24 DE JANEIRO DE 2019, 16H34
Qual é o interesse da Globo em criticar Bolsonaro?
Raphael Silva Fagundes: “Não podemos agir como insetos atraídos pela luz da lâmpada e nos excitar com qualquer ação do governo. Precisamos saber interpretar a questão para não fazermos o jogo do inimigo”
Às vezes, tenho a sensação de estar sendo engado. Quando a esquerda está falando a mesma língua que a maior corporação midiática do país, é preciso ter cuidado.
A rede Globo dedicou-se a queimar a imagem do presidente e de sua família, mas será que ela se põe contra o sistema que está se montando? Creio que para a corporação, o vice, Mourão, seria muito melhor que Bolsonaro. Isso porque ela adverte o novo presidente devido ao discurso deste sobre ideologia de gênero, feminismo etc…
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Essa questão é intrigante. A Globo, Folha de São Paulo e outras mídias da corporação, nunca fizeram críticas às propostas de privatização e às reformas reacionárias que Bolsonaro dará continuidade. E se tirarmos a questão do kit gay, feminismo etc., do discurso de Bolsonaro temos Mourão.
Um general no poder não seria problema algum para o conglomerado midiático já que apoiou a ditadura militar. O discurso de Mourão é perfeito para a Globo. Esta jamais se importaria se o 13° salário deixasse de existir, assim como as férias. Esse não é o problema. O problema da Globo é o discurso politicamente incorreto e a questão religiosa de Bolsonaro, o resto, sua política econômica entreguista, não a incomoda.
Por que não se deu destaque ao elogio da imprensa internacional e dos setores empresariais ao discurso de Bolsonaro em Davos, que destacava a abertura das pernas do país para o capital externo? Falou-se do pouco tempo… E daí? Destacaram uma coisa para não falar do que realmente importa: a política econômica a qual essa mídia está alinhada.
Temos que deixar claro que estamos de um lado diferente dessa mídia oportunista. Além disso, nossa crítica não deve ser pessoal, mas contra o sistema. Não devemos pensar em tirar Bolsonaro, mas abalar o sistema como um todo.
Mourão no lugar de Bolsonaro teria o apoio da mídia e o apoio popular, pois este, supostamente, não se envolve em corrupção. Seu discurso não é contra as minorias, nos momentos que pareceu, logo buscou pedir desculpas, coisa que Bolsonaro não o fez.
A rixa da Globo contra Bolsonaro não é por sua política econômica, mas sua relação com outras corporações midiáticas e devido ao discurso conservador moralista, o qual as produções Globo não se alinham.
É hora de pensarmos sobre o que dizemos. Não estou defendendo o presidente eleito, mas refletindo sobre as críticas feitas a ele. Não podemos agir como insetos atraídos pela luz da lâmpada e nos excitar com qualquer ação do governo. Precisamos saber interpretar a questão para não fazermos o jogo do inimigo. E, outra, a esquerda precisa urgentemente recuperar o discurso radical.
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