QUEM INDICOU MENDONÇA FILHO PARA O MEC
Michel Zaidan Filho*
Permaneci esse tempo todo intrigado com
o modo como foi indicado o deputado pernambucano José Mendonça Filho (o
"Mendoncinha") para o Ministério da Educação.
No início, pensei que fosse retribuição
pelo seu ingente trabalho conspiratório contra a Presidente da República, mesmo
desmerecendo com isso a importância da Educação, nesse ministério de
"homens, brancos e ricos", como disse a nossa Presidenta.
Conheço o deputado pernambucano há vários
anos, mas nunca tinha visto nele nenhuma vocação especial para tratar de
políticas públicas para a Educação. "Mendoncinha" é natural de Belo
Jardim (PE) e filho de um ex-deputado do PFL, José Mendo Bezerra. É casado com
a filha do genro do coronel Chico Heráclito, de Limoeiro, e senador biônico,
Marcos Vinícius Vilaça, que apesar de posar de literato e intelectual, nunca se
referiu ao genro, de maneira intelectualmente elogiosa.
Há pouco, descobri através de uma das
minhas leitoras que ele tinha sido professor dela. E ótimo professor! Fiquei
matutando que disciplina o colega de Belo Jardim teria lecionado. Depois
descobri que ele tinha sido presidente de uma Associação de Avicultores. Daí
passei a achar que ele tivesse conhecimentos de galináceos e seus correlatos.
O colega foi duas vezes à Pós-graduação
de Ciência Política, a meu convite. Mas foi "puxado" pelo seu tio, o
saudoso empresário Edson Moura Mororó, de quem me considerei amigo até o dia de
sua morte. Foi Dr. Edson quem rebocou o sobrinho (como faria com o ex-senador
Marco Maciel) a atender o meu convite. Em nenhuma das vezes, o deputado do DEM
(e conspirador) demonstrou dotes oratórios, intelectuais ou mesmo políticos;
chegou a mostrar nervosismo e derramar uma xícara de café. Depois disso, Mendoncinha
não voltaria a aceitar nenhum convite para ir ao Programa, apesar das
promessas...
Qual não foi, então, a minha surpresa
quando soube de sua nomeação pelo usurpador interino para Ministro da
Educação! E, por extensão, da Cultura.
Fiquei pensando: cultura avícola? Ou quem sabe lupina? - Agora vem o esclarecimento que foi o
empresário dos serviços educacionais, Janguiê Diniz, dono da Faculdade Maurício
de Nassau, quem bancou a indicação do nome de José Mendonça Filho para o
Ministério da Educação!
Mais ainda, o empresário educacional
conseguiu também emplacar o nome do economista Maurício Romão para a Secretaria
de Regulação e Supervisão, do MEC, órgão responsável pela licença e autorização
para funcionamento de novos cursos. Vocês imaginem como é colocar uma raposa no
galinheiro e avaliem o resultado dessa astuta operação: o dono da faculdade
privada interfere diretamente no órgão responsável pela fiscalização do seu
negócio!
Não foi à-toa que o ministro entrou com
uma ação no STF para derrubar as cotas dos estudantes nos cursos superiores
públicos e agora se saiu com a ideia extraordinária de autorizar a cobrança de
mensalidades nas IESs públicas. Dissipou-se o mistério da indicação do deputado
de Belo Jardim: representante de interesses privatistas no Ministério da
Educação.
Tal como o da Saúde, o deputado Ricardo
Barros, quer acabar ou diminuir o SUS, atendendo ao pedido das empresas
privadas de Saúde. E o das cidades, o menudo Bruno Araújo, pretende acabar ou
diminuir com o programa de habitação popular. E o do Desenvolvimento Social,
ansioso em acabar ou diminuir as políticas compensatórias de redistribuição de
renda. E o das Relações Exteriores, acabar com a política externa multilateral,
Sul-Sul, do governo LULA, para voltar à subserviência do Brasil aos interesses
norte-americanos.
Esse ministério não é só de homens,
brancos e ricos. Ele é o ministério da privatização grosseira, brutal,
antipopular e antinacional. Perguntaram-me porque tantos pernambucanos estavam
nesse ministério do temerário amigo de Eduardo Cunha, o desventuroso. A
explicação é uma só: troca-troca, compra e venda, fisiologismo puro. Nunca
ficou tão clara e revelada a vocação desses políticos provincianos em vender o
apoio - para causas tão deprimentes - em troca de alguma visibilidade, de
alguma notabilidade, mesmo à custa de um golpe e da destruição das políticas
redistributivas.
Não se preocupam com nada, nem com
ninguém. Só com os cargos e os dividendos políticos que eles podem trazer.
Lamentável essa crise de representação parlamentar. Ela só contribui para
aumentar a descrença do cidadão comum nos políticos e pavimentar a estrada para
os aventureiros de toda estirpe.
*Michel Zaidan Filho é professor da UFPe
Nenhum comentário:
Postar um comentário