Falso moralismo? Deputado que pede impeachment de Dilma recebe por cargo que não exerce
Na última terça-feira (31), o deputado
Raul Jungmann, do PPS de Pernambuco – correligionário e conterrâneo de
Roberto Freire – se juntou a colegas deputados do DEM e PSDB para bater
na porta do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para pedir
que ele reconsidere sua decisão e peça abertura de inquérito para
investigar se a presidenta Dilma Rousseff estaria de alguma forma
envolvida no esquema de propinas na Petrobras, no âmbito da Operação
Lava Jato, da Polícia Federal. Jungmann, aliás, é o autor do pedido. Mas
se a preocupação do recém empossado deputado for moralização e zelo com
a coisa pública, ele deveria começar dando o exemplo.
(via Rede Brasil Atual)
Raul Jungmann mantém dois mandatos eletivos, um de deputado federal e outro de vereador em Recife. Há
um mês e meio, ele assumiu na Câmara Federal a vaga deixada por
Sebastião Oliveira (PR), também de Pernambuco e atual secretário
estadual dos Transportes. Porém, em vez de renunciar ao cargo na Câmara
Municipal de Recife, ele apenas se licenciou do mandato de vereador.
Em fevereiro, inclusive, Jungmann
recebeu o salário integral pela vereança, mesmo tendo deixado a Câmara
no dia 14 daquele mês. As informações estão no Diário Oficial e no Portal da Transparência da Câmara Municipal.
A assessoria de Jungmann disse ao Jornal do Commércio,
de Recife, que devolverá aos cofres públicos R$ 5.366,14. “Uma guia de
recolhimento foi enviada ao deputado com a informação que ele deixou a
Câmara do Recife no dia 20 de fevereiro e recebeu um valor maior. O
documento foi assinado pelo diretor da divisão de pessoal”, diz a nota.
Continua errado. Como o deputado começou
a receber em Brasília a partir de 12 de fevereiro, como comprova o
portal da transparência da Câmara dos Deputados, só pode ser remunerado
pela Câmara do Recife até o dia 11, pois é proibido acumular os dois
cargos. Se receber até o dia 20 de fevereiro, como informou a
assessoria, continua na situação de vereador “fantasma” na folha de
pagamento por nove dias.
Mas até a licença de Jungmann do cargo
de vereador é polêmica. Alguns juristas consideram que, se o parlamentar
optou por exercer o mandato federal, deveria renunciar ao de vereador
em vez de apenas licenciar-se. Há quem defenda que, ainda que não receba
salários, ele continuará acumulando dois cargos. Seria interessante
saber porque Jungmann prefere continuar vereador, mas ser deputado e não
seguir a Constituição à risca.
Segundo a assessoria do polivalente
parlamentar, a Câmara Municipal lhe deu um parecer jurídico favorável à
licença, que foi aceito pela Câmara dos Deputados, alegando ser ele
suplente e não titular do mandato federal. Disse ainda que “essa mesma
decisão já foi tomada em situações semelhantes, em outros lugares, como
São Paulo”. É mais do mesmo e mais uma vez. Pode ser até legal, mas
importaria debater se é ou não imoral, especialmente vindo de quem chega
se dizendo mais um arauto do combate à corrupção.
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