Executivo
da Odebrecht afirma que Temer pediu R$ 10 milhões
R$ 6 milhões seriam para Paulo Skaf, presidente da FIESP
Executivo que trabalhou por 12 anos na
empreiteira Odebrecht, o ex-diretor de Relações Institucionais da empresa
Claudio Melo Filho disse, em delação premiada, que o presidente Michel Temer
pediu R$ 10 milhões. Ainda de acordo com o delator, o valor foi pago em espécie
ao braço direito de Temer, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Segundo o delator, o responsável por
falar com agentes privados e "centralizar" as arrecadações
financeiras ao PMDB é Eliseu Padilha. "Ele atua como verdadeiro preposto
de Michel Temer e deixa claro que muitas vezes fala em seu nome. Eliseu Padilha
concentra as arrecadações financeiras desse núcleo político do PMDB para
posteriores repasses internos", diz o delator.
Em 82 páginas, ele conta como a maior
empreiteira do país comprou, com propinas milionárias, integrantes da cúpula
dos poderes Executivo e Legislativo. Além de atingir Padilha e Temer, que pediu
o dinheiro a Marcelo Odebrecht em 2014, segundo o depoimento, a delação cita
também José Yunes, amigo de Temer há 50 anos e assessor especial do presidente
da República.
Executivo da empreiteira afirma em
delação que presidente pediu dinheiro a Marcelo Odebrecht
Executivo da empreiteira afirma em
delação que presidente pediu dinheiro a Marcelo Odebrecht
A em reportagem, a revista Veja publica
a lista dos que, segundo Melo Filho, receberam propina da empreiteira. São
deputados, senadores, ministros, ex-ministros e assessores da ex-presidente
Dilma Rousseff. A clientela é suprapartidária,
informa a reportagem. Para provar o que disse, o delator apresentou e-mail,
planilhas e extratos telefônicos. Uma das mensagens mostra Marcelo Odebrecht, o
dono da empresa, combinando pagamentos a políticos importantes. Eles estão
identificados por valores e apelidos como “Justiça” (Renan Calheiros), “Boca
Mole” (Heráclito Fortes), “Caju” (Romero Jucá), “Índio” (Eunício de Oliveira),
“Caranguejo” (Eduardo Cunha) e “Botafogo” (Rodrigo Maia), "Gremista"
(Marco Maia), entre outros.
Melo Filho destaca que Michel Temer é,
historicamente, o líder de um núcleo político do PMDB na Câmara dos Deputados.
Em sua delação, o executivo conta que, em maio de 2014, quando Temer era
vice-presidente, participou de um jantar no Palácio do Jaburu com a Marcelo
Odebrecht e Eliseu Padilha. Segundo o depoimento, Temer teria solicitado
"direta e pessoalmente" a Marcelo Odebrecht apoio financeiro para as
campanhas do PMDB em 2014.
"No jantar, acredito que
considerando a importância do PMDB e a condição de possuir o vice-presidente da
República como presidente do referido partido político, Marcelo Odebrecht
definiu que seria feito pagamento no valor de R$ 10 milhões. Claramente, o
local escolhido para a reunião foi uma opção simbólica voltada a dar mais peso
ao pedido de repasse financeiro que foi feito naquela ocasião", diz o
executivo.
Ainda segundo Melo Filho, as doações,
que eram feitas periodicamente a diversos políticos, teriam como contrapartida
a atuação dos beneficiados na aprovação de medidas de interesse da Odebrecht:
"Espécie de contrapartida institucional esperada entre público e
privado".
"Do total de R$ 10 milhões
prometido por Marcelo Odebrecht em atendimento ao pedido de Michel Temer,
Eliseu Padilha ficou responsável por receber e alocar R$ 4 milhões. Compreendi
que os outros R$ 6 milhões, por decisão de Marcelo Odebrecht, seriam alocados
para o Sr. Paulo Skaf", diz o delator. Skaf é presidente da Federação das
Indústrias de São Paulo (Fiesp) e foi o candidato do PMDB ao governo de São
Paulo em 2014.
Nos termos de confidencialidade, Cláudio
Melo Filho afirma ainda que do valor repassado a Padilha, cerca de R$ 1 milhão
tinha como destinatário final o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso
em Curitiba.
Geddel Vieira Lima, ex-ministro da
Secretaria de Governo, também, segundo o executivo, "recebia pagamentos
qualificados em períodos eleitorais e em períodos não eleitorais, e fazia isso
oferecendo contrapartidas claras, conforme ficará claro no ponto do relato que
trata das exigências feitas por Geddel para destravar pagamentos retidos no âmbito
do Ministério da Integração Nacional”.
Melo Filho afirma ainda em sua delação
que, em 2006, o ex-governador da Bahia e ex-ministro do governo Dilma Rousseff,
Jacques Wagner "se reuniu com Marcelo Odebrecht num restaurante de
Brasília e pediu ajuda financeira para a campanha ao governo da Bahia e que
Marcelo concordou, embora tenha demonstrado incômodo por não acreditar no
sucesso da candidatura. Foram pagos R$ 3 milhões de forma oficial e via caixa
2”. O executivo acrescentou que quando
Jacques Wagner assumiu o governo, encaminhou assuntos de interesse da
empreiteira no Polo Petroquímico de Camaçari, que Wagner ajudou a destravar.
O ex-diretor da Odebrecht citou ainda o
nome do deputado Rodrigo Maia (DEM). Segundo ele, foi pedido ao deputado, atual
presidente da Câmara, que acompanhasse a tramitação de uma Medida Provisória (MP) que interessava à empreiteira. Maia teria aproveitado
para afirmar que ainda tinha dívidas da campanha a prefeito do Rio de Janeiro,
em 2012, e contribuiu com cerca de R$ 100 mil, valor pago em outubro de 2013.
Ele disse ainda que considerava Maia um interlocutor da empresa dentro da
Câmara. Melho Filho afirmou também que Rodrigo Maia recebeu pagamento de R$ 500
mil em 2010.
O deputado federal Marco Maia (PT) foi
outro citado na delação. Em 2014, o deputado pediu recursos para a sua
campanha. No sistema da empreiteira constariam dois pagamentos, no total de R$
1,3 milhão.
Melo Filho também citou também o nome do
senador José Agripino (DEM). Em 2014, falou ao senador que a empreiteira faria
pagamento de R$ 1 milhão. Marcelo Odebrecht teria afirmado que o valor tinha
sido solicitado pelo senador Aécio Neves (PSDB) como forma de apoio ao DEM.
Agripino tinha o codinome “Gripado”.
Senado
Melo Filho afirma que haveria um núcleo
de atuação do PMDB no Senado, que seria formado pelo líder do governo no
Congresso, Romero Jucá (RR), pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e
pelo líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). Segundo a delação, os três
"grande poder de barganha", pois possuem a capacidade de
"praticamente ditar os rumos que algumas matérias serão conduzidas dentro
do Senado Federal".
O executivo acrescenta que "todos
os assuntos" que tratou no Congresso se iniciaram por Romero Jucá que,
desde 2004, teria recebido pagamentos "que hoje superam R$ 22
milhões".
"Normalmente, me dirigia a ele, que
me orientava sobre quais passos adotar e quais parlamentares seriam acionados.
Romero Jucá agia em nome próprio e do grupo político que representava, formado
por Renan Calheiros, Eunício Oliveira e membros do PMDB. Jucá era o líder do
governo no Senado e, embora não falasse pelo governo, falava com o governo. Os
assuntos que começavam com ele avançavam ou se encerravam diretamente com
ele", afirma o delator, acrescentando: "Por essa posição destacada, o
senador Romero Jucá, no meu entendimento, é o principal responsável pela
arrecadação de recursos financeiros dentro do grupo do PMDB no Senado."
O executivo vai além: "A minha
experiência deixou claro que o Senador Romero Jucá centralizava o recebimento
de pagamentos e distribuía os valores internamente no grupo do PMDB do Senado
Federal, especificamente, no que posso atestar com total segurança, no que diz
respeito aos Senadores Renan Calheiros e Eunício Oliveira."
Respostas
Palácio do Planalto: "O presidente
Michel Temer repudia com veemência as falsas acusações do senhor Cláudio Melo
Filho. As doações feitas pela Construtora Odebrecht ao PMDB foram todas por
transferência bancária e declaradas ao TSE. Não houve caixa 2, nem entrega em
dinheiro a pedido do presidente.", diz nota.
Eliseu Padilha: "Não fui candidato
em 2014! Nunca tratei de arrecadação para deputados ou para quem quer que seja.
A acusação é uma mentira! Tenho certeza que no final isto restará
comprovado", diz em nota.
Paulo Skaf: "O presidente da FIESP,
Paulo Skaf, nunca pediu e nunca autorizou ninguém a pedir qualquer contribuição
de campanha que não as regularmente declaradas em suas prestações de contas.
Todas as contas de campanha de Paulo Skaf foram aprovadas pela justiça
eleitoral".
Geddel Vieira Lima: disse à noite que
"estranhou a citação de seu nome" e afirmou que doações recebidas
foram declaradas à Justiça Eleitoral.
Agripino respondeu que não foi candidato
em 2014 e que desconhece os fatos citados.
Romero Jucá: "O senador Romero Jucá
desconhece a delação do senhor Claudio Melo Filho mas nega que recebesse
recursos para o PMDB. O senador também esclarece que todos os recursos da
empresa ao partido foram legais e que ele, na condição de líder do governo,
sempre tratou com várias empresas mas em relação à articulação de projetos que
tramitavam no Senado. O senador reitera que está à disposição da justiça para
prestar quaisquer esclarecimentos."
Renan Calheiros: "Jamais
credenciou, autorizou ou consentiu que terceiros falassem em seu nome em
qualquer circunstância. Reitera ainda que é chance de se encontrar
irregularidades em suas contas pessoais ou eleitorais e zero. O senador
ressalta ainda que suas contas já são investigadas há 9 anos. Em quase uma
década não se produziu uma prova contra o senador".
Eunício Oliveira disse que todos os
recursos de campanha foram recebidos e declarados de acordo com a lei e
aprovados pela Justiça Eleitoral. Ele afirmou ainda que nunca autorizou ninguém
a negociar em seu nome recursos para favorecer empresas públicas ou privadas.
www.jb.com.br 10/12/2016
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