terça-feira, 30 de maio de 2017

POLICIAIS MATARAM 10 SEM-TERRAS E DEPOIS FESTEJARAM, DIZ TESTEMUNHA


POLICIAIS MATARAM 10 SEM-TERRAS E DEPOIS FESTEJARAM, DIZ TESTEMUNHA

Marcio Ferreira/ Agencia Pará

FABIANO MAISONNAVE, ENVIADO ESPECIAL

REDENÇÃO, PA (FOLHAPRESS) - Em depoimento sigiloso obtido pela
reportagem, um sobrevivente do massacre que deixou dez mortos no sudeste
do Pará, na última quarta (24), disse que os sem-terra já estavam
dominados quando foram mortos a tiros por policiais.

Segundo relato ao Ministério Público, os agentes chegaram por volta
das 7h ao acampamento, em área invadida da fazenda Santa Lúcia, no
município de Pau d'Arco (867 km ao sul de Belém). Em seguida, os 28
sem-terra do grupo se dispersaram correndo.

Parte deles, incluindo a testemunha, teria se escondido em um matagal
próximo e, por causa da chuva, se abrigado sob uma lona. Neste momento,
a polícia os alcançou e começou a disparar, diz o relato.

Ele novamente correu e se escondeu a cerca de 70 metros de onde estava
abrigado. Dali, escutou uma sequência de xingamentos e aparentemente
chutes seguidos por disparos. "Logo tudo era repetido com outra pessoa".

Por vezes, ainda de acordo com a versão do sem-terra, um policial
perguntava antes de disparar: "Vira pra cá, vagabundo. Cadê os
outros?". A ação teria durado cerca de duas horas. Ao final, teria
ouvido "gritos e gargalhadas, como se estivessem festejando".

O depoente admitiu que havia armas no acampamento, incluindo o fuzil
mais tarde apresentado pela polícia, mas disse que não houve revide.

Ele prestou depoimento sob a condição de anonimato e foi encaminhado
ao programa de proteção a testemunhas.

O relato contradiz a versão do governo do Pará, segundo a qual 24
policiais civis e militares foram recebidos a tiros quando chegaram ao
local.

MAIS SOBREVIVENTES

Ao menos outros três sobreviventes foram localizados. Um deles levou um
tiro na nádega e está internado num hospital da cidade de Redenção.
Os Ministérios Públicos Federal e Estadual solicitaram proteção à
Polícia Federal, mas o pedido não havia sido respondido até esta
sexta (26).

Ele e a sua mulher, que também escapou, já prestaram depoimento à
polícia. Procurada, a Secretaria de Segurança Pública paraense disse
que o teor do relato está sob sigilo.

O terceiro sobrevivente localizado também testemunhou. A reportagem
apurou que ele disse não ter visto a ação por ter fugido para longe
do local.

A operação policial teria o objetivo de cumprir quatro mandados de
prisão relacionados ao assassinato de um segurança da fazenda
invadida, no dia 30 de abril.

Em decisão criticada pelo Ministério Público Federal, os corpos foram
retirados do local por policiais civis e militares antes da perícia,
contaminando a cena do massacre.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública, a alteração do local das
mortes está sob apuração da própria Polícia Civil. A reportagem
solicitou entrevistas com o secretário da pasta, Jeannot Jansen, e o
chefe da Delegacia de Conflitos Agrários de Redenção (PA), Valdivino
Miranda. Os dois pedidos foram negados.

"O depoimento fortalece as dúvidas sobre a versão da polícia surgidas
após a visita ao local", afirma a procuradora federal dos Direitos do
Cidadão, Deborah Duprat, que vistoriou o local na quinta.

Para o presidente do CNDH (Conselho Nacional dos Direitos Humanos),
Darci Frigo, que também esteve na região, todas as informações
disponíveis até agora indicam que não houve confronto. "A dúvida é:
por que se usou tanta violência nessa operação?"

https://br.yahoo.com/noticias/policiais-mataram-10-sem-terras-094500109.html

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