Globo desvia o foco do escândalo revelado pelo Intercept para proteger cúmplices na Lava Jato
Se não pode defender, confunda. É assim que a Globo age no caso das conversas secretas reveladas pelo site The Intercept Brasil. A manchete do jornal fala por si:
“Conversa de Moro com procuradores e ação de hackers serão investigadas”.
Ou seja, a Globo coloca em situação de igualdade dois fatos que têm impacto diferente na vida das pessoas.
Um diz respeito a um direito individual, o dos procuradores e de Moro.
O outra tem relação com a vida de todos e sobre os limites de atuação de agentes públicos que agem em nome do Estado.
Em outras palavras, é o direito individual contra o direito coletivo.
A Globo sabe a diferença, como demonstrou na divulgação do grampo de Dilma Rousseff, autorizada por Moro. Naquela ocasião, entretanto, deu de barato que não era crime de Moro e focou no conteúdo da mensagem — que não revelou nada de ilegal.
A manchete era escandalosa e o diálogo entre Dilma e Lula ocupava quase a primeira página inteira. Ajudou a manter acesa a chama do golpismo, que seria consolidado alguns meses depois com o impeachment sem crime de responsabilidade.
No Jornal Nacional de ontem, a Globo já tinha dado o tom de que pretende minimizar até onde conseguir os diálogos entre Moro e Dallagnol, estes sim reveladores de uma grave violação ao direito.
Andrew Downie, correspondente escocês na América Latina, escreveu no Twitter:
“Erro grande, grave e triste do Jornal Nacional hoje, dando mais tempo para Dalton Dallagnol, Sérgio Moro e as associações dos juizes e procuradores para negar as acusações contra eles do que focar nas gravíssimas acusações em si.”
Glenn Greenwald, co-fundador do The Intercept, respondeu:
“A Globo é sócia, agente e aliada de Moro e Lava Jato – seus porta-vozes – e não jornalistas que reportem sobre eles com alguma independência. É exatamente assim que Moro, Deltan e a força-tarefa veem a Globo. Então não esperem nada além de propaganda.”
E acrescentou, mostrando a capa da edição de hoje de O Globo:
“Por exemplo: essa manchete de O Globo é difícil de acreditar. A estratégia da Globo é a mesma que os governos usam contra aqueles que revelam seus crimes: focar em como as infos foram obtidas e ignorar as revelações. Eles mal mencionaram as impropriedades de Moro.”
A Globo poderia ter aprendido com Moro — o farsante que transformou o herói –, conforme declaração dele em entrevista recente a Pedro Bial. Defendendo seu trabalho como juiz, por ter divulgado a conversa de Dilma, o ex-juiz afirmou:
“O problema não era a captação do diálogo e a divulgação do diálogo, mas o conteúdo do diálogo em si”.
O problema para a Globo é que os diálogos em si, no caso de Moro, compromete o jornal, que é cúmplice da condenação sem provas de Lula, como veículo que publicou a reportagem porca que atribuiu ao ex-presidente a propriedade de um triplex no Guarujá, em 2010, ecoando boatos que circulavam pela cidade.
Se os jornalistas do grupo se limitarem a divulgar fatos ou interpretá-los com isenção, terão que reconhecer a própria culpa e desmontar uma farsa que desgraçou o Brasil.
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