Eleições 2018
"Escolha triste", diz editorial do New York Times sobre Bolsonaro
por Redação — publicado 22/10/2018 09h48, última modificação 22/10/2018 12h59
'A escolha é dos brasileiros, mas é triste para a democracia quando a desordem e a decepção abrem as portas para populistas cruéis e ofensivos'
Carl de Souza/AFP
'Ele sente saudade de generais e torturadores", afirma o jornal
O jornal norte-americano The New York Times, um dos periódicos mais respeitados do mundo, publicou nesta segunda-feira 22 um duro editorial classificando a opção por Jair Bolsonaro para a Presidência como "a escolha triste do Brasil". Ele, afirma o texto, é um brasileiro de direita que tem visões repulsivas.
Para o conselho editorial do jornal, que assina o texto, o ex-militar e deputado é o mais recente nome de uma longa lista de populistas que, diante de uma onda de descontentamento, frustração e desespero, pode alcançar o mais alto cargo em cada um de seus países. "Não surpreendentemente, ele é frequentemente descrito como um Donald Trump brasileiro", compara o texto.
O editorial afirma ainda que "é um dia triste para a democracia quando a desordem e a decepção levam eleitores à distração e abrem a porta para populistas ofensivos, rudes e agressivos". Para o jornal, Bolsonaro é um político de direita que tem "pontos de vista repulsivos".
Para comprovar sua visão, o jornal lembra declarações do candidato, como no episódio em que disse que preferia que seu filho morresse a ser homossexual; que a deputada Maria do Rosário, sua colega na Câmara, não merecia ser estuprada porque seria "muito feia"; que quilombolas pesavam "sete arrobas" e não faziam nada; que o aquecimento global equivale a “fábulas de estufa”. "Ele sente saudades dos generais e torturadores que governaram o Brasil por 20 anos. No próximo domingo, no segundo turno da eleição, provavelmente será eleito presidente do Brasil."
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Por trás dessa perspectiva assustadora, há uma história que se tornou assustadoramente comum entre as democracias do mundo, contextualiza o editorial. "O Brasil está emergindo de uma de suas piores recessões de todos os tempos; a Operação Lava Jato revelou um grande esquema de corrupção; um ex-presidente popular, Luiz Inácio Lula da Silva, está preso por corrupção; sua sucessora, Dilma Rousseff, sofreu impeachment; seu sucessor, Michel Temer, está sob investigação; e a violência está crescimento. "Os brasileiros estão desesperados por mudanças", diagnostica o editorial.
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Neste contexto, "as opiniões grosseiras de Bolsonaro são interpretadas como franqueza, sua carreira obscura como congressista como a promessa de um forasteiro que limpará os estábulos e sua promessa de um punho de ferro como esperança para conter uma média recorde de 175 homicídios", resume. "Cristão evangélico, ele prega uma mistura de conservadorismo social e liberalismo econômico, embora confesse apenas uma compreensão superficial da economia."
Para o NYT, se ele chegar ao Palácio do Planalto, um dos perdedores será o meio ambiente e, especificamente, a Amazônia, já que Bolsonaro prometeu desfazer muitas das proteções atuais para expandir áreas ao agronegócio brasileiro. "Ele levantou a perspectiva de se retirar do acordo climático de Paris, de desmantelar o Ministério do Meio Ambiente e impedir a criação de reservas indígenas - tudo isso em um país até recentemente elogiado por sua liderança na proteção do meio ambiente", afirma o texto.
O texto lembra, porém, que não foi somente a ideia de "boi, bíblia e bala" que trouxe Bolsonaro à tona. Lula continuou sendo um forte candidato apesar de estar preso desde abril, mas foi impedido, em agosto, de concorrer nas eleições, substituído por seu ex-ministro da Educação, Fernando Haddad. "Embora Haddad tenha sobrevivido ao primeiro turno, ele não conseguiu superar a associação do seu partido com a corrupção e a má administração, que alimentou a ideia de 'qualquer um menos o PT'".
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