“Doutor, o senhor sem querer talvez entrou nesse
processo. Sabe por quê?”, Porque o vazamento de conversas com a minha mulher e
dela com meus filhos foi o senhor que autorizou”
Ao fim do depoimento ao juiz Sergio Moro
nesta quarta-feira (10), em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
colocou em evidência a relação de Moro com a imprensa nos vazamentos seletivos
que a mídia comercial tem usado para atacar sua imagem. “Doutor, o senhor sem
querer talvez entrou nesse processo. Sabe por quê?”, indagou Lula, “porque o
vazamento de conversas com a minha mulher e dela com meus filhos foi o senhor
que autorizou”.
Nas redes sociais, essa intervenção de
Lula soou como um golpe final, uma chinelada no juiz ou algo semelhante. Ela
aconteceu nas considerações finais do depoimento, depois de Moro desqualificar
seguidamente as críticas de Lula em relação aos vazamentos de delações da Lava
Jato. “Agora o senhor tem essas reclamações da imprensa, eu compreendo, mas
esse realmente não é o foro próprio para o senhor reclamar contra o tratamento
da imprensa. O juiz não tem nenhuma relação com o que a imprensa publica ou não
publica e esses processos são públicos”, disse Moro, dando a deixa para Lula
lembrá-lo do episódio de 2016.
O depoimento de Lula, de cinco horas,
foi o mais longo da Lava Jato. O objeto do processo, o apartamento tríplex do
Guarujá, segundo a tese da acusação, seria parte da propina que Lula teria
recebido da construtora OAS, dona do empreendimento. Mas não há provas que
possam apontar Lula como dono do imóvel.
Nas considerações finais, Lula
caracterizou a ação de Moro como uma perseguição. “Estou sendo vítima da maior
caçada jurídica que um presidente, um político brasileiro já teve. Quando fui
eleito presidente da República, em 2003, eu tinha um compromisso de fé. Eu
tinha consciência de que não podia errar, porque eu me espelhava no Walesa
(Lech Walesa, governou a Polônia de 1990 a 1995), que depois de ter sido sindicalista,
depois de ter sido presidente da República, tentou se reeleger e teve só meio
por cento dos votos. Eu dizia pra mim todo santo dia que eu não tinha o direito
de errar”.
Ao final, Lula protestou contra a
condução coercitiva que o levou a depor na Polícia Federal em março de 2016.
“Eu não tinha o direito de ter a minha casa molestada sem que eu fosse intimado
para uma audiência, ninguém nunca me convidou e de repente eu vejo um pelotão
da Polícia Federal, quando eu saí, levantaram até o colchão na minha casa,
achando que eu tinha dinheiro”.
“Espero que esta nação nunca abdique de
acreditar na Justiça”, disse ainda o ex-presidente e depois chamou a atenção do
atenção de Moro para os ataques da imprensa. “Agora eu queria lhe avisar uma
coisa: esses mesmos que me atacam hoje se tiverem sinais de que eu serei
absolvido, prepare-se, porque os ataques ao senhor, vai ser muito mais forte do
que eles fazem até com ministro da Suprema Corte que não pensa como a imprensa
brasileira hoje”.
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