O depoimento de
Lula na Lava-Jato
Luís Nassif
Estão conseguindo criar um herói, é
impressionante a falta de visão estratégica dos coordenadores da Lava-Jato,
incluindo juízes e procuradores.
O dia 10 de maio poderá ser marcado pelo
renascimento do mito Lula.
O ex-presidente chegou a Curitiba,
recebido por uma multidão de pessoas, apaixonadas, montando uma cena
consagradora nas ruas da cidade.
Em contraposição, no depoimento, o que
se viu foi a verdadeira dimensão dos juízes e procuradores.
De um lado, uma pessoa que se tornou,
durante certo período, o estadista mais festejado do mundo, por incluir milhões
de pessoas na linha do consumo, sendo comparado a vários heróis pacifistas.
E, de repente, por conta da perseguição
política, perde a mulher, Marisa Letícia, por complicações decorrentes de um
acidente vascular cerebral, visivelmente abatida pelas pressões que vinha
sofrendo nos últimos anos
O quadro é de uma pessoa - Lula - que
saiu consagrada do governo, sendo criminalizada durante os últimos dois anos e
meio, sem uma única prova das acusações às quais foi submetida.
A Lava-Jato entra, portanto, na mesma
armadilha do PSDB: a mídia dá o endosso a uma denúncia, conferindo um poder muito
grande de início, mas a falta de inteligência estratégica, tanto dos partidos
que fizeram oposição aos governos petistas, quanto da Lava-Jato, os levaram a
seguir na onda da mídia, e a única coisa que a imprensa sabe fazer é destruir
adversários.
Em nenhum momento da história a mídia
foi capaz de construir a reputação de pessoas de peso.
O papel da mídia é, meramente,
destrutivo. Exemplo é o PSDB, que até anos 1990, tinha formuladores, pessoas
que tentaram pensar linhas desenvolvimentistas para o país, que ficou à reboque
por se aliar às estratégias da imprensa.
A Lava-Jato segue o mesmo caminho, tendo
em vista a imaturidade, já apresentada por representantes da operação, achando
que tinham ganhado uma dimensão pública como salvadores da pátria.
Na verdade, viraram somente mais
personagens da mídia.
Essa é a elite do Ministério Público?
Obviamente que não.
O depoimento de Lula mostra que são
personagens de dimensão menor, que jogaram perguntas genéricas, como
pegadinhas, sem trazer nenhuma comprovação de que, como agentes da Lava-Jato,
tivessem material tangível para encurralar o ex-presidente.
Lula sai do depoimento desse dia 10 de
maio como herói nacional, o primeiro operário a chegar ao poder, que fez um
conjunto de inclusões sociais inéditas na história, e em termos globais, mas
que se meteu no jogo político para garantir a governabilidade com as mesmas
armas dos adversários.
Por isso, acabou se enrolando e, fora do
poder, é vitimizado.
Em meio a essa pressão, não submetida
sobre nenhum outro ex-presidente, Lula perde sua esposa, tem a sua casa e a dos
filhos invadida de forma violenta pela Polícia Federal, no âmbito da Lava-Jato.
Toda essa estratégia irresponsável
deverá comprometer por décadas todo o Judiciário, onde muitos setores que
representam a categoria, incluindo a Ajufe
(Associação dos Juízes Federais do Brasil), só se manifestaram quando os
vazamentos ilegais de áudios da operação atingiram desembargadores.
Um ato mais eficiente contra a corrupção
seria o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) obrigar juízes, desembargadores e
ministros a revelar quanto cobram por cachês das palestras.
Especialmente de um juiz, diretor de um
instituto de ensino em Brasília, que inventou uma denúncia para fechar o
Instituto Lula.
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