Igor: "Em 15 anos de chavismo nunca vi uma notícia positiva. Será que os venezuelanos são burros"?
"Em
debate na Globonews, Igor Fuser, professor de Relações Internacionais
da UFABC, explica a crise, derruba o mito da ‘falta de liberdade’ no
país vizinho e desnuda a parcialidade da imprensa
Paulo Donizetti de Souza, RBA
O professor
de Relações Internacionais da USP José Augusto Guillon e a apresentadora
Mônica Waldvogel, do programa Entre Aspas, da Globonews, chegaram ao
limite da gagueira, nesta terça (18), durante debate a respeito da crise
na Venezuela com a participação do jornalista Igor Fuser, do curso de
Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC). O debate
começa dirigido, ao oferecer como gancho para a discussão a figura de
Leopoldo López, o líder oposicionista acusado de instigar a violência
nos protestos das últimas semanas, e preso ontem.
Diz a
narração de abertura: “Ele é acusado de assassinato, vandalismo e de
incitar a violência. Mas o verdadeiro crime de Lopez, se podemos chamar
isso de crime, foi convocar uma onda de protesto contra o governo de
Nicolás Maduro. Protestos seguidos de confrontos que deixaram quatro
mortos e dezenas de feridos”. E segue descrevendo que a violência
política decorre da imensa crise no país – inflação, falta de produtos
nas prateleiras, criminalidade em alta. Ainda no texto de abertura, na
voz de Mônica, o governo é acusado de controlar a economia e a Justiça,
pressionar a imprensa e lançar milícias chavistas contra dissidentes. E
encerra afirmando que Leopoldo Lopez, na linha de frente, reivindica
canais de expressão para os venezuelanos, e abrem-se as aspas para
Lopez: “Se os meios de expressão calam, que falem as ruas”.
Do início ao
fim do debate, com serenidade e domínio sobre o assunto, Igor Fuser leva
a apresentadora e o interlocutor às cordas. Reconhece as dificuldades
políticas do presidente Nicolás Maduro e a divisão da sociedade
venezuelana. Mas corrige os críticos, ao enfatizar que o país vive uma
democracia, e opinar que a campanha liderada por López é “golpista”, ao
ter como mote a derrubada do governo legitimamente eleito com mandato
até 2019.
Fuser informa
que em dezembro se cristalizou um processo de diálogo entre governo e
oposição, então liderada por Henrique Capriles, derrotado nas duas
últimas eleições presidenciais por margem muito pequena de votos. E que a
disposição ao diálogo levou a direita mais radical a isolá-lo,
permitindo a ascensão de figuras como Leopoldo López. Indagado se não
seria legítimo as manifestações da ruas pedirem a saída do governo, como
foi no Egito ou está sendo na Ucrânia, o professor da UFABC resume que
as manifestações na Ucrânia são conduzidas por nazistas, e no Egito a
multidão protestava contra uma ditadura. Lembra que na Venezuela houve
quatro eleições nos últimos 15 meses, que o chavismo venceu todas no
plano federal, mas que as oposições venceram em cidades e estados
importantes, governam normalmente e as instituições funcionam, e que a
Constituição é cumprida.
Questionado
sobre a legitimidade da Constituição – que teria sido sido aprovada
apenas por maioria simples – informou que a Carta, depois de passar pelo
Parlamento, foi submetida a referendo popular e aprovada por 80% dos
venezuelanos – o que inclui, portanto, mais da metade dos que hoje votam
na oposição. E à ironia dos debatedores, de que seria paranoia das
esquerdas acusar os Estados Unidos de patrocinar uma suposta tentativa
de golpe, esclareceu: os Estados Unidos estiveram por trás de tantos
golpes da América Latina – na Guatemala nos anos 1950, no Brasil em
1964, no Chile em 1973, na própria Venezuela em 2002 – que não é nenhum
absurdo supor que estejam por trás de mais um. E que também não é
absurdo, em nenhum país do mundo, expulsar diplomatas que se reúnem com a
oposição como se fossem dela integrantes.
O jornalista
desmontou também os argumentos de que o país sofre de ausência de
liberdade de expressão. Disse que o governo dispõe, de fato, de jornais,
canais de rádio e de televisão importantes, mas que dois terços dos
veículos de imprensa da Venezuela são controlados por forças
oposicionistas. E que o que existe na Venezuela seria, portanto, a
possibilidade de contraponto. E Fuser foi ferino no exemplo dos
problemas que a ausência de diversidade nos meios de comunicações causam
à qualidade da informação:
“Sou
jornalista de formação e nunca vi nem na Globo nem nos jornais
brasileiros uma única notícia positiva sobre a Venezuela. Uma única. A
gente pode ter a opinião que a gente quiser sobre a Venezuela, é um país
muito complicado. Agora, será que em 15 anos de chavismo naõ aconteceu
nada positivo? Eu nunca vi. Não é possível que só mostrem o que é
supostamente ruim. Cadê o outro lado? Será que os venezuelanos que
votaram no Chávez e no Maduro são tão burros, de votar em governo que só
faz coisa errada?”
Vale a pena assistir aos 26 minutos de programa. Essa crítica à Globo em plena Globo está nos dois minutos finais.
E fecha aspas! Fecha aspas!"
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