terça-feira, 18 de dezembro de 2018
POLÍTICA E OPINIÃO PÚBLICA. FPA
POLÍTICA E OPINIÃO PÚBLICA
Julgamento e prisão política de Lula
Um dos principais fatos da conjuntura nacional que
marcaram o ano de 2018 foi a condenação em segunda
instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, no caso do apartamento triplex do Guarujá.
O recurso foi a julgamento em 24 de janeiro no
Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto
Alegre, que, mesmo sem provas, decidiu manter
a condenação do ex-presidente, aumentando a
pena de nove para doze anos.
O julgamento foi mais um capítulo do processo que
teve por objetivo impedir Lula de disputar as eleições
e devolver ao povo brasileiro os direitos perdidos
a partir do golpe de 2016. A partir daí inúmeros
recursos foram colocados pela defesa, sempre negados,
até que, em abril, Sergio Moro executou o
mandato de prisão do ex-presidente Lula.
Depois de mais de 48 horas de resistência, na sede
do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo
do Campo, cercado por amigos, companheiros do
partido, lideranças políticas nacionais e internacionais
e milhares de pessoas que o acompanharam
nesses dois dias, Lula cumpriu a ordem de prisão
em 7 de abril, reafirmando sua inocência, de cabeça
erguida e nos braços do povo. Desde então Lula
permanece preso na sede da superintendência da
Polícia Federal, em Curitiba.
A juíza Carolina Moura Lebbos ficou responsável
pela execução penal da sentença do ex-presidente
Lula e negou a ele uma série de direitos, entre eles
a visita de governadores e senadores que pediram
inspeção para verificar as condições de execução
penal, permitindo acesso apenas a um grupo da Comissão
dos Direitos Humanos do Senado; a visita
de Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz de
1980, que invocou as Regras de Mandela mas também
foi impedido de ter acesso a Lula em um primeiro
momento, assim como o teólogo Leonardo
Boff que ficou de plantão na porta da Polícia Federal
em abril mas só conseguiu visitá-lo um mês depois.
Até mesmo visitas para avaliação médica foram negadas
e só permitidas um mês após sua prisão, colocando
em risco a saúde do ex-presidente.
Em junho, o ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF) Edson Fachin retirou da Segunda Turma do
Supremo e arquivou o recurso especial e extraorEsta
seção traz uma retrospectiva dos principais fatos que marcaram o ano de
2018, com destaque para a prisão arbitrária de Lula e as manobras de Sérgio
Moro para mantê-lo como preso político. Analisa a percepção da opinião pública
sobre a farsa da Operação Lava Jato, bem como as principais medidas para
consolidação do golpe. Faz também uma retrospectiva das eleições presidenciais
de outubro de 2018, denunciando as manipulações que a marcaram.
BOLETIM DE ANÁLISE DA CONJUNTURA - DEZEMBRO 2018
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dinário contra o acórdão que condenou Lula e que
pedia sua liberdade. A suspensão do recurso surpreendeu
a todos pela velocidade da decisão de
Fachin – quarrenta minutos após a homologação
do STF, às vésperas do julgamento marcado pela
presidência da Segunda Turma do STF para analisar
o pedido de liberdade do ex-presidente, em
que a defesa havia apresentado à vice-presidência
da Corte memorial demonstrando a presença
de todos os requisitos para a admissibilidade dos
recursos especial e extraordinário.
Em junho, o ministro do STF Marco Aurélio Mello criticou
o entendimento da Corte de autorizar a prisão
após condenação em segunda instância e admitiu
que a prisão de Lula “fere um dos artigos da Constituição”,
é “ilegal” e “viola a Constituição brasileira”.
Em julho, durante seu plantão, o desembargador
Rogério Favreto, do TRF-4, concedeu habeas corpus
impetrado pelos deputados Wadih Damous,
Paulo Pimenta e Paulo Teixeira, do PT, para Lula ter
direito a participar das campanhas eleitorais, para
que a população tivesse direito a eleições livres e
democráticas. A ordem de Favreto foi desacatada
pelo juiz Sérgio Moro, que interrompeu suas férias
e afirmou que o desembargador, seu superior hierárquico,
não tinha competência para soltar o ex-
-presidente Lula. Favreto expediu outro despacho
determinando à Polícia Federal que cumprisse imediatamente
a ordem de soltura, que foi negada pelo
presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson
Flores, em mais uma manobra da Justiça para manter
Lula preso e impedido de disputar as eleições.
No dia de registro da candidatura de Lula, em 15 de
agosto, a procuradora-geral da República, Raquel
Dodge, se manifestou pedindo que a sua candidatura
fosse negada pelo Tribunal Superior Eleitoral e
registrou pedido de impugnação. Todos os pedidos
de impugnação da candidatura (mais de quinze) foram
analisados pelo ministro Luís Roberto Barroso,
até o prazo final de 17 de setembro.
Essas e outras inúmeras irregularidades, mostraram
o quanto a “Justiça da Lava Jato” tem sido assimétrica,
arbitrária e autoritária, capaz de atropelar qualquer
direito democrático, e tornou claro o caráter
político da prisão de Lula.
O Comitê de Direitos Humanos da ONU assinou
a liminar favorável aos direitos políticos de Lula
e impôs obrigação legal internacional para que o
Brasil os cumpra, já que é membro signatário do
Comitê ONU. A luta segue com novas frentes pela
libertação de Lula.
Percepção sobre a Lava Jato
Mesmo após a prisão do ex-presidente Lula, pesquisas
de opinião pública indicaram o fortalecimento
de sua imagem e o fracasso das teses vendidas
pela grande imprensa. Mesmo como preso
político, Lula se manteve na liderança, com os mais
altos índices de intenção de voto, vencendo em
todos os cenários para primeiro turno na primeira
pesquisa realizada pelo Datafolha após sua prisão,
com mais que o dobro das intenções de voto do
segundo colocado, o deputado Jair Bolsonaro (PSL).
Em junho, pesquisa do Instituto Análise, comandado
por Alberto Carlos Almeida, revelou que 65%
dos brasileiros avaliavam o governo que Lula fez
entre 2003 e 2010 como “bom” e “ótimo”, um número
semelhante àquele de quando ele estava no
poder (66%, em 2004).
Em abril, a Ipsos apurou que 52% discordavam que a
Lava Jato investiga todos os políticos e 47% achavam
que ela não investiga todos os partidos; pela pesquisa
Vox Populi, 52% acreditavam que Lula era tratado
com mais rigor pelos juízes e de acordo com os dois
institutos, respectivamente, 47% e 41% afirmaram
que a Operação nada provou contra Lula. Em julho,
após a intervenção de Moro para o descumprimento
da concessão do habeas corpus pelo desembargador
Favreto, a aprovação do juiz havia baixado para
37% e sua rejeição chegou a 55%.
O governo Temer abriu o ano de 2018 registrando
85% de avaliação negativa. Para encobrir o total
fracasso na aprovação da Reforma da Previdência,
em fevereiro, em meio a um suposto caos noticiado
durante o carnaval no Rio de Janeiro, resolveu
fazer uma intervenção militar na área de segurança
e tentar recuperar parte de sua popularidade.
Em um primeiro momento, a maioria da população
(69%) se disse favorável à intervenção federal e
considerou uma decisão correta, mas apenas 13%,
confiavam que a medida resolveria totalmente o
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problema da violência e a percepção negativa sobre
o governo Michel Temer permaneceu, sendo
avaliado como ruim ou péssimo por 73,3%.
No carnaval, a escola de samba Império do Tuiuti
foi quem melhor conseguiu retratar a insatisfação
generalizada como governo, em um brilhante desfile
na Marques de Sapucaí, que jamais será esquecido,
com forte crítica social, denunciando o golpe.
Com elevada falta de credibilidade, o governo Temer,
em seu final de mandato, ainda conseguiu
aprovar alguns projetos importantes para a consolidação
do golpe, entre eles, o Projeto de Decreto
Legislativo (PDC) 886/18, de Michel Temer, que
pediu intervenção federal na segurança pública do
estado do Rio de Janeiro, o Projeto de Lei 3734/12,
que cria o Sistema Único de Segurança Pública
(Susp) e a Política Nacional de Segurança Pública
e Defesa Social, o PL 8939/17, que permite à Petrobras
transferir até 70% de seus direitos de exploração
do pré-sal a outras petroleiras nas áreas
de cessão onerosa e o PL 10332/18, que permite
privatização de seis distribuidoras de energia controladas
pela Eletrobras.
Em maio, uma greve dos caminhoneiros paralisou e
estremeceu o país, mostrando toda a sua fragilidade,
o que fez com que a Câmara aprovasse a Medida
Provisória 832/18, que permite à Agência Nacional
de Transportes Terrestres (ANTT) fixar valor mínimo
para o frete no transporte rodoviário de cargas e o PL
4860/16. Outra reivindicação dos caminhoneiros foi
a isenção da cobrança de pedágio para caminhões
com eixos suspensos, vazios ou com carga parcial,
aprovada por meio da MP 833/18.
Eleições
Por fim, as eleições dominam o noticiário político
na segunda metade do ano. O ano de 2018 foi
marcado pela impugnação da candidatura do ex-
-presidente Lula, contrariando recomendação do
Comitê de Direitos Humanos da ONU, além de
fake news compartilhadas massivamente nas redes
sociais e de modo ilegal, denúncias de uso de
disparos de whatsapp via bases de dados ilegais e
de financiamento por meio de caixa 2 na campanha
do candidato eleito, Jair Bolsonaro.
Em junho o TSE divulgou a divisão do fundo eleitoral:
o partido que teve o maior montante foi o MDB (
234 milhões de reais), seguido do PT (212 milhões de
reais) e PSDB (186 milhões de reais). O PDT, de Ciro
Gomes, teve 61 milhões de reais, enquanto a Rede,
de Marina, 10,6 milhões. Já o PSL de Bolsonaro possuía
cerca de nove milhões. O centrão, composto
por DEM. PP, PR, PRB, SD, PSD, PTB e PPS fechou
apoio a Geraldo Alckmin, do PSDB, o que lhe garantiu
o maior tempo de TV, mais de cinco minutos.
Em 15 de agosto, foi feito o registro da candidatura
de Lula à presidência da República. No mesmo dia,
a procuradora-geral da República, Raquel Dodge,
se manifestou pedindo que a candidatura de Lula
fosse negada pelo TSE. No momento de registro,
as pesquisas o apontavam com 39% das intenções
de voto, seguido por Bolsonaro, com 18%, Marina
Silva, na terceira posição, com 6%, Alckmin e Ciro
tecnicamente empatados, ambos com 5% a 6%.
Jair Bolsonaro liderava o ranking de rejeição, com
39%, enquanto Lula aparecia com 34%.
Em 6 de setembro, Bolsonaro foi vítima de uma facada
durante um comício na cidade de Juiz de Fora
(MG). O fato manteve o candidato hospitalizado e
afastado da campanha eleitoral, porém fortemente
presente na mídia, sobretudo nos dias que se seguiram
ao atentado. Poucos dias depois, em 11 de
setembro, Fernando Haddad foi oficializado como
candidato do PT, tendo Manuela D’Ávila, do PCdoB,
como vice. Na ocasião, Lula escreveu uma carta pedindo
“de coração, a todos que votariam em mim,
que votem no companheiro Fernando Haddad
para presidente da República”.
Bolsonaro disparou e terminou o primeiro turno
com 46,03% dos votos válidos. Já Haddad, tão logo
foi anunciada sua candidatura, saiu do patamar de
8% e terminou o primeiro turno com 29,28% dos
votos válidos. Alckmin passou a campanha estacionado
com menos de 10%, e terminou o primeiro
turno amargando 4,76% dos votos válidos, contrariando
as previsões sobre o papel do tempo de TV
do candidato, enquanto Marina viu suas intenções
de voto desidratarem de cerca de 15% para 1% dos
votos válidos.
Jair Bolsonaro venceu as eleições no segundo turno
com 57,8 milhões de votos, 55,13% dos votos váliPOLÍTICA
E OPINIÃO PÚBLICA
BOLETIM DE ANÁLISE DA CONJUNTURA - DEZEMBRO 2018
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dos. Fernando Haddad recebeu a votação de mais
de 47 milhões de eleitores, o que corresponde a
44,87% dos votos válidos. O Nordeste mais uma
vez garantiu altíssimos níveis de votação para um
candidato do PT, em quantidade maior do que a
soma dos votos obtidos no Sudeste e do Sul.
No Nordeste houve também o melhor desempenho
do PT nas disputas para governador. O partido
conquistou quatro governos estaduais: Bahia (Rui
Costa), Ceará (Camilo Santana), Piauí (Wellington
Dias) e Rio Grande do Norte (Fátima Bezerra). Foi a
primeira vez que o PT venceu em todos os estados
da região Nordeste, seja com candidaturas próprias
ou com aliados.
As eleições de 2018 trouxeram grande renovação
no Congresso Nacional. Mais da metade (52%) dos
deputados eleitos para a legislatura de 2019 a 2022
será composta por deputados estreantes no mandato
(269 deputados). Essa também será a legislatura
mais fragmentada, com representação de trinta
partidos, dois a mais do que na última eleição,
na qual 28 partidos tiveram assento. O PSDB foi o
partido que sofreu maior perda, vinte a menos do
que os 49 que possuía.
Apesar de o PT ter obtido o maior número de deputados,
o novo Congresso pode ser considerado
o mais conservador das últimas décadas. O crescimento
da bancada evangélica, somado aos católicos,
militares, ruralistas e grupos de direita, faz com
que o número de deputados simpatizantes a Bolsonaro
possa chegar a dois terços dos eleitos para a
próxima legislatura
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