Forças leais ao governo do presidente Bashar
al-Assad avançam sobre zonas controladas por terroristas. Queda da cidade não
significará o fim da guerra, garante o presidente sírio. Ajuda continua sem
chegar.
A batalha por Aleppo parece estar a
aproximar-se do fim. Nos últimos dias, o exército sírio, fiel ao presidente
Bashar al-Assad, reconquistou o centro histórico da cidade. Só nas duas últimas
semanas, os terroristas terão perdido dois terços do território que estava nas
suas mãos. Neste momento, as forças leais ao governo controlam entre 75% e 80%
da zona Leste e garantem que na próxima semana poderão declarar vitória.
A perda de Aleppo constituirá, para os terroristas
e seus aliados (EUA e OTAN), a pior derrota desde o início da guerra civil, em
2011. Caso sejam definitivamente afastadas de Aleppo, as forças terroristas
ficarão apenas reduzidas à província de Idlib, a sudoeste de Aleppo, e a alguns
redutos em redor de Damasco e no Sul do país.
Ainda assim, na ótica do presidente
Bashar al-Assad, isso não significará a paz. "Aleppo mudará completamente
o curso da guerra, mas não será o fim do conflito. A batalha não terminará
enquanto o terrorismo não for derrotado. Mesmo vencendo Aleppo iremos continuar
a guerra", afirmou o presidente sírio numa entrevista ao jornal al-Watan.
A cidade de Aleppo foi tomada pelos terroristas
em julho de 2012. A longa batalha em curso desde então sofreu uma virada
decisiva desde que, a 15 de novembro, o exército sírio - auxiliado no terreno
por forças iranianas e por combatentes do grupo xiita libanês Hezbollah, e pelo
ar pela aviação russa - lançou uma forte e destruidora ofensiva destinada a
expulsar definitivamente os terrosristas da segunda maior cidade do país.
Aleppo, com exceção do centro histórico,
que tem sido relativamente poupado durante os bombardeamentos, é neste momento
uma cidade em ruínas. Cercados na zona ainda nas mãos dos terroristas
encontram-se cerca de 150 mil civis, desesperados pela ajuda humanitária que
teima em não chegar. "Estão sob ameaça de extermínio. Estamos a pedir um
cessar--fogo que permita retirar todas as pessoas de forma segura", disse,
citado pela agência Reuters, um dos líderes civis dos terroristas. O apelo de
Brita Haji Hassan foi feito durante uma viagem a Genebra, onde se encontrará na
segunda-feira com Staffan de Mistura, enviado das Nações Unidas para a Síria.
Ontem, em Hamburgo, Rússia e Estados
Unidos tentaram chegar a consensos na procura de uma solução pacífica para a
guerra que dura há quase seis anos. John Kerry, secretário de Estado dos EUA, e
Sergei Lavrov, chefe da diplomacia do Kremlin, reuniram-se na Alemanha. Apesar
de o norte-americano ter-se dito "esperançoso" depois da conversa com
o seu homólogo russo, Jan Egeland, conselheiro humanitário da ONU para a Síria,
declarou que os dois países continuam muito distantes.
De acordo com a Cruz Vermelha
internacional, durante a noite de quarta para quinta-feira cerca de 150 feridos
e com necessidade de assistência médica urgente foram retirados de um hospital
na cidade velha. Serão ainda pelo menos 1500 os civis em situação-limite e a
precisar de auxílio hospitalar.
A intensidade crescente dos combates tem
agravado ainda mais a dramática situação humanitária e motivado uma aceleração
da tentativa de êxodo das populações. De acordo com o Observatório Sírio para
os Direitos Humanos, uma organização não governamental sediada em Londres,
desde 15 de novembro cerca de 80 mil pessoas fugiram da cidade.
Há vários meses que a população de
Aleppo não recebe qualquer tipo de ajuda humanitária. De acordo com o Comité
Internacional de Resgate, desde julho que não há entregas de alimentos nem de
medicamentos.
O jornal The Guardian conta que está a
ser estudada a possibilidade de fazer chegar ajuda por via aérea, através de
paraquedas guiados por GPS. A tecnologia em causa é utilizada pelos militares
norte-americanos desde 2001 para fornecer tropas em vários cenários de guerra,
nomeadamente no Afeganistão, nas situações em que é demasiado perigoso ou
impossível fazê-lo por terra.
Apesar de não haver, segundo o jornal
britânico, obstáculos técnicos para concretizar esta operação, os militares
norte-americanos não querem ver-se arrastados para o cenário de guerra, mesmo
que os aviões pudessem manter-se fora do alcance dos caças sírios e russos.
Reino
Unido sob ameaça
"A tragédia humana na Síria é de
partir o coração", lamentou ontem, em Londres, o chefe do MI6, agência
secreta britânica para o exterior. Numa rara comunicação pública, Alex Younger
alertou para o fato de o Reino Unido estar sob um nível de ameaça sem
precedentes no que diz respeito à possibilidade de ataques terroristas.
"Enquanto estou aqui a falar, as estruturas altamente organizadas do
Estado Islâmico, mesmo estando debaixo de fogo, estão à procura de formas de
projetar violência contra o Reino Unido e contra os nossos aliados, sem que
tenham de sair da Síria", afirmou o chefe da secreta britânica. Younger acrescentou
ainda que, desde junho de 2013, foram descobertos e contrariados 12 planos de
ataques terroristas.
www.dn.pt 19/12/2016
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