segunda-feira, 5 de setembro de 2016

'Democracia foi julgada junto comigo', diz Dilma Rousseff à imprensa internacional


'Democracia foi julgada junto comigo', diz Dilma Rousseff à imprensa internacional


Em entrevista, ela criticou repressão a manifestações contra novo governo e disse que Michel Temer, eleito como seu vice, deve 'cumprir contrato feito nas urnas'
Dilma Rousseff, presidente eleita do Brasil e recém-destituída, afirmou nesta sexta-feira (02/09) à imprensa internacional que “a democracia foi julgada junto comigo” durante o processo que culminou com seu impeachment pelo Senado federal, na quarta-feira (31/08).
Para a agora ex-presidente, o impeachment que sofreu se configura como um golpe parlamentar não apenas por ter sido condenada sem ter cometido crime de responsabilidade, como defende, mas por ver “um programa, que não é o eleito nas urnas,” ser executado.
“Que processo é esse que, ao mesmo tempo em que retira a presidente da República — ou mesmo antes de ela sair —, começa a executar um programa de governo que não tem o menor respaldo nas urnas? Não foi esse programa de governo que levou a mim e, infelizmente junto comigo, o vice [à Presidência]”, disse Dilma.

Roberto Stuckert Filho/PR

Dilma disse que Temer será "antidemocrático" se não respeitar programa eleito nas urnas
“Se ele [Michel Temer] se dá o direito de usar a condição de vice para assumir a Presidência, ele tem também que usar a condição de vice para cumprir com o contrato feito nas urnas. Caso contrário, ele é antidemocrático”, afirmou.
Para Dilma, o golpe que foi dado corrói a democracia, como um “parasita”. Porém, insinuou que o país está caminhando para a destruição da democracia, que começa “quando há uma perda de direitos generalizada”, como o direito à liberdade de manifestação.
 

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“Primeiro vão e furam o olho de uma menina, depois matam alguém, como mataram o Edson Luís [de Lima Souto, secundarista assassinado pela polícia militar em 1968]. Eu estava naquele dia. Depois dizem que a culpa é do manifestante. Isso é algo que todo o pessoal da minha geração não pode compactuar. A força do Estado é muito maior que a força das pessoas. O poder do Estado para reprimir é muito forte, não pode fazer isso. Assim começam as ditaduras”, disse a ex-mandatária.
“Ninguém pode acusar o meu governo de ter sido pouco democrático e repressor. Nós respeitamos a voz das ruas, mesmo quando havia protestos que levavam à violência e intolerância. Não é possível que não possa falar o que se quer, como ‘Fora Temer’. Quando você começa a ter medo das palavras é que se inicia o processo repressivo, arbitrário e autoritário”, declarou.
E afirmou ainda preferir “a voz surda das ruas ao silêncio das ditaduras”. “Porque eu convivi com o silêncio das ditaduras”.

Agência Efe

Manifestação contra Temer no Rio de Janeiro
Segundo Dilma, ela irá apoiar as manifestações e ficará atenta às repressões como parte de sua atuação política futura. “Eu tenho sempre a disposição de contribuir dentro das minhas possibilidades para que o Brasil seja um país mais desenvolvido, justo e democrático, sobretudo”, mas disse que não fará “planos para hoje ou amanhã”.
“Eu sempre fiz política na minha vida e de diferentes jeitos. Eu respeito a representação parlamentar, mas eu sempre fui ou militante sem mandato ou eu fui presidente da República”, afirmou.
Recurso contra impeachment
Dilma, que concedeu a entrevista ao lado de seu advogado, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, também falou sobre o seu recurso contra a decisão do Senado, dizendo que recorrer “é a forma correta de combater o golpe parlamentar”.
“Como você combate? Com diálogo e crítica por um lado e com verdade e disputa de versões por outro. Por que temos que ir a todas as instâncias? Porque nós queremos ganhar, mas, mais do que isso, queremos que as instituições se fortaleçam”, afirmou a presidente destituída.
Ela disse respeitar o Senado enquanto instituição, apesar de não concordar com os senadores.
Também foi abordada a possibilidade de o STF (Supremo Tribunal Federal) rever a segunda votação, que decidiu não inabilitá-la durante oito anos, visto que membros do PSDB, DEM e PPS entraram com um recurso para anular a segunda votação.
Para Cardozo, porém, essa possibilidade é remota, pois poderia anular toda a decisão do Senado e reinstaurar Dilma como presidente afastada e rebaixar Temer a interino.

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