DIÁRIO DO BOLSO
Diary, altos papos com o Olavo, mas hoje vou encontrar o meu presidente
Teve um jantar na casa do embaixador do Brasil com uma comida bem decente. Mas o melhor mesmo foi o meu discurso, a caipirinha e a conversa muito inteligente com o Olavo. Vai ser legal falar com o Trump
por José Roberto Torero publicado 19/03/2019 07h48
CC 0 CREATIVE COMMONS/PXHERE
Uoshington, 18 de março de 2019.
Expensive Diary, ontem à noite aconteceu um jantar na casa do embaixador do Brasil. Não fizeram churrasco, mas até que foi uma comida bem decente.
Teve mousse com ovas de salmão, bife Wellington (preciso dar parabéns para esse Wellington), purê de nabo e quindim. Ah, e caipirinha.
Eu fiz um discurso muito bom e comprido, de três minutos. Disse que o nosso Brasil caminhava para o comunismo, mas Deus me pôs lá para impedir isso.
Também falei que “nós temos que desconstruir muita coisa, desfazer muita coisa, para então começarmos a fazer”.
Talvez nesse mandato só dê tempo de destruir. Mas aí, na reeleição, quem sabe?
Olha, Diary, todo mundo babou no ovo do Olavo. O Moro, o Paulo Guedes, e até eu, no meu discurso, falei que “em grande parte devemos a ele a revolução que estamos vivendo no Brasil”. Pô, isso é um tremendo elogio, não é?
Depois, na hora do rango, o Olavo sentou do meu lado direito e mandou ver na caipirinha. A gente teve uma conversa muito boa. Mais ou menos assim:
Eu: Minha vontade é sair da ONU. Não serve pra nada. É uma reunião de comunistas.
Ele: A ONU apoia o terrorismo.
Eu: Não houve golpe militar em 1964. Quem declarou vago o cargo do presidente na época foi o parlamento.
Ele: João Goulart acobertava a intervenção armada de Cuba no Brasil desde 1961.
Eu: Estamos num período pior que o pré-1964. Porque a esquerda naquela época não estava tão aparelhada como está hoje.
Ele: O FMI é de esquerda. Bill Clinton era um agente de Pequim. Obama é um agente comunista da KGB com função de demolir a economia americana.
Eu: Eu me sinto quase um americano.
Ele: Ou a hegemonia americana, ou a barbárie.
Eu: Na Bíblia diz que a mulher tem que casar com um homem.
Ele: Há uma conspiração comunista global e o movimento gay é parte dela.
Eu: O Haddad mandou distribuir um livro que estimula precocemente as crianças a se interessarem pelo sexo.
Ele: Há livros ensinando crianças fazer sexo oral com elefantes.
Eu: Onde tem uma terra indígena, tem uma riqueza embaixo dela. Temos que mudar isso daí.
Ele: Quando algum justiceiro comunopetista-emessetista lhe disser que os índios eram os “legítimos proprietários” da terra brasileira, informe ao desgraçado que, na época dos descobrimentos, havia aproximadamente 5 milhões de índios numa área territorial de 8.515.767,049 quilômetros quadrados, portanto 1.703 quilômetros quadrados para cada um. O equivalente a uma área inteira da cidade de São Paulo para cada índio. Tomar as terras “dos índios” era uma reforma agrária.
Nessa hora o Augusto Heleno perguntou: “Não é 1,7 quilômetros? Acho que você errou na conta, professor.”
Aí o Olavo se abaixou e cochichou no meu ouvido: “Você é um grande homem, mas está cercado por traidores fardados.”
Depois tomamos umas outras caipirinhas e a conversa ficou ainda mais animada:
Ele: A Lei da Inércia é falsa e Isaac Newton era burro.
Eu: Nós, homens, somos relaxados. Mulher, não. Tá sempre se limpando. Nós, homens, jogamos uma cerveja no piu-piu e tá limpo.
Ele: O marxismo nasceu do satanismo.
Eu: Policial que não mata não é policial.
Ele: O Brasil era uma ditadura comunista.
Eu: Há excesso de direitos no Brasil.
Ele: Cigarro não dá câncer.
Eu: Não falo o que o povo quer. Sou o que o povo quer.
Ele: Jornalista é o maior inimigo do povo.
Eu: Vamos fuzilar a petralhada toda.
Ele: Nas universidades só tem drogas e bolinação coletiva. A Pepsi usa células de fetos abortados como adoçante. Combustíveis fósseis não existem. O sol não é o centro do sistema solar.
Enfim, expensive Diary, foi uma conversa muito boa. Cheia de frases inteligentes. Amanhã, com o Trump, deve ser melhor ainda.
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