“Michel é Cunha”, disse Jucá. E agora?
A informação decisiva do diálogo Romero
Jucá x Sérgio Machado encontra-se num trecho que você irá ler a seguir:
- Só o Renan que está contra a essa
porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha.' Gente,
esquece o Eduardo Cunha, está morto, morto, porra.'"
Sergio Machado acrescenta, em tom de
concordância: "É um acordo, botar o Michel, num grande acordo
nacional."
Jucá explica: "Com o Supremo, com
tudo."
Sabemos que o diálogo ocorreu em março,
quando Sérgio Machado procurava provas para uma delação premiada capaz de
livrá-lo de acusações na Lava Jato. Não custa recordar a data essencial da
conversa.
Nas semanas seguintes, em 17 de abril, o
presidente da Câmara Eduardo Cunha conduziu a votação que autorizou a abertura
do processo de impeachment contra a presidente ("Com Dilma a situação não
dá", segundo Jucá).
Apenas dezoito dias depois, o Supremo
votou o afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara e de seu mandato.
Foi uma decisão péssima para Cunha.
Quando se recorda que a denúncia contra
Cunha havia chegado ao STF em dezembro de 2015 e ali ficou adormecida até o fim
de abril, atravessando incólume o 17, ninguém poderia acusar o Supremo de ter
agido para prejudicar Michel Temer. Se a decisão tivesse sido tomada em
qualquer data entre 15 de dezembro de 2015 e 16 de abril de 2016, o resultado
da votação teria sido outro. A bancada contra Dilma estaria desfalcada de
grande parte dos 200 votos que devem obediência a Cunha. Se apenas 15% desses
personagens não tivesse comparecido para votar, o pedido de impeachment teria
sido arquivado.
Falando de um grande acordo nacional,
que em suas palavras incluía o Supremo, Jucá fez questão de ressalvar: não
tinha acesso a TeoriZavaski, relator da Lava Jato. Falando sobre os
"caras" do STF, expressão sua, sublinhou que era um pacto "com o
Supremo, com tudo."
Entre os personagens mencionados no
diálogo, o único que apresentou mudança de comportamento no enredo descrito
pelos dois interlocutores foi Renan Calheiros. Depois do afastamento de Cunha,
ninguém poderia deixar de perguntar se, sem possuir legitimidade para presidir
o Congresso, Cunha possuía condições de derrubar a presidente da República. Não
havia argumentos para defender sua isenção nem imparcialidade, como a própria
votação do STF -- 11 a 0 -- confirmava. Mas, quando o pedido de anulação da
votação chegou ao Senado, Renan deixou a discussão correr mas anunciou com
clareza: "É brincadeira", chegou a dizer. À luz da conversa de março,
alimentada por seu amigo e aliado Sergio Machado, difícil deixar de imaginar
que naquele momento ele estava dentro do "grande acordo nacional".
"Michel é Eduardo Cunha",
disse Jucá. Tão relevante, a frase que aproxima o suíço Cunha do presidente da
República numa relação de absoluta identidade não recebeu a devida atenção de
nossos sábios da política. Talvez porque estejam mais preocupados em preservar
um presidente com fragilidade exposta no lugar de assumir suas próprias
responsabilidades numa crise só agravada por um impeachment sem prova de crime
de responsabilidade.
De volta ao Senado, de onde se afastou
para ocupar o ministério do Planejamento de Michel, Jucá é um reconhecido
talento dos bastidores da política brasileira. Acabou derrotado pelo instrumento
que já derrotou homens públicos muito mais sérios e relevantes do ponto de
vista dos interesses da maioria dos brasileiros.
A verdade é que nem todo mundo acerta
sempre. Na conversa, ele disse que Cunha estava "morto, morto,
porra."
Eduardo Cunha morto? Nem Romero Jucá
acertou essa.
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