Cerqueira Leite: Bolsonaro reflete Hitler, mas os tiros que deu foram em alvo de papelão
A escolha
Não é esquerda ou direita; é civilização ou barbárie
A escolha não é entre a esquerda e a direita, nem é entre o “povão” e a elite, como insinuam os bons cidadãos.
Também não é simplesmente entre democracia e ditadura, assim como também não é apenas entre paisano e militar, ou entre progresso e retrocesso.
A escolha é entre civilização e barbárie.
A barbárie na Alemanha derrotou a civilização e levou ao Holocausto e à mais sangrenta guerra da história da humanidade.
E como foi que isso pôde acontecer na altamente desenvolvida e civilizada Alemanha?
Um povo decepcionado com a ineficiência da República de Weimar, criada à sombra da humilhação do tratado de Versailles.
Ou seja, um campo fértil para escolhas exorbitantes, funestas, e propício para desvairados oportunistas.
Foi assim que ascendeu ao poder o maior criminoso do século 20.
O nosso candidato à Presidência da República promete exterminar o comunismo, o da Alemanha também o fez.
O nosso promete militarizar as escolas e disciplinar as crianças.
O da Alemanha botou farda e deu ordem unida para as crianças, para depois mandá-las para as trincheiras.
O nosso promete colocar generais em todos os ministérios, o da Alemanha fez exatamente isso.
O nosso promete acabar com os políticos e com a corrupção, o da Alemanha prometeu o mesmo e deu no que deu.
Não há predicado que um tenha e o outro não.
Um é o reflexo especular do outro.
Haverá alguma característica do alemão que o nosso candidato não apresente?
A não ser o fato de que o de lá foi à guerra, enquanto o de cá nunca deu um tiro, a não ser em alvo de papelão.
O que podemos esperar de alguém que ensina os filhos, quando atingem cinco anos, a atirar? Será que é para se defenderem? De quem? Da professorinha? Dos coleguinhas do jardim de infância?
O que se pode esperar de um presidente que é favorável à tortura? Você, burguês bem-sucedido, pode bem vir a ter um desses gloriosos indignados filhos que, por ter opinião e defender o direito de expressá-la, vai acabar no pau de arara.
O âmago, a essência da civilização é o respeito à dignidade humana.
Não há maior agressão à dignidade do homem do que a tortura, sob qualquer forma que assuma.
A medida da civilização está no respeito à condição humana.
A escolha está, portanto, entre civilização e barbárie. Não é, pois, uma escolha política, e a responsabilidade do eleitor é, portanto, imensa.
Um outro Messias, à caça de marajás, já empolgou o brasileiro. Será que não aprendemos?
Aquele roubou-nos apenas a poupança. Este promete subtrair-nos a cidadania e a dignidade.
*Físico, professor emérito da Unicamp, comendador da Ordem Nacional do Mérito da França e membro do Conselho Editorial da Folha
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