TETO DE VIDRO
Autor de site especializado em 'fake news' denuncia Globo por divulgar 'fake news'
Dono do "Ceticismo Político", que foi punido nas redes sociais por difamar Marielle Franco, enumera informações falsas que teriam sido propagadas pela rede. Emissora censura trecho
por Redação RBA publicado 20/07/2018 19h16, última modificação 20/07/2018 19h45
REPRODUÇÃO/FACEBOOK
Carlos Afonso (esq.), criador do site de notícias falsas 'Ceticismo Político', ao lado de repórter da Globo
São Paulo – O programa Profissão Repórter, liderado pelo jornalista Caco Barcellos, da TV Globo, em parceria com o projeto Énois, que ensina jornalismo para jovens periféricos de São Paulo e do Rio de Janeiro, exibiu episódio ontem (19) sobre fake news. O trabalho investigativo passou por casos como o do jovem Marcus Vinícius, de 14 anos, assassinado pela polícia na favela da Maré, no Rio de Janeiro, enquanto ia para a escola. O que não esperavam é que a própria emissora acabasse denunciada por mentir ao longo de sua história.
Os casos graves de informações falsas divulgadas nas redes sociais levaram a equipe de Barcellos a monitorar alguns sites. Entre eles, representantes da esquerda, como o Esquerdão, e, com casos mais graves de difamação e distorção, os propagadores de ideologia de direita conservadora: Imprensa Viva,Folha Política e Ceticismo Político. Este último, administrado por Carlos Afonso, que assina com o pseudônimo de Luciano Ayan, tem longa história de controvérsia nas redes. Foi ele um dos maiores responsáveis pela divulgação de fake news relacionadas à vereadora carioca do Psol Marielle Franco, executada a tiros em um crime ainda sem solução.
As mentiras tentavam vincular Marielle a traficantes, quando sua trajetória sempre mostrou o oposto. Uma parlamentar de esquerda, contra a intervenção militar em seu estado, jovem, negra, lésbica, com carreira promissora, que combatia com afinco milícias em sua cidade. E corajosa. Um perfil que incomodou os conservadores que tentaram difamá-la, mas saíram perdendo. O site Ceticismo Políticofoi bloqueado nas redes.
Fake news no espelho
A equipe do programa conseguiu entrevistar Afonso. Em certo trecho, que não foi ao ar, mas foi divulgado em sites da extrema-direita, como do MBL, Afonso, um dos maiores divulgadores de fake news do Brasil, disparou contra a própria Globo, acusando a emissora de cometer os mesmos delitos. Em tom agressivo contra o repórter Estevan Muniz, Afonso mostrou folhas com cópias de matérias contendo erros jornalísticos da imprensa comercial e até mesmo notícias falsas.
O primeiro ataque foi contra o jornalista Ricardo Noblat. "Esse é da tua empresa", disse ao repórter. "Ele disse: 'Temer decidiu renunciar'. Isso no dia 18 de maio de 2017. Ele está lá até hoje. Isso aqui é minha prova. Isso é notícia falsa. 'Temer decidiu renunciar'. Escrito pelo Noblat. Isso é mentira. Agora 17 de junho. 'Dono da JBS grava Temer dando aval para a compra de silêncio de Cunha'. Por que o Lauro Jardim (jornalista de O Globo) revelou o áudio apenas horas depois? Por que essa informação não estava no áudio. Vocês quebraram a economia", disse, ao tentar mostrar que o áudio em que Michel Temer conversa com o empresário Joesley Batista na frase dita sobre Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados ("Tem que manter isso aí, viu?"), na verdade não revelava nada.
Entre outros casos, Afonso ainda saiu em defesa do pré-candidato à Presidência pelo PSL, deputado federal Jair Bolsonaro (RJ). Em matéria, Lauro Jardim afirma que Bolsonaro teria dito que daria um prazo de seis horas para que os bandidos da Rocinha, no Rio de Janeiro, se entregassem. Findo este tempo, ele metralharia a Rocinha toda. De acordo com o disseminador de fake news, trata-se de mentira. Bolsonaro não teria dito isso e a prova é que o jornalista da Globo não teria mostrado o áudio.
Por fim, fala até mesmo do clássico caso de erro jornalístico da Escola Base, na zona sul de São Paulo, que aconteceu há 24 anos. A maior parte da mídia, na época, acusou inocentes de terem abusado de menores. Mesmo comprovada a inocência, o estrago das reputações estava completo, arruinando para sempre vidas de profissionais daquela instituição.
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