Ninguém acredita na vida real
“Eu te dou a vice”; “Fulano ganha 20 segundos no horário eleitoral”; “Libera o 38, pelo menos”; “Não conheço do habeas corpus por falta de legitimidade do impetrante”.
Tudo isso que você lê no noticiário político – pouco mais, pouco menos com estas palavras – é apenas a “casca da ferida” deste país machucado.
O mundo real, fora deste universo paralelo onde vive a elite política (que inclui a das corporações de Estado e as empresariais) está batendo à porta, cada vez mais furiosamente e eles teimam em não ouvir.
Nem o Caged, registro do Ministério do Trabalho que contabiliza as vagas formais de emprego em empresas estruturadas, conseguiu mais sustentar o engano dos números positivos.
O desemprego volta a crescer, agora sobre um patamar já imenso.
O Serasa, longe de ser uma instituição “lulopetista”, aponta um recorde de inadimplência: 62 milhões, quase, ou seja: 40,3% da população adulta está inadimplente.
O IPCA-15, divulgado esta semana pelo IBGE, foi o maior em 14 anos e isso sendo medido sobre uma elevação imensa, a de junho, provocada pela paralisação dos transportes. preços coletados depois da normalização, na média, subiram, mesmo com a retração naqueles absurdos 10 reais pela batata ou pelo tomate.
Não é preciso indicador nenhum para ver a pobreza crescendo pelas calçadas, ao menos aqui no Rio e nos bairros de classe média, onde ainda se pode colher os magros frutos da “caridade” que sobraram.
Daí que sobre essa realidade, o latifúndio de Geraldo Alckmin no horário gratuito tem um significado e este significado tem um preço.
Torna-o o candidato explícito do status quo por representar, nas palavras de comentarista política Maria Cristina Fernandes, “uma candidatura que reúne quase toda a Esplanada dos Ministérios, em um governo que tem 94% de rejeição.
“Dize-me com quem andas e te direi quem és”, percebe a sabedoria popular.
A menos, claro, que fosse um personagem com significação própria, o que Alckmin está longe de ser.
É por isso que o seu inegável triunfo da disputa pelo tempo de televisão tem de ser relativizado.
Em primeiro lugar, porque não foi exclusivamente dele, mas tem indisfarçável “dedo de Temer” no “convencimento” do Centrão.
Em segundo lugar, por isso mesmo, o identifica com o “tudo o que está aí”.
Ninguém acredita na vida real, cantou Caetano veloso, mas ela existe.
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