quarta-feira, 25 de maio de 2016

Temer, o homem da CIA



Temer, o homem da CIA

Héctor Bernardo*

Uma comunicação revelada pelo Wikileaks mostra que o presidente interino do Brasil, Michel Temer, a quem Dilma Rousseff definiu como "o chefe dos conspiradores", era informante da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA).

De acordo com a informação em seu momento confidencial, Temer reunia-se periodicamente com os representantes da Embaixada dos Estados Unidos e oferecia-lhes informação que ele mesmo qualificava como "sensível" e "somente para uso oficial".

A mensagem difundida pelo Wikileaks, que teria sido emitida em 2005, foi enviada de São Paulo ao Comando Sul (com sede em Miami) e assinala:

"O deputado Federal Michel Temer, presidente nacional do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), acredita que a desilusão pública com o presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT) proporciona uma oportunidade para que o PMDB apresente seu próprio candidato às eleições presidenciais de 2006".

Outra parte da mensagem revelada pelo Wikileaks assegura: "Ao ser perguntado sobre o programa do partido, Temer afirmou que o PMDB apoia políticas que favorecem o crescimento econômico.

[O partido] não tem nenhuma objeção à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) [e] preferiria ver o Mercosul fortalecer-se com o fim de negociar com a ALCA como bloco, mas a tendência parece ser a contrária".

A mensagem confirma, mais uma vez, o nível de ingerência que o governo dos Estados Unidos exerce na região através de suas embaixadas, serviços de inteligência, e suas redes de fundações e OGNs.

Em um artigo publicado na diário Página/12, o sociólogo Atilio Borón apontou: "Em seu momento Barack Obama enviou como embaixadora no Brasil Liliana Ayalde, uma especialista em promover "golpes brandos" porque antes de assumir seu cargo em Brasília, o qual continua exercendo, seguramente não por acaso havia sido embaixadora no Paraguai, nas vésperas da derrubada "institucional" de Fernando Lugo. Mas o império não é onipotente, e para viabilizar a conspiração reacionária no Brasil suscitou a cumplicidade de vários governos da região, como o argentino, que definiu o ataque que seus amigos brasileiros estavam perpetrando contra a democracia como um rotineiro exercício parlamentar e nada mais".

Não chama a atenção, neste contexto, que o primeiro governo a cumprimentar a chegada de Temer à presidência de fato seja o de Mauricio Macri, cuja chefa de política exterior é Susana Malcorra, que também foi denunciada por seus vínculos com a CIA.

MACRI NA EMBAIXADA

Segundo aponta o jornalista Santiago O'Donnell em seu livro Argenleaks, o próprio presidente Macri tinha uma clara dependência da Embaixada dos Estados Unidos. O'Donnell afirma em seu livro que no ano 2007 Macri manteve uma reunião com membros da Embaixada dos Estados Unidos na Argentina.

Naquele encontro - segundo detalha-se na mensagem enviada pelo cônsul político estadunidense Mike Matera - Macri assegurou que sua fundação Crecer y Crecer trabalhava "com o Instituto Republicano dos Estados Unidos (e também com a fundação Konrad Adenauer da Alemanha) na formação de novas lideranças", instituições estreitamente vinculadas à agência de inteligência norte-americana.

A atitude do presidente argentino foi extremamente oposta a do presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Quando se soube que o golpe parlamentar no Brasil era um fato, o líder bolivariano assegurou: "Hoje consumou-se a primeira fase de um golpe de Estado para acabar com uma era de força e liderança popular, para dividir o Brasil. O norte têm claro que o Brasil é importantíssimo para o rumo da América Latina, para o rumo do mundo (...) os Estados Unidos querem impedir que na América Latina continuem os governos progressistas e revolucionários eleitos democraticamente para o bem-estar dos direitos fundamentais do povo". Na Venezuela, os homens da oposição vinculados à CIA são numerosos, para somente nomear alguns, Henrique Capriles Radonski e Leopoldo López. Os planos da Casa Branca para desestabilizar o governo bolivariano têm sido inumeráveis e não pararam.

Como se tratasse do jogo de Táticas e Estratégias de Guerra (TEG), o governo de Barack Obama distribui suas fichas pelo tabuleiro da região. A direita, comandada a partir da Casa Branca, já ficou com a Argentina e também acaba de tomar o governo no Brasil. Agora, antes que o governo de Obama chegue ao seu fim (em novembro), busca a Venezuela.

*Analista político argentino que colabora com a Prensa Latina.

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