segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Artistas contra Temer fazem protesto na Bienal

Cultura

Resistência

Artistas contra Temer fazem protesto na Bienal

Integrantes do grupo Aparelhamento planejam ações antigolpe subsidiadas por um fundo arrecadado com o leilão de suas obras
por Rosane Pavam — publicado 05/09/2016 20h50
Anna Carolina Negri
A ideia tomou corpo quarta-feira, 31 de agosto, dia do golpe. Reunidos, os artistas do coletivo Aparelhamento decidiram que era hora de gritar contra Michel Temer em um dos palcos de maior visibilidade para a arte brasileira e mundial, a 32ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, que abre dia 7 e prossegue em cartaz até 11 de dezembro no Parque Ibirapuera.
Durante a entrevista coletiva que anunciava o evento, nesta segunda-feira 5, treze deles surgiram no pavilhão com suas camisetas brancas e negras, nas quais se liam os dizeres Luto pela Democracia, Fora Golpistas, Fora Temer, Eu quero votar pra presidente e Jamais Temer.
Os ativistas, também ligados em seu trabalho pessoal à produção artística (Cristiano Lenhardt, Bárbara Wagner e Jonathas de Andrade têm obras exibidas na grande exposição), gritaram seu protesto ao término da fala dos curadores.  E artistas internacionais cujo trabalho está presente na bienal, como Carolina Caycedo, nascida em Londres e residente na Colômbia, também aderiram ao protesto (na camiseta preta vestida pela artista, estava a inscrição Diretas Já).
Durante a intervenção, o artista Amilcar Packer lembrou que é preciso estancar a repressão em curso em São Paulo. Ressaltou a ação injustificada da Polícia Militar no dia 4, que levou à detenção, sem possibilidade de acesso de advogados, de 26 ativistas, cinco deles, menores, na Departamento Estadual de Investigações Criminais, o Deic, sob risco de reclusão por “associação criminosa”.
“Michel Temer disse que a incerteza acabou”, pronunciou-se o curador Jochen Volz, que concedeu à bienal o título Incerteza Viva. “Queremos discutir as incertezas, as formas de viver com o desconhecido.” E não somente isto, conforme atestou a curadora Júlia Rebouças. “Assistimos ao fim de vários mundos. Há a necessidade de mobilização urgente depois de 31 de agosto.”
Os 80 artistas de 33 países, presentes à edição, respondem à necessidade de, como afirma Volz, “desvincular a incerteza do medo”, e mobilizar a arte pelo ideal de reconstrução ambiental e de identificação com causas sociais e de gênero. Capitaneada por uma representação de três conjuntos de esculturas de Frans Krajcberg (Gordinhos, Bailarinas eCoqueiros), a partir de troncos calcinados, a bienal parece mobilizada para se transformar em palco de manifestações como a do coletivo Aparelhamento.
Em julho, os artistas do grupo ocuparam a Fundação Nacional das Artes, a Funarte, em São Paulo, e concluíram sua intervenção com um leilão. Dos 260 integrantes do grupo, 31 venderam suas obras (o grupo não informa o valor total arrecadado) para que um fundo possibilitasse suas ações. “Consideramos a possibilidade de doar uma parte do que arrecadamos para o financiamento das ações dos advogados ativistas e dos jornalistas livres”, disse Lourival Cuquinha, integrante do Aparelhamento (cinquenta entre aqueles pertencentes ao grupo dedicam-se ao ativismo constante).
O artista Daniel Lima, ligado ao coletivo, tem um trabalho em curso. Intitula-se Cartografia do Golpe Branco, que espera distribuir em instituições como escolas, para esclarecer o público sobre os entendimentos que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff. “Sim, o golpe é jurídico. Sim, o golpe é racista. Sim, o golpe é elitista. Sim, o golpe é midiático. Sim, o golpe é machista”, escreve Lima. “Quais são os futuros da democracia quando legitimada por um Poder Judiciário muitas vezes com tendência à direita, às ideias conservadoras e antidemocráticas?”

Fonte: Carta Capital

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