Procuradores combinam motim contra Raquel Dodge pelo aplicativo Telegram
Reportagem de Severino Motta no BuzzFeed Brasil.
Procuradores do Ministério Público Federal prometem iniciar na próxima segunda-feira um inédito motim contra a procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
Eles pretendem abandonar, coletivamente, cargos que ocupam em grupos de trabalho e representações em coordenações de grupos nos Estados na próxima segunda-feira como meio de pressionar Dodge a estabelecer gratificações por acúmulo de funções.
Através de grupos de mensagens, como o chamado Valoriza, no aplicativo Telegram, já está circulando um ofício modelo para a entrega para cargos como coordenações de grupos de trabalho e representações de câmaras nos Estados, entre outras funções que não geram remuneração adicional.
A entrega destes postos seria um primeiro passo na batalha que os procuradores travam desde que o auxílio-moradia foi extinto no STF (Supremo Tribunal Federal), no fim do ano passado.
Sem o benefício, eles querem que Dodge altere uma regulamentação que trata do acúmulo de funções, garantindo um pagamento adicional para quem exerce funções além de seu ofício, tal como integrar os grupos de trabalho ou forças-tarefa, por exemplo.
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Ao todo, dos cerca de 1,1 mil procuradores em atividade, 707 aprovaram um calendário marcando a próxima segunda-feira, dia 11, como data para a entrega dos cargos.
O cronograma também prevê “mobilizações estaduais e coleta de assinaturas para a convocação do Colégio de Procuradores da República” entre os dias 11 a 22 de fevereiro e fixou a possível autoconvocação do colegiado para uma data entre 11 e 15 de março.
Por ser uma atitude inédita dentro do Ministério Público Federal, procuradores ouvidos pelo BuzzFeed News disseram não ter ideia de quantos membros do MPF vão aderir à medida.
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“Mas essa foi a maneira encontrada pelos procuradores para chamar a atenção da cúpula do MPF para que questões relativas à remuneração e à organização do trabalho da carreira sejam destravadas e decididas”, disse.
“Nós buscamos o que está na Constituição, que é a isonomia com o Judiciário. Hoje, os procuradores ganham em média 16% a menos que os integrantes do Judiciário devido às diferenças de regulamentação da gratificação por acúmulo de funções entre a magistratura e o MPF”, completou.
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Nos bastidores da PGR, a avaliação é que a proximidade da eleição interna que produz a lista tríplice com nomes que são encaminhados ao presidente da República como sugestão para ocupar a vaga de procurador-geral da República estão exaltando ânimos na classe.
Enquanto a maior parte da categoria pressiona Dodge para que a alteração na regulamentação do pagamento de gratificações por acúmulo de função seja feita, há quem acredite que a PGR quer deixar esse problema para ser resolvido o mais próximo possível da eleição da lista tríplice.
Ao fazer um agrado próximo da votação, a memória dos procuradores ficaria marcada pelo avanço feito por Dodge em relação a pautas remuneratórias, o que lhe daria novo fôlego eleitoral.
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