Leitão proclama o
risco de “apagão fiscal” e Lydia Medeiros informa que a unidade em torno de
Meirelles ruiu após o aumento de impostos e que ele resiste à pressão para
afrouxar a meta fiscal.
A elite econômica que apoiou
o golpe, desiludida com Temer, esperava que o Congresso assumisse a tarefa de
removê-lo após a ajuda providencial de Joesley Batista. Menos o setor
financeiro, que enche as burras com os juros altos (e nem vai se abalar com a esperada redução
de um ponto na SELIC, pois agora a inflação voltará a subir com o aumento da
gasolina e o COPOM pisará no freio).
A mídia grande dividiu-se,
com o grupo Globo liderando a artilharia anti-Temer e os jornalões paulistas se
equilibrando entre o apoio e a omissão.
Com a Câmara dominada, o empresariado produtivo começou a se movimentar.
Ontem publicamos aqui as duras criticas do vice-presidente da ABIMAQ à política
econômica. Paulo Skaf, presidente da FIESP, janta com Temer, mas põe seu pato
novamente na rua. E para completar, hoje estourou a denúncia do site Buzzfeed,
de que Meirelles guarda no exterior os milhões que recebeu com sua consultoria,
que teve como maior cliente a JBS.
O colapso fiscal é uma
realidade, não é retórica dos que desejam trocar Temer por um preposto menos
vulnerável, com melhores condições para tocar a agenda de contrarreformas. Mas agora, começou a ser usado como munição.
Na semana passada o governo
contingenciou R$ 5,9 bilhões do
Orçamento mas só em emendas parlamentares já se foram R$ 4,1 bilhões. A base de Temer deformou o REFIS para atender
a interesses próprios sem levar qualquer advertência, frustrando a arrecadação.
Não votou a reoneração da folha de pagamento das empresas e as receitas com
repatriamento externo têm sido decepcionantes.
Enquanto isso, Temer e a área
política continuam prometendo até lotes na lua para garantir um voto contra a
denúncia de Rodrigo Janot. Ontem (26/7)
Temer prometeu R$ 13 milhões para as escolas de samba do Rio e com isso o
deputado Pedro Paulo (PMDB-RJ) agora é voto certo a seu favor.
O rombo é grande, serviços
públicos (como recentemente a emissão de passaportes) podem parar, mas as
medidas propostas são inócuas. O Programa de Demissão Voluntária (PDV) para
funcionários públicos em pleno desemprego será um fiasco. Buscar dinheiro
indevidamente pago a pessoas mortas é uma garimpagem frívola. Agora já se fala
em suspensão dos aumentos a servidores públicos federais concedidos, no ano
passado, por Temer em busca de boa vontade da máquina administrativa.
O jeito é pedalar e Temer tem
pedalado bem.
Para permitir a volta da
emissão de passaportes e rolar a dívida, na semana passada, ele baixou dois
créditos suplementares, um de R$ 100 milhões, outro de R$ 3 bilhões. E o fez sem aprovação parlamentar, o que
valeu a Dilma a deposição por “pedaladas fiscais”. Mas depois do golpe o
Congresso mudou a lei e agora pedalar não é mais crime.
A ironia da história está em
que, para enterrar a denúncia de corrupção e permanecer no cargo, Temer acabou
comprometendo um de seus poucos “ativos” valorizados pela elite, a presença de
Meirelles na Fazenda. Sem a gastança
para enterrar a denúncia, talvez ele tivesse evitado o aumento de imposto. E
como isso não bastou para tapar o rombo, agora Meirelles enfrenta a pressão da
área política para afrouxar a meta fiscal já deficitária em R$ 139 bilhões. Ele
prometeu um crescimento de 1,6% este ano e o FMI já prevê 0,3%. O confronto com
a área política vai se intensificar e em algum momento ele vai pedir o boné.
Além do “gasto político” de
Temer, há outros atores contribuindo para o colapso fiscal, como o Ministério
Público, quando se concede aumento de 16%, ou como o juiz que suspende a
cobrança do aumento do PIS/COFINS, impondo perdas de R$ 76 milhões diários aos
cofres do governo. Mas quando a desordem
impera, é assim mesmo. Cada um por si,
em tempo de murici, e dane-se o resto.
Se a mala de dinheiro de
Loures não mexeu com o brio das excelências, há pouco o que esperar das novas
denúncias de Janot, disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, segundo o site
Poder360. Nada mais grave do que isso
deve aparecer, apesar das delações que estão na bica.
Mirando 2018, DEM e PSDB, no
encontro entre Maia e Geraldo Alckmin, outros demistas e tucanos, acertaram o
enterro da denúncia e a permanência de Temer, eleitoralmente mais conveniente a
eles. As ruas estão vazias e os
indignados já não batem mais panelas.
Assim, caso uma parte da elite nacional queira mesmo se livrar do
presidente que vem ampliando a recessão e promovendo o colapso fiscal, vai ter
que lutar com outras armas. Por ora, com a exposição da inviabilidade econômica
do governo. Está claramente começando outra fase do jogo.
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