quarta-feira, 25 de maio de 2016

Que alternativas para a crise política?

Que alternativas para a crise política?

Se os governantes acabam com programas sociais, reduzem direitos sociais e conquistas trabalhistas, isto não é democracia. Isto é plutocracia.


José Carlos Peliano*
Beto Barata
 
Afastamento da Presidenta em andamento. Governo interino em andamento. Gravações entre Romero Jucá e Sérgio Machado em andamento, pois outras deverão vir a público. Golpe denunciado, golpe perpetrado, golpe revelado.
 
Seria cômico, não fosse sério. Rosa Weber requer que Dilma diga porque em seus pronunciamentos declarava ser golpe o movimento parlamentar que a afastou da Presidência. Ao mesmo tempo, capa preta algum fez o mesmo com Jucá sobre o que disse na gravação publicada na Folha de segunda-feira, 23.
 
A própria gravação dá nome aos bois. Líderes e excelências do Congresso corrompidas. E a boiada segui-os no golpe. Os dois partidos pilares do golpe envolvidos até o pescoço, sem falar no bolso. E adjacências. 
 

Pior, capas pretas igualmente coniventes ou enturmados com os parlamentares. A única solução que vislumbraram, segundo ainda a gravação, foi providenciar alguma motivo para o afastamento. Mas, mesmo que não tivesse, segundo o rolo compressor da mão grande, o resultado seria igual.
 
Então, o Congresso envolvido direta ou indiretamente, assim como o Supremo, a mídia golpista, há tempos jogando lenha numa só fogueira e apagando as outras, o capital estrangeiro, sempre de olho no pré-sal, além de outras promissoras áreas como aviação, comunicações, educação e saúde.
 
E a PGR? Muitas suspeitas, mas nada ainda degravado. Outras gravações mostrarão ou denúncias. O tempo dirá, embora Luiz Nassif já suspeite há tempos. Resta, por enquanto, apontar muita seletividade nas decisões do órgão. O PT e alguns membros do governo eleito democraticamente foram sempre o alvo.
 
Resumo da ópera, tudo dominado. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. O golpe entrou pelas portas do fundo e se instalou. Não teve mérito algum de subir a rampa com votos, pois se impôs com complô e farsa, travestidos de legalidade. Ainda assim monitorados pelo STF.
 
Esse o quadro caótico e repugnante de uma pantomina colossal em pleno século XXI de uma republiqueta das bananas da América do Sul. O genial Nélson Rodrigues já teria dado sua dica, sentar no meio-fio e chorar lágrimas de esguicho.
 
Ao mesmo tempo, uma vez mais, Manoel de Barros diria repita, repita, repita, até ficar diferente. Como os golpistas se valeram de uma tomada branca de poder, inovando sua sanha sem limites, por que nós, 54 milhões de eleitores usurpados, não podemos usar de estratégia também diferenciada?
 
A partir da atual conjuntura do campeonato restam aos contendores, o governo legítimo afastado e os golpistas, quatro possíveis alternativas. Não totalmente excludentes, porém bem definidas suas agendas. Aos eleitores usurpados outras três intercambiáveis, além da criatividade e expressividade sem limites que a nossa juventude tem demonstrado.
 
A primeira, trágica e imprevisível, é a manutenção da posse ilegítima do poder pelos golpistas de plantão. Caso o Supremo desça ao extremo do rés do chão e não diga nada ou diga lá pelas tantas que o processo de afastamento seguiu sem desvio o rito administrativo previsto. O mérito? Ah! O mérito, como diria Paulo Henrique Amorim, não vem ao caso.
 
A segunda, seria novas eleições a serem convocadas ainda este ano. No intervalo, quem estaria no governo? Aí vai depender do desenrolar do imbróglio político, jurídico, midiático e, mas do que nunca, do papel dos 54 milhões de eleitores.
 
A terceira, uma constituinte. Igualmente seguiria mais ou menos o mesmo caminho da segunda alternativa. O ideal seria uma eleição específica, onde os constituintes funcionariam lado a lado com o atual Congresso. O grande problema aqui é o desafio entre os parlamentares de plantão estigmatizados e o novo eleito para rever e modificar quase tudo a despeito dos golpistas.
 
A última seria a volta e a permanência definitiva da Presidenta afastada com plenos poderes para ir até o fim de seu mandato interrompido pelo golpe. Nesse caso, talvez seja necessário um acordo com os golpistas sobre uma pauta mínima de votações. 
 
Mas para que a última alternativa se imponha é fundamental e urgente que os 54 milhões de eleitores usurpados, aliados a alguns coxinhas arrependidos, se é que existirão, tomem as ruas e as mantenham ocupadas pelo tempo que for preciso.
 
A tomada das ruas pode se expressar, pelo menos, sob três formas diferentes. Manifestações sobre temas candentes de interesse da população, obscurecidos pelas políticas de austeridade. Ocupações de áreas, equipamentos e órgãos públicos sob o mesmo diapasão – áreas rurais ficam por conta do MST. Convocações de protestos em espaços públicos com personalidades políticas, artísticas, religiosas e outras, nacionais e estrangeiras.
 
Já dizia, no começo do século vinte, o líder revolucionário mexicano, Emiliano Zapata “se não há justiça para o povo, que não haja paz para o governo”. Este o lema das manifestações, ocupações e convocações.
 
Nise da Silveira igualmente plasmou chamada de combate inigualável que exprime bem a sensação da maioria dos eleitores hoje: é necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade.
 
Vamos e venhamos. A dita democracia representativa deixa de ser dita nem democrática se os representantes tratam dos assuntos públicos como se fossem negócios particulares. Ela deve ser continuamente reformulada para impedir que o Congresso vire um mercado reservado e corrupto.
 
Independente do rumo a ser tomado pelos representantes eleitos, autoridades investidas e instituições, neste circo de horrores, cabe a nós, eleitores e não eleitores, ou seja, toda a população, igualmente se manifestar, pressionar e lutar constantemente por mudanças e melhorias da nossa cambaleante e ilusória democracia.
 
Se os governantes de plantão, apoiados por representantes eleitos, acabam com programas sociais, reduzem direitos sociais e conquistas trabalhistas, lançando milhões novamente aos pés da pirâmide social com todas as mazelas que ameaçam a sobrevivência digna, isto não é democracia. Isto é plutocracia.
 
O dinheiro excluído pela praga da austeridade é reservado para pagamento da dívida pública, a qual é sustentada por papéis vendidos ao mercado financeiro. Pagam-se aos banqueiros e rentistas pela retirada de recursos antes direcionados à melhoria de vida dos mais necessitados. Não é atoa que o novo ministro da fazenda é oriundo da vida bancária.
 
Outra arma poderosa é a desobediência civil, conforme Gandhi. Seria usada em situações onde coubessem um comportamento coletivo comum em desacordo com decisões autoritárias e descabidas do governo. A experiência constante da ida às ruas ensinará os melhores caminhos a serem trilhados.
 
* colaborador da Carta Maior


Créditos da foto: Beto Barata

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