Com medo do amanhã? Não se sinta só Se você que lê essa newsletter está esgotado, angustiado, ansioso e com medo do amanhã, não se sinta só. Confesso que escrever este texto na semana em que o nosso país chegou a mais de 300 mil mortes por Covid-19 — com mais de 3 mil mortes em 24h na última quarta-feira, no maior colapso sanitário da história do Brasil — me fez pensar quando haverá novamente alguma alegria no nosso dia a dia.
O cenário em que médicos relatam choque com UTIs lotadas de jovens com Covid-19, morrendo muito mais do que antes, revela que as medidas que vêm sendo tomadas pelas autoridades, como antecipação de feriados, são cortina de fumaça. Quando parcela considerável da população insiste em não respeitar medidas sanitárias mínimas, o lockdown seria a única forma de mitigar mais mortes. Quem diz isso não sou eu, mas a ciência e países que adotaram a medida. Atuando em Porto Alegre, uma profissional da saúde me relatou: "As pessoas chegam morrendo e, enquanto a gente vai atender, uma outra que já está lá também passa mal. Quando morre, a gente já sai desconectando tudo para conectar em outro. Tá horrível. Eu chorei mais de uma vez enquanto segurava a máscara de alguns pacientes. Botamos um lençol em cima [quando vem a óbito], empurramos para o canto e já vamos atrás do próximo. É muito cruel". Cruel e também indignante ver que, na semana em que economistas e banqueiros da elite econômica do país soltaram um manifesto duro (e tardio) com críticas a Bolsonaro, o presidente teve a cara de pau de ir mentir em rede nacional e exaltar a atuação de seu governo. Um governo que chegou a cogitar criar novo espaço para o pior ministro da saúde da história (o general Pazuello) para agora, como ex-ministro, ele ter foro privilegiado diante da gestão de morte que conduziu. Parece que, por hora, a manobra não emplacou. E veja você, nem bem assumiu o posto, o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, já causa espanto ao esconder os verdadeiros números de mortes diárias. A situação é uma espécie de déjà vu, como previu o filósofo Vladimir Safatle em entrevista para a jornalista Marina Amaral, que disse há um ano que “Bolsonaro se acha capaz de esconder os corpos”.
Mesmo com a mudança de tom do ex-capitão em relação a vacinação, sabemos que é tudo discurso vazio de um governo que orquestrou a disseminação do vírus. O Brasil hoje é uma ameaça mundial. Por isso, como disse o jornalista Renato Terra em seu twitter, "cuidado com essa nova variante do Bolsonarismo". Ela pode ser ainda mais perigosa. E mata.
Thiago Domenici, editor e repórter na Agência Pública |
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Pauta Pública. Nesta edição especial dos 10 anos da Pública, nossas fundadoras, Marina Amaral e Natalia Viana, contam falam sobre os desafios de criar a primeira agência de jornalismo investigativo do Brasil. Elas responderam perguntas de nossos repórteres e de Aliados e fizeram um panorama não só desta primeira década, mas do presente e do futuro do jornalismo no Brasil. Ouça já o novo episódio do podcast Pauta Pública. |
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O que você perdeu na semana "Bolsa-estupro". O projeto de lei para a criação do "Estatuto da Gestante", que está em tramitação no Senado, quer proibir o direito ao aborto legal no Brasil. De autoria do senador cearense Eduardo Girão (Podemos), o PL 5435/2020 também quer incentivar as vítimas de estupro a não abortarem mediante pagamento de auxílio financeiro.
Caso Samarco. Registros de reuniões feitas entre o juiz responsável pelo caso do desastre de Mariana e advogados do Espírito Santo em 2020 e 2021 indicam uma possível suspeição do juiz Mário de Paula Franco Júnior. Nos vídeos, obtidos com exclusividade pelo Observatório da Mineração, o juiz da 12ª Vara Federal de Minas Gerais admite que muita gente que não deveria receber nada vai receber e quem deveria receber vai ficar de fora.
Covid-19 na América Latina. Mesmo já tendo imunizado quase seis milhões de pessoas, o Chile colocou em quarentena 13,7 milhões de cidadãos a partir desta quinta-feira (25), dos cerca de 19 milhões de habitantes do país. A ocupação de leitos em UTIs chega a 95% na rede pública e privada em nível nacional, que funcionam de forma integrada em resposta à crise sanitária.
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Últimas do site Conservação das florestas. Novo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre conservação das florestas “ressalta e evidencia tudo o que é negado por Bolsonaro”, avalia líder indígena. Em entrevista à Agência Pública, a médica indígena Myrna Cunningham, presidente do Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe (Filac), afirma que o Brasil não é um risco apenas para os povos tradicionais da América Latina, mas para o mundo inteiro. Pública +10. O último dia de conversas do festival Pública+10 trouxe a diretora do Instituto Marielle Franco e pesquisadora, Anielle Franco, para debater a “barbárie na política” com o sociólogo e professor José Cláudio Souza Alves. O assassinato da vereadora Marielle Franco foi uma das questões abordadas. “Há mais de 500 anos o discurso bélico de segurança pública serve para perseguir e matar pessoas negras no Brasil. A gente não se cala, mas a gente tem que se cuidar”, afirmou Anielle. Para encerrar o evento, o ambientalista Ailton Krenak e a professora Déborah Danowski conversaram sobre o negacionismo científico e a emergência climática: “Nós temos um tempo para mudar o roteiro, se a gente não mudar o roteiro nós vamos nos transformar em um caos geral”, resumiu Krenak. Operação Mussulo. O resort paradisíaco Mussulo, que simbolizou luxo e prosperidade por dez anos no litoral da Paraíba, fechou sob acusações de dar calote nos funcionários e clientes. Mas investigações do Ministério Público apuram que o empreendimento estaria ligado a um esquema de lavagem de dinheiro que envolveria políticos e empresários angolanos e portugueses, bancos, a Sonangol – maior petrolífera de Angola – , empresas offshores e imóveis no Brasil.Nova caça às bruxas. Conhecida por livros como “Calibã e a Bruxa” e “Mulheres e Caça às Bruxas", a filósofa, escritora e professora italiana Silvia Federici aponta que os movimentos feministas têm reivindicado com mais força questões antigas como o trabalho doméstico e reprodutivo. Ela também encara a extrema-direita e o fundamentalismo religioso como as maiores estruturas de controle feminino atualmente. |
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Pare para ler Defesa dos Kalunga. Pela primeira vez em 300 anos, o maior quilombo remanescente do Brasil conhece cada centímetro de seu território. Graças a um projeto inédito de georreferenciamento, os Kalungas puderam mapear a ocupação, os recursos naturais, as melhores terras para cultivo e as áreas sob ameaça de invasões dos 262 mil hectares da área onde vivem, no norte de Goiás. |
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