O modelo dos
golpes da CIA
A maior quantidade de entusiastas do status quo pode ser encontrada na
sede da Agência Central de Inteligência dos EUA [tão secreta que o nome jamais
é traduzido], a conhecida CIA, em Langley, Virginia. Com muitas nações em todo
o mundo tentando livrar-se das garras políticas, militares e financeiras de
Washington, a CIA está voltando a recorrer ao velho manual, para lidar com
governo recalcitrantes.
Wayne
Madsen*
Depois de ter ajudado a fomentar uma rebelião na Ucrânia, contra o
governo democraticamente eleito do presidente Viktor Yanukovych, o aparelho de
propaganda de Washington – centralizado na organização National Endowment for
Democracy (NED), na Agency for International Development (USAID) e no Instituto
Sociedade Aberta [Open Society, OSI] de George Soros – está focado na
Venezuela.
A Venezuela identificou três funcionários da embaixada dos EUA em
Caracas, que estavam em contato com manifestantes da oposição e ajudando a
planejar tumultos antigoverno por todo o país. Os três "funcionários
consulares” dos EUA – Breann Marie McCusker, Jeffrey Gordon Elsen e Kristopher
Lee Clark – foram expulsos do país, pelo governo da Venezuela. Em outubro
passado, o país expulsou outros três diplomatas dos EUA –chargés
d’affairesKelly Keiderling, David Moo e Elizabeth Hoffman – também por estarem
ajudando a promover agitação interna no país. Os seis supostos diplomatas
trabalhavam em atividades frequentemente associadas aos agentes da CIA, como "serviço
clandestino oficial”.
Exatamente como no caso do embaixador dos EUA em Kiev, Geoffrey Pyatt,
e da secretária de Estado assistente para Assuntos Europeus e notória visitante
boca-suja Victoria Nuland, que se encontraram com líderes da oposição ucraniana
para ajudar a planejar os protestos antigoverno, os diplomatas norte-americanos
em Caracas foram acusados de estar trabalhando ao lado do grupo de oposição
reunido em torno de Leopoldo Lopez, o agente de interesses de empresas
norte-americanas treinado em Harvard. O governo venezuelano descobriu que
Lopez, como outro líder da oposição venezuelana, Henrique Capriles Radonski,
recebem apoio financeiro clandestino da CIA, que lhes chega através de NED e
USAID, para planejar protestos e ações de sabotagem contra o governo eleito da
Venezuela.
Já se conhecem os laços que unem o partido Voluntad Popular de López e organizações associadas ao
ex-presidente da Colômbia Alvaro Uribe, da direita pró-Israel, com pegadas
óbvias da CIA e de narcoterroristas; nesse caso, o dinheiro chega ao partido de
Lopez por ONGs colombianas mantidas por George Soros e Uribe, como a Fundación
Centro de Pensamiento Primero Colombia e
Fundación Internacionalismo Democratico.
A embaixada dos EUA em Caracas, como no caso de Kiev e Moscou, sempre
serviu como espaço virtual para planejamento de protestos pela oposição
financiada pelos EUA na Venezuela. A única coisa que os cabeças da oposição
ucraniana Arseniy Yatsenyuk, Vitali Klitschko e Oleh Tyahnybok; da oposição
russa Alexei Navalny e Garry Kasparov; e da oposição venezuelana Lopez,
Capriles e Maria Corina Machado têm em comum é passe livre para entrar nas
embaixadas dos EUA em suas respectivas capitais quando bem entendam, e sair,
levando a maior quantidade de dinheiro que consigam transportar.
Traço que une as campanhas de desestabilização organizadas e promovidas
pela CIA na Ucrânia e na Venezuela é, nos dois casos, a arregimentação de
fascistas locais, para as forças antigoverno. Na Venezuela, apoiadores
reacionários de antigos regimes oligárquicos fascistas são aliados espontâneos
dos EUA; e na Ucrânia, os fascistas reunidos em torno de Tyahnybok garantem a
conexão continuada entre a oposição ucraniana e EUA-Israel.
Um relatório da CIA recentemente tornado público, datado de 4/4/1973,
anotava que já durante o tempo da República Socialista Soviética Ucraniana o
Partido Comunista recomendava "vigilância estrita sobre o nacionalismo e o
sionismo na Ucrânia” – apresentados como ameaças gêmeas já então, na Ucrânia.
Como se vê hoje, pouca coisa mudou na natureza e na orientação da oposição
ucraniana.
Além de abastecer os cabeças da oposição venezuelana com dólares, os
EUA e seus banqueiros nunca cessaram de atacar a economia e a moeda
venezuelanas, usando a imprensa-empresa privada para espalhar notícias falsas
sobre ‘desabastecimento’ e carência de produtos básicos (itens sempre citados
são papel higiênico, sal e açúcar) na Venezuela. Esse é um velho truque da CIA,
que sempre o usou contra o governo de Cuba e de outras nações cujos governos
opõem-se ao imperialismo norte-americano.
A mesma tática de usar a imprensa-empresa privada para disseminar
‘notícias’ sobre carência de produtos está sendo usada pela CIA contra o
governo da primeira-ministra Yingluck Shinawatra apoiada pelos Camisas Vermelhas
na Tailândia; lá o que estaria faltando nas prateleiras seria arroz; e a
carência estaria acontecendo porque a primeira-ministra insiste em vender arroz
à China.
A campanha conduzida pela CIA contra Yingluck resultou em denúncias já
formalizadas contra o primeiro-ministro por uma das ONGs da "sociedade
civil” típicas do modelo que Soros promove, a Comissão Nacional Contra a
Corrupção – criação dileta dos monarquistas Camisas Amarelas e falsos "reformadores”
constitucionais, como o octogenário Amorn Chantarasomboon.
Exatamente como a CIA já fizera antes, quando tentou golpe fracassado
contra o presidente Hugo Chávez em abril de 2002, a Agência e seus prepostos
locais lançaram ataques de propaganda contra a PDVSA – a empresa estatal
venezuelana de petróleo – proprietária da CITGO nos EUA. Os veículos de
propaganda da CIA estão divulgando o meme de que a PDVSA seria tão corrompida e
moribunda, que a Venezuela já estaria sendo forçada a importar gasolina dos EUA.
É história absolutamente falsa, mas a imprensa-empresa privada, inclusive os
veículos e ‘fontes’ que constituem a rede global de propagandistas mantida por
Soros, dedicam-se a repetir incansavelmente sempre a mesma mentira, como se
fosse fato.
A imprensa-empresa privada, principalmente The Miami Herald, porta-voz
das perversões e fantasias dos oligarcas venezuelanos exilados no sul da
Florida, exatamente como faz também com os cubanos de direita e com os
sionistas nacionalistas que vivem em comunidades fechadas de leitores, também
não se cansa de repetir que a Venezuela está sofrendo massiva onda de crimes,
porque o presidente Nicolas Maduro é incapaz de prover segurança aos cidadãos.
Esse é outro dos velhos truques da CIA, sempre usado para minar governos estáveis
em todo o mundo, Iraque, Paquistão e Afeganistão, por exemplo: oferecer ajuda e
meios a terroristas e ao crime organizado locais, para que ataquem a população
civil.
A CIA já usou esse mesmo jogo para fazer sabotagem econômica contra o
governo socialista do presidente Salvador Allende no Chile. Na Venezuela, a CIA
ataca a indústria do petróleo. No Chile, a CIA usou ataques contra a indústria
do cobre, para sabotar a base da economia chilena, antes de lançar o sangrento
ataque do dia 11/9/1973, quando o presidente Allende foi assassinado, e começou
o massacre de seus apoiadores, por esquadrões da morte treinados pelos EUA.
Outros países latino-americanos estão atentos aos ataques clandestinos
dos EUA contra a Venezuela. Os EUA suspenderam formalmente a ajuda econômica
que davam à Bolívia, depois que o governo de Evo Morales expulsou do país os
representantes da USAID, acusados de fomentar a rebelião no país. O presidente
do Equador Rafael Correa anunciou formalmente que seu país está-se retirando do
Tratado Interamericano de Mútua Assistência – fachada inventada pelo Pentágono
para ‘legalizar’ a implantação de bases militares dos EUA em países
latino-americanos.
Mas, para a CIA, a difícil situação que os EUA enfrentam na América
Latina ainda pode ser revertida. Derrubar o governo da Venezuela, por golpe da
direita, é ação que, segundo a Agência, pode conter e fazer reverter as
tendências de esquerda em outros países.
Memorando de Inteligência da CIA, datado de 29/12/1975, intitulado
"Relações Externas em mutação na América Latina” registra a esperança de
que o sangrento golpe contra Allende em 1973 tenha tido resultados benéficos
para os EUA. Para a CIA, o fim do governo de Allende e de seu "Terceiro
Mundismo” ajudaria a pôr fim à "demagogia” do presidente Luis Echeverria
do México, e às políticas para o petróleo de líderes do Equador e Venezuela na
OPEC. A CIA errou, como sempre, em sua avaliação da América Latina.
Não só o México, Equador e Venezuela resistiram à pressão
norte-americana (os dois últimos foram punidos com a exclusão do Tratado de
1974 de redução de tarifas, sob a lei de Reforma do Comércio dos EUA), mas o
Chile votou na Assembleia Geral da ONU contra os EUA e a favor de uma resolução
que definiu o sionismo como racismo.
Dado que pressões sutis pela CIA em meados dos anos 1970 não levaram ao
resultado esperado na América Latina, a CIA está agora recorrendo a velhos
métodos bem testados, para calar seus opositores na América Latina. Os
assassinatos do panamenho Omar Torrijos e de Jaime Roldos presidente do Equador
– ambos conhecidos por suas políticas anti-EUA, mostraram ao mundo que os EUA
não pensam duas vezes ante nenhum tipo de crime.
Hoje, o presidente Obama já mostrou que nada mudou: Obama autoriza
semanalmente os "assassinatos premeditados” – operações clandestinas para
eliminar pessoas (também civis) que se oponham à dominação norte-americana.
* Strategic Culture Foundation
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