terça-feira, 18 de dezembro de 2018
BOLETIM DE ANÁLISE DA CONJUNTURA - DEZEMBRO 2018 FPA
GOLPE CONTRA O ESTADO
Um breve balanço das privatizações no governo Temer
Em dois anos o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI)
do governo Temer foi responsável por um dos maiores desmontes
da estrutura do Estado e das empresas estatais de
que se tem notícias na trajetória do país.
O programa de privatizações iniciado em setembro
de 2016 se propôs a transferir para a iniciativa
privada 175 ativos públicos em dez setores estratégicos,
totalizando 287,5 bilhões de reais. Em dezembro
de 2018, os resultados mostram que foram
conduzidos 91 processos de privatizações de
bens públicos nos dez segmentos prioritários, mobilizando
cerca de 144,3 bilhões, o que significa que
52% dos projetos foram levados a cabo e 50,1% do
valor estimado foi o efetivamente auferido.
A combinação de muitos ativos e setores envolvidos,
mas com poucos projetos concluídos, é sintoma
do descompasso entre a voracidade política e a
ineficiência de gestão que acompanham o programa.
Os efeitos colaterais, portanto, poderiam ser
ainda mais contundentes do que foram.
O PPI envolveu diversos modelos contratuais e
regulatórios, tais como Parcerias Público-Privadas
(PPP), arrendamentos, cessões, concessões, desestatizações
e privatizações. Tais modalidades
podem ser divididas em projetos concluídos, em
andamento e em prorrogação, abrangendo os seguintes
setores: rodoviário, ferroviário, aeroportuário,
portuário, distribuição de energia, transmissão
de energia, geração hidrelétrica, óleo e gás, minérios
e venda de outras empresas estatais e participações
públicas.
Do ponto de vista dos projetos concluídos, o processo
de desestatizações se concentrou fundamentalmente
no setor de petróleo e energia e
se configurou não apenas como um processo de
privatização, mas de desnacionalização, com destaque
para a intensificação da entrada de players
globais como Estados Unidos, China, Inglaterra,
Alemanha, Noruega e Índia.
No que se refere aos projetos prorrogados, tratavam-se
fundamentalmente de concessões ordinárias
de ferrovias e portos. No primeiro caso, o
atraso se deveu à morosidade do governo em levar
adiante suas próprias propostas e, no segundo, os
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GOLPE CONTRA O ESTADO
obstáculos passaram pelos cuidados provocados
pelo escândalo dos portos, envolvendo a figura de
Michel Temer.
Os projetos que permaneceram em andamento,
nos quais se concentra o núcleo duro do PPI, foram
objeto de tentativa de transferência do público
para o privado: cinco empresas públicas por
desestatização; treze aeroportos, nove rodovias e
cinco ferrovias por concessão; dezesseis atividades
portuárias por arrendamento; cinco distribuidoras
de energia por privatização; além da realização de
cinco rodadas de cessões de direito exploratório
sobre minérios e duas rodadas de leilões de áreas
do pré-sal e a sinalização de privatização do Sistema
Eletrobras e outras empresas como Casa da
Moeda, Loteria Instantânea Lotex e a Gestão de
Rede de Comunicações do Comando da Aeronáutica
(Comaer).
A justificativa oficial do governo para o desmonte
das estruturas estatais foi de que a crise fiscal e a
corrupção criaram um cenário que impôs como
necessidade o encolhimento do Estado. Tais justificativas
são contestáveis por si mesmas, na medida
em que desfazer um arranjo institucional de
desenvolvimento é uma orientação que caminha
na contramão das possibilidades de recuperação
econômica do país.
No caso do governo Temer há ainda evidentes
agravantes: o desmonte do Estado não veio acompanhado
de melhora na situação fiscal tampouco
de melhora no enfrentamento contra a corrupção.
Ao contrário, os indicadores e escândalos dão notícia
da piora nesses dois quesitos. Além disso, o descompasso
entre as diretrizes políticas norteadas
pela celeridade do desmonte e a operacionalização
técnica marcada pela morosidade na transferência
de bens públicos, acrescidas dos problemas
oriundos da desnacionalização de recursos naturais
estratégicos, feriram de maneira muito intensa o
poder de atuação do Estado e diminuíram sobremaneira
os instrumentos necessários para a retomada
do bom desempenho econômico do país
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