AGROECOLOGIA
Com apoio do MST, Maricá implementa projetos de apoio à reforma agrária
2º Festival Internacional da Utopia conta com produtos de assentamentos e pratos da culinária da terra
A proximidade da cidade de Maricá, no Rio de Janeiro, com os princípios da reforma agrária popular e da agroecologia, pode ser percebida por quem visita, ao longo deste final de semana, o 2º Festival Internacional da Utopia, no centro da cidade. O evento conta com os espaços da Feira da Reforma Agrária e da Culinária da Terra, onde é vendida parte da produção de assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do sul e sudeste do país, e representa outras medidas que a Prefeitura vem tomado nos últimos anos.
Segundo Diego Zeidan, secretário de economia solidária da cidade fluminense, a Prefeitura de Maricá fez a escolha política de fazer oposição ao modelo agrícola hegemônico no país, enfrentando latifúndios improdutivos.
“A Prefeitura está distribuindo terras para que seja feita a reforma agrária, e para que as famílias de cada bairro possam assumir e dar uso social para o solo, além de produzir alimentos sem veneno”, afirmou.
Um dos projetos que vêm sendo implementados é a construção de hortas comunitárias nos bairros da cidade. O projeto piloto, que teve início há dois anos, contemplou o bairro Manu Manuela, que hoje possui um assentamento com lotes de 400 m², contemplando 30 famílias. A política é construída em uma parceria entre a Secretaria de Economia Solidária, a Secretaria de Agricultura e a Companhia de Desenvolvimento de Maricá, e tem como contrapartida para o Estado, a doação de parte da produção orgânica para os aparelhos públicos da cidade.
De acordo com Edivaldo Martiniano da Silva, que é Presidente da Associação dos Moradores do Loteamento Manu Manuela e faz parte da Comissão Mista das Hortas Comunitárias, com a medida, todos saem ganhando.
“Maricá corre para adquirir um selo verde, por conta dessa soberania alimentar. Nós produzimos, alimentamos a cadeia agroecológica, e quem sabe exportamos essa ideia. A Prefeitura entra com a terra, a capacitação e o apoio logístico, e em contrapartida, 15% da produção de todas as famílias vai parar creches, asilo, hospital, escolas, ou seja, na realidade, volta para o seu filho, ou para seu parente. A maioria aqui são pessoas que tem suas rendas, mas queremos essencialmente melhorar a mesa e levar a agroecologia para as famílias”, afirmou.
Martiniano é fisioterapeuta, mas aprendeu a plantar com os princípios da agroecologia por meio de uma capacitação realizada em um convênio com a Prefeitura e a Cooperar, uma cooperativa braço do MST na cidade, que construiu em um dos lotes uma horta em formato de mandala, utilizada apenas para oficinas e doação de alimentos. Segundo Angelita Domingues, agricultora do MST responsável pela horta coletiva do Manu Manuela, o principal papel da agroecologia na região é resgatar a produtividade da terra.
“No começo eles não produziam, a terra estava dura de enchente e queimada, e fomos recuperando o solo, hoje está muito bonito, nascendo bem, mesmo com pouco tempo. É maravilhoso plantar sem veneno, podemos arrancar folha, comer a vontade, é um alimento saudável, sem risco de intoxicação, até o sabor é outro. Os agricultores que estão começando lá estão gostando. As pessoas vêm de outros bairros para o curso, e querem plantar em casa, sem veneno, em um cantinho ou outro. A Prefeitura aqui tem uma abertura interessante para a reforma agrária, um projeto desse não é qualquer prefeito ou prefeitura que faz”, pontuou.
O recente horticultor Fernando Figueiredo mora na região do Manu Manuela há 18 anos. Antes ele trabalhava como jardineiro, mas ganhou seu lote do assentamento há dois meses e mostrou parte de sua produção em uma visita do Brasil de Fato à horta coletiva.
“Eu gosto de cuidar da terra. Eu planto couve, milho, abóbora, quiabo, maracujá, maxixe, palmeirão, salsinha, coentro, e couve. Já tirei a primeira colheita, já vendi, já deixei o dinheiro guardado para comprar mais mudas daqui para frente. É Interessante, porque temos a possibilidade de levar para as escolas, hospitais, tudo orgânico, e dá uma renda também. O que sobra podemos vender e termos nosso lucro, para crescer, plantar mais”, contou.
Comuna de produção agrícola
De acordo com o secretário Diego Zeidan, o projeto de hortas coletivas será expandido para todos os bairros da cidade. “Isso aqui é um exemplo para o resto do país”, afirmou. Além desse projeto, a Prefeitura de Maricá dará início à construção de uma comuna de produção agrícola, na terra de uma fazenda improdutiva recentemente desapropriada.
“Maricá vai apostar em uma reforma agrária local. Adquirimos uma fazenda e vamos fazer comunas agroeocológicas com pequenos produtores locais que sempre foram explorados por seus patrões. Agora queremos oportunizá-los com seu espaço de produção e a possibilidade de uma cultura familiar e orgânica”, afirmou o prefeito.
A certeza é de que não faltarão consumidores para as produções agrícolas sem veneno. Neste terceiro dia do Festival da Utopia, a Feira da Reforma Agrária encheu de moradores da cidade e visitantes, comprando produtos que vão desde vegetais, doces e mel, até fitoterápicos produzidos pelos assentados do MST. Mariana Custódio, moradora de Maricá há dois anos, visitou a barraca de frutas dos agricultores de Minas Gerais com o marido e três filhos.
“Adoramos essa feira, na primeira edição do Festival da Utopia [em 2016] nós viemos também e foi ótimo, compramos muitos produtos daqui e ficamos aguardando a segunda edição para comprar de novo, porque é muito boa. O ideal seria ter uma loja permanente ou uma feira mensal desses produtos, porque esse tipo de oportunidade é muito boa para nós e para os vendedores também”, afirmou.
A Segunda Edição do Festival Internacional da Utopia termina amanhã, em Maricá, com uma mesa de encerramento que contará com a presença da escritora Conceição Evaristo e do pastor Ariovaldo Ramos, e será encerrada com um show do rapper Emicida, na Praça Central Orlando de Barros.
Edição: Mariana Pitasse
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