terça-feira, 18 de dezembro de 2018
BOLETIM DE ANÁLISE DA CONJUNTURA INTERNACIONAL
BOLETIM DE ANÁLISE DA CONJUNTURA - DEZEMBRO 2018
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INTERNACIONAL
A parte Internacional faz um rastreamento dos principais acontecimentos
no mundo, mês a mês ao longo de 2018, ano em que houve
muitos sintomas de grande instabilidade internacional e de uma
ofensiva de forças conservadoras em várias regiões do mundo.
Principais acontecimentos no mundo
Desde a posse do presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump, em 2017, ele vem adotando medidas
para dificultar o ingresso de imigrantes no país
e tentar anular o direito de permanência dos que já
vivem nos Estados Unidos. Foi assim que começou
o ano, quando ele revogou o status de imigrantes
legais de aproximadamente duzentos mil salvadorenhos
que foram recebidos por razões humanitárias
dezoito anos atrás, quando houve uma série de
desastres naturais em El Salvador. Esta obsessão de
Trump prossegue e, em novembro, adotou medidas
violentas que contaram com o uso de gás lacrimogêneo
para conter a Marcha dos Imigrantes composta
por cerca de três mil hondurenhos que querem viver
nos Estados Unidos, na fronteira com o México.
No mês de janeiro, o Partido Social Democrata alemão
(SPD) aprovou iniciar negociações com o Partido
Democrata Cristão (CDU), de Angela Merkel,
com vistas a compor um novo governo liderado
por ela. Estas negociações resultaram na formação
de um governo CDU-CSU e SPD, pela terceira vez,
no meio do ano.
O rompimento político entre o novo presidente do
Equador, Lenin Moreno, e seu antecessor, Rafael
Correa, explicitou-se quando o primeiro convocou
um plebiscito em fevereiro para revogar uma série
de medidas adotadas no governo anterior e assediar
Correa, como a limitação de mandatos em caso de
reeleição, perda permanente de direitos políticos e
de bens para condenados por corrupção. As propostas
foram aprovadas e Rafael Correa é atualmente
mais um ex-presidente progressista latino-americano
que sofre perseguições da Justiça.
Neste mesmo mês houve o primeiro turno das
eleições presidenciais na Costa Rica, onde o candidato
da direita, Fabricio Alvarado, do Partido da
Restauração Nacional (PRN), foi o mais votado gra-
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ças a um programa conservador e ao apoio da comunidade
evangélica do país. Conseguiu também
eleger treze dos 57 integrantes do Parlamento. No
entanto, no mês de abril ele perdeu no segundo
turno para Carlos Alvarado, do partido governista,
Partido da Ação Cidadã (PAC).
Fevereiro marcou também a renúncia do presidente
da África do Sul, Jacob Zuma, e sua substituição
pelo novo presidente do Conselho Nacional Africano
(CNA), Cyril Ramaphosa, em preparação para as
eleições de 2019.
O mês marcou também um gesto importante de
aproximação entre as duas Coreias, quando uma
delegação da Coreia do Norte participou da Olimpíada
de Inverno realizada na Coreia do Sul. Foi o
primeiro passo para uma série de outras iniciativas
ao longo do ano, como a realização de uma Cúpula
Bilateral de Chefes de Estado em Pyongyang, com
a presença do presidente sul-coreano, Moon Jae-in,
e posteriormente uma reunião realizada em Cingapura
entre o presidente da Coreia do Norte, Kim
Jong-un, e Donald Trump.
No mês de março ocorreram as eleições parlamentares
na Itália, onde o Força Itália, liderado por Silvio
Berlusconi, em composição com a Liga Norte e dois
partidos menores de direita, obteve 37% dos votos,
seguido pelo Movimento Cinco Estrelas (M5S), com
32,7%, e o Partido Democrático, com 22,9%. Este
agora é oposição ao governo formado pela Liga
Norte e o M5S, cuja principal marca é a xenofobia e
o questionamento à União Europeia.
Ao mesmo tempo, houve eleições parlamentares
na Colômbia, com ligeiro avanço da esquerda, além
das prévias para definir as oito candidaturas presidenciais
que se apresentaram no mês de maio.
Passaram para o segundo turno, em junho, os candidatos
Gustavo Petro, da esquerda, e o “uribista”
Ivan Duque, que venceu o pleito. Além de dar continuidade
às políticas neoliberais, ele questiona os
acordos de paz assinados com as Farc.
A extrema direita confirmou seu favoritismo nas
eleições húngaras em abril, com o Partido Fidesz,
de Victor Orbán, obtendo 48,5% dos votos, além
de 19,5% para seus aliados fascistas do Jobbik, dando-lhe
amplos poderes inclusive para promover
mudanças na Constituição.
O mês de abril também marcou a posse do novo
presidente de Cuba, Miguel Diaz Canel, e a realização
de protestos de sindicatos e estudantes na
França contra as reformas neoliberais do presidente
Emmanuel Macron. Estas foram aprovadas no
Parlamento, mas atualmente ele enfrenta novos
protestos violentos de um setor menos organizado
da população, guardadas as proporções, parecido
com os caminhoneiros do Brasil, que se tornou
conhecido como os “Jalecos Amarelos”, vestimenta
que os manifestantes utilizam ao protestar contra o
aumento dos combustíveis e da eletricidade. Duas
medidas que Macron acabou de revogar.
Na América Latina, o mês de abril terminou com
os governos de direita na América do Sul suspendendo
sua participação na Unasul, com o início de
grandes protestos contra o governo na Nicarágua
e a eleição de Mario Abdo, do Partido Colorado,
como presidente do Paraguai.
O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, se
reelegeu no mês de maio e, em agosto, implementou
um plano econômico para tentar conter a alta
inflação e o desabastecimento no país.
No mesmo mês, Trump mudou a embaixada dos
Estados Unidos de Israel para Jerusalém, ação que
o futuro governo brasileiro propôs imitar. Com o ato
de mudar de Tel Aviv a maior representação política
dos americanos em solo israelense para uma cidade
sagrada também para os palestinos houve tensões
na região e protestos. Mais de 55 manifestantes palestinos
morreram e mais de dois mil ficaram feridos
devido às ações do exército sionista.
No mesmo sentido desse ato de claro apoio a Israel
que, na região do Oriente Médio, possui divergências
com o Irã, Trump tirou os Estados Unidos do
acordo nuclear assinado em 2015 com os iranianos
dias antes da mudança da embaixada. Com isso, o
Irã vem sofrendo desde então a escalada das sanções
econômicas contra o país, o que o debilita
tanto interna, quanto externamente.
Em junho, caiu o governo do Partido Popular (PP) de
direita na Espanha, e o Psoe assumiu a condução do
país, com seu presidente, Pedro Sanches, à frente.
Neste mesmo momento, a reforma trabalhista de
Michel Temer foi avaliada na Conferência InterINTERNACIONAL
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nacional do Trabalho da OIT e considerou-se que
houve violação de uma série de Convenções ratificadas
pelo Brasil.
Houve também eleições parlamentares na Turquia,
e o Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Erdogan,
sagrou-se vencedor. Ele assumiu a presidência
do país com poderes redobrados graças a uma
reforma política implementada anteriormente.
Em julho, o fato marcante foi a eleição para presidente
do México de Andrés Manuel Lopez Obrador, do
partido Morena, que também obteve a maioria no
Senado e na Câmara de Deputados. Foi a primeira vez
que um partido de esquerda venceu as eleições mexicanas.
Ele assumiu o cargo em 1º de dezembro.
O Lawfare contra ex-presidentes progressistas na
América Latina teve novos desdobramentos em
agosto com a apresentação de cópias de cadernos
onde um ex-funcionário de governo teria anotado
supostos pagamentos de propinas de integrantes
dos governos de Nestor e Christina Kirchner. Estes
foram rotulados pela imprensa de “Cadernos K” e
adicionados às acusações que pesam sobre a ex-
-presidenta e hoje senadora. Este país começou
a enfrentar forte desvalorização cambial fruto de
ataques especulativos que prosseguiram no período
seguinte e levaram o governo a recorrer ao FMI.
No mês de agosto saiu uma decisão liminar do Comitê
de Direitos Humanos da ONU para assegurar
os direitos políticos do ex-presidente Lula, autorizando-o
a concorrer às eleições presidenciais. Decisão
esta de cumprimento obrigatório pelo Brasil,
mas que foi solenemente ignorada.
Agosto terminou com os Estados Unidos e o México
renegociando o Nafta em condições ainda mais favoráveis
aos americanos por meio de novo acordo
ao qual posteriormente o Canadá também aderiu,
apesar dos atritos ocorridos entre o premiê, Justin
Trudeau, e Donald Trump em discussões anteriores.
Os republicanos de Trump perderam a maioria na
Câmara de Deputados nas eleições de meio de
mandato, em novembro, para os democratas, mas
mantiveram a maioria no Senado. O Partido Democrata
também avançou com a conquista de alguns
governos e assembleias legislativas estaduais,
mas ainda está abaixo de 50% neste quesito. A
possibilidade de um impeachment do presidente
Trump devido ao suposto envolvimento de hackers
russos a seu favor na campanha eleitoral de 2016
continua distante, pois requer o voto de dois terços
da Câmara e do Senado, embora alguns de seus
assessores tenham sido diretamente acusados e
até presos, principalmente por mentirem sobre
detalhes do caso.
Em novembro aconteceu também o anúncio pela
primeira-ministra britânica, Theresa May, de uma
proposta final do Brexit. Esta foi aprovada no final
do mês pela Cúpula da União Europeia e agora
precisa ser ratificada pelo Parlamento inglês, o que
não será uma tarefa fácil já que, em torno da proposta,
há vários rachas dentro do próprio partido de
May, o conservador. A briga acontece, basicamente,
entre uma ala que apoia a proposta e uma saída
menos radical, e outra que argumenta a favor de
um Brexit que corte todas relações entre as partes
e acha que a atual proposta irá transformar o Reino
Unido numa região tutelada da União Europeia.
O último evento internacional do ano foi a Cúpula
do G-20, realizada ao final de novembro, em
Buenos Aires, com modesta participação do governo
brasileiro, ao contrário do que houve no auge
da crise econômica, em 2008 e 2009, quando
o governo Lula ajudava a dar o tom das decisões.
Destacou-se, durante o evento, o encontro entre
o presidente da China, Xi Jinping e o dos Estados
Unidos, Donald Trump que aparentemente levou
a uma trégua de noventa dias na guerra comercial
entre os dois países.
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