Esperança e tormenta
Lula acerta ao escancarar vigor e agenda de um Brasil asfixiado pela demência neoliberal, essa que está empurrando a classe média aqui, e alhures, ao fascismo.
A irrupção nazista nos EUA --aqui e lá edulcorada com o eufemismo de ‘movimento supremacista’, talvez não seja, infelizmente, apenas mais uma brotoeja racista de recorrente presença na história norte-americana.
Embora seja isso também, compreender e enfrentar a real dimensão do que foi enunciado em Charlestonville, na Virgínia, pode exigir mais do que reportar à tradição escravocrata dos sulistas que preferiram a guerra civil, travada entre 1861 e 1865, a aceitar a abolição da escravatura.
É certo que os conflitos aguçados durante a secessão nunca terminaram. Nem foram menos violentos que agora.
Em 1963, por exemplo, os ditos ‘supremacistas’, mais conhecidos então como Ku Klux Klan ( clube de confederados de extrema direita nascido em 1866, ao final da guerra civil), dinamitou uma Igreja Batista, em Birmingham, no Alabama, em pleno culto.
As bananas explosivas colocadas sob o banheiro feminino da igreja mataram quatro meninas de 11 e 14 anos.
Duas dezenas de pessoas ficaram gravemente feridas
Era o terceiro atentado em dez dias no Alabama.
O estado sulista tinha então como governador o ultradireitista, George Wallace, uma versão gringa de Bolsonaro antes de sua consubstanciação tropical.
Sugestivamente, Wallace funcionava como um megafone da resistência às políticas federais de inclusão dos negros, entre as quais a plena integração no sistema escolar.
Nos protestos que se seguiram à explosão da igreja de Birmingham, a polícia de Wallace matou mais uns negros e feriu vários outros em parceria funcional com a Ku Klux Klan.
Era esse o diapasão da coisa e, ao que parece, ainda é.
Grandes líderes negros da luta por direitos civis, como o pastor Martin Luther King, assassinado em 1968, emergiram do Sul racista (Luther King é de Menphis, do não menos segregacionista Tenessee) para se projetarem nacionalmente em protestos que se espalharam pelos EUA nos anos 60.
De certa forma, o tempo histórico foi curto para fechar a cicatriz racial, turbinada no meio do caminho por novas dinâmicas de exclusão inerentes ao capitalismo.
Antes que os negros conseguissem incorporar seus pobres, seus bairros e, sobretudo, a sua juventude ao Wellfare State, o Estado do Bem Estar social norte-americano, a janela de convergência social que se abriu a partir do pós-guerra, com Franklin Roosevelt e o New Deal, voltou a se fechar.
O nacional desenvolvimentismo nos EUA, empurrado pela ascensão das ideias socialistas no mundo, duraria cerca de duas décadas. Ao final dos anos 70, já se estreitava para cerrar novamente o acesso aos excluídos.
Quando a mola mestra da política econômica em Washington terceirizou a questão social aos ‘atributos equalizadores dos livres mercados’, e o Estado mínimo ascendeu ao poder com Ronald Reagan --que governou os EUA entre 1980 e 1986, em sintonia com Thatcher, a Dama de Ferro que desmontou o Estado Social inglês entre 1979 e 1990, os próprios brancos pobres passaram a ter dificuldade de acesso e manutenção de direitos.
Os negros que nunca haviam sido plenamente integrados sentiriam então as barreiras seculares se enrijecerem ao seu redor.
Evidencias dessa coagulação da desigualdade estão marmorizadas em todas as dimensões da vida social norte-americana.
Não é um estoque.
A engrenagem se reafirma em adicionais de perdas a cada ajuste sistêmico: desde a crise de 2008, por exemplo, a riqueza média dos negros diminuiu em um terço (31%); a dos brancos, em 11%.
Segue-se daí para o resto.
Embora representem 12% da população, os negros formam 40% da massa carcerária norte-americana.
As penas que recebem são, em média, 19,5 vezes maiores que as aplicadas aos brancos em situações semelhantes.
Assim sucessivamente.
O patrimônio dos brancos é seis vezes, em média, maior que o dos negros, cujos ganhos são a metade do dos brancos.
Negros sofrem mais com o desemprego, suas crianças são expulsas das escolas três vezes mais que os filhos dos brancos.
Hoje há mais negros encarcerados e sob regime de liberdade condicional nos EUA do que o contingente de escravos em 1861, quando os ‘ruralistas’ confederados pegaram em armas para impedir o estatuto do trabalho livre em suas terras.
Troque ‘direitos dos negros’ por ‘assentamentos’ nas terras de cana, soja e boi aqui. Ou por ‘gastança’, ‘dependência do Bolsa Família’, ‘lulopopulismo’, ‘desequilíbrio fiscal’ aqui
É um exercício de transposição útil.
Permite aquilatar o teor de nitroglicerina política e econômica subjacente à questão racial nos EUA e a dimensão tectônica que poderia ter assumido a eleição de um Barack Obama lá, em 2008, tivesse ele um grão, ao menos, do desassombro exibido por Roosevelt nos anos 30.
O fato de que não tenha tido explica em boa parte a derrota de sua candidata (Hillary), em novembro de 2016 para a caricatura plástica perfeita do que de pior borbulha no sistema biliar da direita na principal trincheira capitalista da terra.
Com Donald Trump a regressão oficializada por Reagan retoma sua marcha batida. Radicalizada agora, a ponto de incluir a revogação de um plano de saúde mínimo (Medicare), legado por Obama aos pobres, negros, velhos e desempregados.
O histrionismo do novo ocupante da Casa Branca inclui outros ícones dessa cepa, como a intenção surrealista de erguer um muro na fronteira mexicana para conter a migração ilegal; ou barrar o ingresso de muçulmanos no país, em nome da segurança nacional.
O fato de que esse apelo xenófobo, visto com reservas pelo próprio partido republicano, tenha conseguido sacudir o tabuleiro político gringo envolve explicações que vão muito além da questão racial.
São elas que desenham a especificidade e a gravidade histórica da nova onda de radicalização branca nos EUA em relação às anteriores.
Dados demográficos são importantes à compreensão do biombo racial que recobre o novo tabuleiro.
As chamadas ‘minorias’, em avanço palatável há décadas no setor de serviços norte-americano, nas atividades desdenhadas pela aspereza e os baixos salários, passaram a figurar como estorvo, quando a crise de 2008 empurrou desempregados brancos a disputarem vagas no mesmo socavão.
Não é uma colisão de magnitude negligenciável.
Os latinos, por exemplo, somam atualmente 56 milhões de pessoas numa população total de 320 milhões. É mais que o contingente de negros (46 milhões); mais que o dobro dos asiáticos (21 milhões).
No conjunto, as minorias representam 38% da demografia norte-americana.
Em 2050, um em cada três norte-americanos será hispânico.
Em 2019 essa ‘minoria’ já predominará no registro de nascimentos no país de Trump e dos ‘supremacistas’.
Parece linear. Mas não é.
Movimentos de extrema-direita também arrebanham segmentos da classe média fora dos EUA, espalham-se por várias outras metrópoles do mundo, inclusive no Brasil d MBL.
Em alguns casos, o estopim da radicalização são os refugiados muçulmanos, os imigrantes africanos, ‘os turcos’ etc.
Em outros, o ‘lulopetismo’, ‘a gastança’, ‘a dependência do Bolsa’,’ os nordestinos’, ‘o lavajatismo’ empunhado pelos juízes particularizadores da impessoalidade e universalidade da lei.
Trump não pode ser apontado como o criador das criaturas de tochas nas mãos e ódio no peito que alhures perseguem refugiados e já se abalam em cerca-los no mar para impedir o desembarque em algum pontão ou cemitério europeu.
Transformações estruturais registradas desde o final dos anos 70 nas engrenagens financeira e produtiva do capitalismo global, com forte incidência na meca norte-americana, mas não só, impulsionam a grande marcha da intolerância –respondida e acentuada pela onda de atentado nos quatro cantos do mundo.
A verdade é que Trump, os nazistas americanos e europeus, assim como a ressonância de bolsonaros e dórias aqui, a epidemia de atentados, as legiões dos náufragos das guerras, das catástrofes ambientais e da fome, são faces de uma mesma erupção da desordem capitalista mundial, agravada de forma assustadora a partir de 2008.
Assustadora, em primeiro lugar, porque não tem solução política à vista.
Em segundo lugar, porque as soluções oferecidas pela direita, por Trump, por exemplo –‘America First’— ao não entregarem o retorno à bonança do pós-guerra, desencadearão uma onda ainda maior de ressentimento, levando corredeiras brutas aos moinhos de cruz de malta.
A engrenagem comum que articula esse circo de horrores precisa ser entendida para ser desmontada a tempo.
Antes que seja tarde demais.
Nas últimas quatro décadas, a criatividade democrática --aqui e em todos os lugares-- teve sua voz esganada pelas mãos da supremacia dos livres mercados, enquanto prosperava a desintegração silenciosa dos contrapesos ao fascismo.
Nos EUA, os segmentos de renda média –famílias operárias e a classe média intermediária-- foram debulhados em três golpes sucessivos.
Nos anos 70/80, com o encolhimento da indústria norte-americana e dos empregos, deslocados para a fronteira asiática de mão de obra barata e alta produtividade.
Em 2008, com o fechamento da válvula de escape do crédito farto e barato ancorado em boa parte na ‘corrente’ imobiliária, cuja implosão submeteu amplos segmentos médios e pobres a um novo regime de orfandade financeira, social e patrimonial.
Finalmente, nos anos recentes, com a revolução 4.0, a da robotização e da inteligência artificial; na sua esteira, o mercado de trabalho global vive um novo upgrade de eliminação de vagas, especialmente nas faixas de média e baixa especialização.
As três bombas desfechadas contra o chão econômico do sonho americano --simbolizado nas imagens da classe média afluente e confiante dos anos 50, 60 e 70-- esfarelaram o centro político, econômico, simbólico, imagético e real do capitalismo.
Dessa corrosão histórica emergem novas e velhas formas de incerteza, medo, ressentimento e ódio contra o pobre, as políticas sociais, os partidos, os líderes que expressam a voz dos de outra cor, outra origem social, outra língua, outra religião, outra cultura.
Trump assentou nesses escombros a promessa nostálgica da sua ‘América First’ que dificilmente cumprirá.
Entre outras coisas, ela exigiria uma diáspora de retorno impossível do parque industrial americano instalado na China e, mais remoto ainda, devolver a pasta de dente da financeirização hegemônica no capitalismo norte-americano e global ao tubo amarrotado da era produtiva.
Nessa tensão entre a promessa utópica e a impossibilidade estrutural de o sistema andar para trás, reside a singularidade de uma irrupção nazista de preocupante aderência histórica, a transcender largamente o fôlego do conflito racial, ainda que se expresse através dele.
Que isso lembre um pouco os anos 30 e o sentimento de orfandade que a dilapidação imposta pelo Tratado de Versalhes gerou na classe média e operária alemã, com as consequências sabidas, não é um despropósito.
O sentimento de desigualdade nunca foi tão onipresente nos EUA.
Exceto a classe média alta que engatou seu destino ao fastígio financeiro, a renda das camadas médias norte-americanas encontra-se praticamente estagnada, em termos reais, desde 1977, mesmo com um PIB 60% maior.
Curto e grosso: o sistema capitalista mais poderoso da terra vive uma ruptura de padrão social.
A legião dos ‘loosers’, os perdedores, passou a ocupar a centralidade que a ‘afluência’ exercia na vida da nação.
As consequências são imponderáveis.
Trump personifica essa imprevisibilidade que já assusta até os generais do Pentágono.
As vísceras da nação capitalista mais poderosa da Terra não param de se contorcer.
Desde a depressão dos anos 30, a clientela predominante das políticas sociais nos EUA era formada de crianças e idosos.
Desde os anos 80, o segmento que mais cresce dentro dela é a dos trabalhadores com alguma formação universitária.
Salários baixos, empregos precários foram responsáveis por 13% da expansão recente do programa – contra 3,5% entre 1980 e 2000.
O único segmento de trabalho que cresce ininterruptamente nos EUA nos últimos sete anos e meio é o de garçom e barman. Salário médio: US$ 330 por semana.
O ovo foi chocado no fastígio do ciclo, de 1997 à crise de 2008, quando 90% dos lares norte-americanos viram sua renda cair.
O neoliberalismo semeava perdedores em massa, anestesiados por doses cavalares de crédito, enquanto a mídia incensava as virtudes do Estado mínimo instaurado por Reagan, e das finanças desreguladas –obra ciclópica do democrata amigo de FHC, Bill Clinton.
Apenas 1% das famílias norte-americanas ascendeu à faixa de renda superior a meio milhão de dólares anuais na grande festa neoliberal dos últimos quarenta anos.
Aos demais coube a decadência, em suas variadas manifestações. Do holerite perdido, à casa hipotecada, passando pelo sofá puído --e os laços familiares esgarçados.
Pelo dilúvio de opiáceos, por exemplo.
Segundo o The New York Times, em 2016 as drogas mataram mais do que nunca no país: mais que as vidas perdidas nos 19 anos de Guerra no Vietnã.
Foram trinta e cinco mil mortes decorrentes do consumo de heroína pura ou misturada com opiáceos sintéticos, informa o El País.
O composto de uso mais comum desde 2010, 50 vezes mais forte do que a heroína, é o fentanil –que matou Prince, em 2006. Outro, o carfentanil, 100 vezes mais potente, é capaz de sedar um elefante de seis toneladas. Com uma pitada.
Esse é o calibre do desespero que eventualmente transborda em ódio nazista nas ruas de Charlestonville.
Distribuir riqueza nunca foi o forte do capitalismo.
Mas nas últimas décadas a supremacia da desregulação econômica e financeira conseguiu dar envergadura inédita à palavra desigualdade.
Quarenta anos de arrocho sobre o rendimento do trabalho nas principais economias ricas, associados a mimos tributários que promoveram o fastígio dos endinheirados e o endividamento suicida de famílias e de Estados ‘mínimos’ –coagidos a emprestar de quem deveriam tributar, romperam o circuito de formação da renda.
Os empregos formais estáveis, com bons salários, murcham e murcharão a tal ponto que deles já não se esperar mais que funcionem como pivô de irrigação da demanda e da convergência social.
Nada disso é obra de Trump.
Foi o esfarelamento anterior –estrutural-- que produziu a atual ‘estagnação secular’ feita de baixa demanda e investimento, elevada incerteza e explosivo ressentimento com a política, o Estado e a democracia.
A ordem dos fatores lança um alerta à encruzilhada brasileira atual.
A demanda por recheios distintos da rendição aos mercados vai crescer e acabará produzindo a sua oferta.
Para o bem, ou para o mal, como se vê nos EUA, na epidemia de atentados na Europa, no impasse dos refugiados no mundo e na radicalização conservadora na América Latina.
Uma heroica reorganização das forças progressistas, ou a sua não menos ciclópica derrota diante de manifestações direitistas ascendentes, é o que pulsa no monitor da história.
A caravana de Lula pelo Nordeste nesse momento tem um valor inestimável.
Ela escancara o rosto, a energia e a agenda de um outra lógica asfixiada pela narrativa conservadora, escondida pela mídia, reprimida pelo martelete fatalista da redenção pelo arrocho e a expropriação de direitos.
A simples imagem desse Brasil irredutível às promessas de uma eutanásia social regeneradora já desautoriza e estremece a narrativa dominante.
Sobretudo, porém, evidencia a eficácia do desassombro no repto ao cerco conservador.
O passo seguinte da caravana da esperança é desafiar esse bunker nos domínios de sua pedra angular.
Com a dose necessária de desassombro para trazer uma parte da classe média brasileira para fora da agenda do golpe.
Sim, não é fácil.
Convencer uma sociedade a abraçar uma experiência ainda não vivida costuma ser assunto para revoluções.
Mas a façanha que se exige para afrontar a engrenagem fascistóide em marcha não pode se pautar pelo acanhamento ou fracassará esfericamente.
Contra a espiral descendente vivida globalmente pelas faixas de renda média, é inútil prometer uma ‘volta’ a uma estabilidade fiscal que na verdade nunca existiu.
Nem existirá, sem uma reforma tributária corajosa que erga linhas de passagem à classe média e aos pobres, aliviando seu fardo para taxar os endinheirados, patrocinadores seminais do golpe e do arrocho brasileiro.
Como mostrou em recente artigo (Folha,12/08) o economista Sergi Gobetti, a classe média aqui, com renda de R$ 7.000 mensais, considerada rica, é tão vítima da injustiça fiscal quanto os pobres.
Ambos são proporcionalmente mais taxados que os ricos, sem obter retorno equivalente de serviços públicos dignos.
‘Os realmente ricos, que vivem de expressivos lucros obtidos das empresas em que são acionistas e do dinheiro aplicado no mercado financeiro -cuja tributação é menor do que sobre salários’, explica Gobetti, 'somam 70 mil pessoas (0,05% da população ativa) ganham, em média, R$ 5 milhões anuais e concentram 8,2% da renda nacional’.
Pouco taxados, são eles também, junto com bancos e corporações, os que emprestam ao Estado adquirindo títulos de uma dívida pública que avança para atingir 80% do PIB e lhes devolve 6,9% do PIB em juros, todos os anos.
É nesse sumidouro rentista que se degradam e escasseiam os serviços públicos, de cuja qualidade os pobres e a classe média que paga imposto se ressentem com razão.
À descrença, ao medo, à incerteza e à angústia que flertam com o autoritarismo trata-se, portanto, de contrapor o horizonte de uma rede de segurança feita de serviços públicos e de espaços públicos de inédita audácia e qualidade.
Cidadania abrangente e enriquecedora, capaz de recompensar em larga medida as oscilações e revezes de um mundo profissional, e de renda, globalmente cada vez mais adverso à classe média e aos pobres.
Não é fácil, repita-se, vencer o descrédito e a resistência ao novo, quando a matraca conservadora emite falsos salvo-condutos de regressividade e apartheid.
Mas quando se tem como alternativa, pela enésima vez, a receita embolorada de um arrocho que antecipa no fracasso da meta atual o desastre da seguinte, a demanda pelo novo torna-se quase visceral.
O instinto de sobrevivência de amplas camadas sociais aderna entre o novo e o fascismo.
A ‘des-emancipação’ social em massa preconizada pelo golpe de 2016 no Brasil atingirá a presente geração, a anterior, dos idosos, e a futura, da juventude.
E não apenas dos pobres, mas também das faixas médias de renda, seus filhos e netos, que já patinam no meio fio do mercado e da cidadania.
Refém de uma armadilha ideológica que transfere ao mercado tarefas das quais ele não pode se desincumbir, a população brasileira pode ser arrastada a uma liquefação da economia e da sociedade na qual não haverá ganhadores, só derrotados.
Um recomeço efetivo exige outra coisa.
Exige uma repactuação política fiadora de um novo ciclo de investimentos estatais e privados, que afronte o esgarçamento industrial ali onde o país ainda dispõe de competitividade. E, sobretudo, expanda e renove maciçamente a infraestrutura e os serviços públicos, para erguer um abrigo de direitos no qual a cidadania se reconcilie e resgate a confiança no poder da democracia para construir uma nação verdadeiramente de todos.
Embora seja isso também, compreender e enfrentar a real dimensão do que foi enunciado em Charlestonville, na Virgínia, pode exigir mais do que reportar à tradição escravocrata dos sulistas que preferiram a guerra civil, travada entre 1861 e 1865, a aceitar a abolição da escravatura.
É certo que os conflitos aguçados durante a secessão nunca terminaram. Nem foram menos violentos que agora.
Em 1963, por exemplo, os ditos ‘supremacistas’, mais conhecidos então como Ku Klux Klan ( clube de confederados de extrema direita nascido em 1866, ao final da guerra civil), dinamitou uma Igreja Batista, em Birmingham, no Alabama, em pleno culto.
As bananas explosivas colocadas sob o banheiro feminino da igreja mataram quatro meninas de 11 e 14 anos.
Duas dezenas de pessoas ficaram gravemente feridas
Era o terceiro atentado em dez dias no Alabama.
O estado sulista tinha então como governador o ultradireitista, George Wallace, uma versão gringa de Bolsonaro antes de sua consubstanciação tropical.
Sugestivamente, Wallace funcionava como um megafone da resistência às políticas federais de inclusão dos negros, entre as quais a plena integração no sistema escolar.
Nos protestos que se seguiram à explosão da igreja de Birmingham, a polícia de Wallace matou mais uns negros e feriu vários outros em parceria funcional com a Ku Klux Klan.
Era esse o diapasão da coisa e, ao que parece, ainda é.
Grandes líderes negros da luta por direitos civis, como o pastor Martin Luther King, assassinado em 1968, emergiram do Sul racista (Luther King é de Menphis, do não menos segregacionista Tenessee) para se projetarem nacionalmente em protestos que se espalharam pelos EUA nos anos 60.
De certa forma, o tempo histórico foi curto para fechar a cicatriz racial, turbinada no meio do caminho por novas dinâmicas de exclusão inerentes ao capitalismo.
Antes que os negros conseguissem incorporar seus pobres, seus bairros e, sobretudo, a sua juventude ao Wellfare State, o Estado do Bem Estar social norte-americano, a janela de convergência social que se abriu a partir do pós-guerra, com Franklin Roosevelt e o New Deal, voltou a se fechar.
O nacional desenvolvimentismo nos EUA, empurrado pela ascensão das ideias socialistas no mundo, duraria cerca de duas décadas. Ao final dos anos 70, já se estreitava para cerrar novamente o acesso aos excluídos.
Quando a mola mestra da política econômica em Washington terceirizou a questão social aos ‘atributos equalizadores dos livres mercados’, e o Estado mínimo ascendeu ao poder com Ronald Reagan --que governou os EUA entre 1980 e 1986, em sintonia com Thatcher, a Dama de Ferro que desmontou o Estado Social inglês entre 1979 e 1990, os próprios brancos pobres passaram a ter dificuldade de acesso e manutenção de direitos.
Os negros que nunca haviam sido plenamente integrados sentiriam então as barreiras seculares se enrijecerem ao seu redor.
Evidencias dessa coagulação da desigualdade estão marmorizadas em todas as dimensões da vida social norte-americana.
Não é um estoque.
A engrenagem se reafirma em adicionais de perdas a cada ajuste sistêmico: desde a crise de 2008, por exemplo, a riqueza média dos negros diminuiu em um terço (31%); a dos brancos, em 11%.
Segue-se daí para o resto.
Embora representem 12% da população, os negros formam 40% da massa carcerária norte-americana.
As penas que recebem são, em média, 19,5 vezes maiores que as aplicadas aos brancos em situações semelhantes.
Assim sucessivamente.
O patrimônio dos brancos é seis vezes, em média, maior que o dos negros, cujos ganhos são a metade do dos brancos.
Negros sofrem mais com o desemprego, suas crianças são expulsas das escolas três vezes mais que os filhos dos brancos.
Hoje há mais negros encarcerados e sob regime de liberdade condicional nos EUA do que o contingente de escravos em 1861, quando os ‘ruralistas’ confederados pegaram em armas para impedir o estatuto do trabalho livre em suas terras.
Troque ‘direitos dos negros’ por ‘assentamentos’ nas terras de cana, soja e boi aqui. Ou por ‘gastança’, ‘dependência do Bolsa Família’, ‘lulopopulismo’, ‘desequilíbrio fiscal’ aqui
É um exercício de transposição útil.
Permite aquilatar o teor de nitroglicerina política e econômica subjacente à questão racial nos EUA e a dimensão tectônica que poderia ter assumido a eleição de um Barack Obama lá, em 2008, tivesse ele um grão, ao menos, do desassombro exibido por Roosevelt nos anos 30.
O fato de que não tenha tido explica em boa parte a derrota de sua candidata (Hillary), em novembro de 2016 para a caricatura plástica perfeita do que de pior borbulha no sistema biliar da direita na principal trincheira capitalista da terra.
Com Donald Trump a regressão oficializada por Reagan retoma sua marcha batida. Radicalizada agora, a ponto de incluir a revogação de um plano de saúde mínimo (Medicare), legado por Obama aos pobres, negros, velhos e desempregados.
O histrionismo do novo ocupante da Casa Branca inclui outros ícones dessa cepa, como a intenção surrealista de erguer um muro na fronteira mexicana para conter a migração ilegal; ou barrar o ingresso de muçulmanos no país, em nome da segurança nacional.
O fato de que esse apelo xenófobo, visto com reservas pelo próprio partido republicano, tenha conseguido sacudir o tabuleiro político gringo envolve explicações que vão muito além da questão racial.
São elas que desenham a especificidade e a gravidade histórica da nova onda de radicalização branca nos EUA em relação às anteriores.
Dados demográficos são importantes à compreensão do biombo racial que recobre o novo tabuleiro.
As chamadas ‘minorias’, em avanço palatável há décadas no setor de serviços norte-americano, nas atividades desdenhadas pela aspereza e os baixos salários, passaram a figurar como estorvo, quando a crise de 2008 empurrou desempregados brancos a disputarem vagas no mesmo socavão.
Não é uma colisão de magnitude negligenciável.
Os latinos, por exemplo, somam atualmente 56 milhões de pessoas numa população total de 320 milhões. É mais que o contingente de negros (46 milhões); mais que o dobro dos asiáticos (21 milhões).
No conjunto, as minorias representam 38% da demografia norte-americana.
Em 2050, um em cada três norte-americanos será hispânico.
Em 2019 essa ‘minoria’ já predominará no registro de nascimentos no país de Trump e dos ‘supremacistas’.
Parece linear. Mas não é.
Movimentos de extrema-direita também arrebanham segmentos da classe média fora dos EUA, espalham-se por várias outras metrópoles do mundo, inclusive no Brasil d MBL.
Em alguns casos, o estopim da radicalização são os refugiados muçulmanos, os imigrantes africanos, ‘os turcos’ etc.
Em outros, o ‘lulopetismo’, ‘a gastança’, ‘a dependência do Bolsa’,’ os nordestinos’, ‘o lavajatismo’ empunhado pelos juízes particularizadores da impessoalidade e universalidade da lei.
Trump não pode ser apontado como o criador das criaturas de tochas nas mãos e ódio no peito que alhures perseguem refugiados e já se abalam em cerca-los no mar para impedir o desembarque em algum pontão ou cemitério europeu.
Transformações estruturais registradas desde o final dos anos 70 nas engrenagens financeira e produtiva do capitalismo global, com forte incidência na meca norte-americana, mas não só, impulsionam a grande marcha da intolerância –respondida e acentuada pela onda de atentado nos quatro cantos do mundo.
A verdade é que Trump, os nazistas americanos e europeus, assim como a ressonância de bolsonaros e dórias aqui, a epidemia de atentados, as legiões dos náufragos das guerras, das catástrofes ambientais e da fome, são faces de uma mesma erupção da desordem capitalista mundial, agravada de forma assustadora a partir de 2008.
Assustadora, em primeiro lugar, porque não tem solução política à vista.
Em segundo lugar, porque as soluções oferecidas pela direita, por Trump, por exemplo –‘America First’— ao não entregarem o retorno à bonança do pós-guerra, desencadearão uma onda ainda maior de ressentimento, levando corredeiras brutas aos moinhos de cruz de malta.
A engrenagem comum que articula esse circo de horrores precisa ser entendida para ser desmontada a tempo.
Antes que seja tarde demais.
Nas últimas quatro décadas, a criatividade democrática --aqui e em todos os lugares-- teve sua voz esganada pelas mãos da supremacia dos livres mercados, enquanto prosperava a desintegração silenciosa dos contrapesos ao fascismo.
Nos EUA, os segmentos de renda média –famílias operárias e a classe média intermediária-- foram debulhados em três golpes sucessivos.
Nos anos 70/80, com o encolhimento da indústria norte-americana e dos empregos, deslocados para a fronteira asiática de mão de obra barata e alta produtividade.
Em 2008, com o fechamento da válvula de escape do crédito farto e barato ancorado em boa parte na ‘corrente’ imobiliária, cuja implosão submeteu amplos segmentos médios e pobres a um novo regime de orfandade financeira, social e patrimonial.
Finalmente, nos anos recentes, com a revolução 4.0, a da robotização e da inteligência artificial; na sua esteira, o mercado de trabalho global vive um novo upgrade de eliminação de vagas, especialmente nas faixas de média e baixa especialização.
As três bombas desfechadas contra o chão econômico do sonho americano --simbolizado nas imagens da classe média afluente e confiante dos anos 50, 60 e 70-- esfarelaram o centro político, econômico, simbólico, imagético e real do capitalismo.
Dessa corrosão histórica emergem novas e velhas formas de incerteza, medo, ressentimento e ódio contra o pobre, as políticas sociais, os partidos, os líderes que expressam a voz dos de outra cor, outra origem social, outra língua, outra religião, outra cultura.
Trump assentou nesses escombros a promessa nostálgica da sua ‘América First’ que dificilmente cumprirá.
Entre outras coisas, ela exigiria uma diáspora de retorno impossível do parque industrial americano instalado na China e, mais remoto ainda, devolver a pasta de dente da financeirização hegemônica no capitalismo norte-americano e global ao tubo amarrotado da era produtiva.
Nessa tensão entre a promessa utópica e a impossibilidade estrutural de o sistema andar para trás, reside a singularidade de uma irrupção nazista de preocupante aderência histórica, a transcender largamente o fôlego do conflito racial, ainda que se expresse através dele.
Que isso lembre um pouco os anos 30 e o sentimento de orfandade que a dilapidação imposta pelo Tratado de Versalhes gerou na classe média e operária alemã, com as consequências sabidas, não é um despropósito.
O sentimento de desigualdade nunca foi tão onipresente nos EUA.
Exceto a classe média alta que engatou seu destino ao fastígio financeiro, a renda das camadas médias norte-americanas encontra-se praticamente estagnada, em termos reais, desde 1977, mesmo com um PIB 60% maior.
Curto e grosso: o sistema capitalista mais poderoso da terra vive uma ruptura de padrão social.
A legião dos ‘loosers’, os perdedores, passou a ocupar a centralidade que a ‘afluência’ exercia na vida da nação.
As consequências são imponderáveis.
Trump personifica essa imprevisibilidade que já assusta até os generais do Pentágono.
As vísceras da nação capitalista mais poderosa da Terra não param de se contorcer.
Desde a depressão dos anos 30, a clientela predominante das políticas sociais nos EUA era formada de crianças e idosos.
Desde os anos 80, o segmento que mais cresce dentro dela é a dos trabalhadores com alguma formação universitária.
Salários baixos, empregos precários foram responsáveis por 13% da expansão recente do programa – contra 3,5% entre 1980 e 2000.
O único segmento de trabalho que cresce ininterruptamente nos EUA nos últimos sete anos e meio é o de garçom e barman. Salário médio: US$ 330 por semana.
O ovo foi chocado no fastígio do ciclo, de 1997 à crise de 2008, quando 90% dos lares norte-americanos viram sua renda cair.
O neoliberalismo semeava perdedores em massa, anestesiados por doses cavalares de crédito, enquanto a mídia incensava as virtudes do Estado mínimo instaurado por Reagan, e das finanças desreguladas –obra ciclópica do democrata amigo de FHC, Bill Clinton.
Apenas 1% das famílias norte-americanas ascendeu à faixa de renda superior a meio milhão de dólares anuais na grande festa neoliberal dos últimos quarenta anos.
Aos demais coube a decadência, em suas variadas manifestações. Do holerite perdido, à casa hipotecada, passando pelo sofá puído --e os laços familiares esgarçados.
Pelo dilúvio de opiáceos, por exemplo.
Segundo o The New York Times, em 2016 as drogas mataram mais do que nunca no país: mais que as vidas perdidas nos 19 anos de Guerra no Vietnã.
Foram trinta e cinco mil mortes decorrentes do consumo de heroína pura ou misturada com opiáceos sintéticos, informa o El País.
O composto de uso mais comum desde 2010, 50 vezes mais forte do que a heroína, é o fentanil –que matou Prince, em 2006. Outro, o carfentanil, 100 vezes mais potente, é capaz de sedar um elefante de seis toneladas. Com uma pitada.
Esse é o calibre do desespero que eventualmente transborda em ódio nazista nas ruas de Charlestonville.
Distribuir riqueza nunca foi o forte do capitalismo.
Mas nas últimas décadas a supremacia da desregulação econômica e financeira conseguiu dar envergadura inédita à palavra desigualdade.
Quarenta anos de arrocho sobre o rendimento do trabalho nas principais economias ricas, associados a mimos tributários que promoveram o fastígio dos endinheirados e o endividamento suicida de famílias e de Estados ‘mínimos’ –coagidos a emprestar de quem deveriam tributar, romperam o circuito de formação da renda.
Os empregos formais estáveis, com bons salários, murcham e murcharão a tal ponto que deles já não se esperar mais que funcionem como pivô de irrigação da demanda e da convergência social.
Nada disso é obra de Trump.
Foi o esfarelamento anterior –estrutural-- que produziu a atual ‘estagnação secular’ feita de baixa demanda e investimento, elevada incerteza e explosivo ressentimento com a política, o Estado e a democracia.
A ordem dos fatores lança um alerta à encruzilhada brasileira atual.
A demanda por recheios distintos da rendição aos mercados vai crescer e acabará produzindo a sua oferta.
Para o bem, ou para o mal, como se vê nos EUA, na epidemia de atentados na Europa, no impasse dos refugiados no mundo e na radicalização conservadora na América Latina.
Uma heroica reorganização das forças progressistas, ou a sua não menos ciclópica derrota diante de manifestações direitistas ascendentes, é o que pulsa no monitor da história.
A caravana de Lula pelo Nordeste nesse momento tem um valor inestimável.
Ela escancara o rosto, a energia e a agenda de um outra lógica asfixiada pela narrativa conservadora, escondida pela mídia, reprimida pelo martelete fatalista da redenção pelo arrocho e a expropriação de direitos.
A simples imagem desse Brasil irredutível às promessas de uma eutanásia social regeneradora já desautoriza e estremece a narrativa dominante.
Sobretudo, porém, evidencia a eficácia do desassombro no repto ao cerco conservador.
O passo seguinte da caravana da esperança é desafiar esse bunker nos domínios de sua pedra angular.
Com a dose necessária de desassombro para trazer uma parte da classe média brasileira para fora da agenda do golpe.
Sim, não é fácil.
Convencer uma sociedade a abraçar uma experiência ainda não vivida costuma ser assunto para revoluções.
Mas a façanha que se exige para afrontar a engrenagem fascistóide em marcha não pode se pautar pelo acanhamento ou fracassará esfericamente.
Contra a espiral descendente vivida globalmente pelas faixas de renda média, é inútil prometer uma ‘volta’ a uma estabilidade fiscal que na verdade nunca existiu.
Nem existirá, sem uma reforma tributária corajosa que erga linhas de passagem à classe média e aos pobres, aliviando seu fardo para taxar os endinheirados, patrocinadores seminais do golpe e do arrocho brasileiro.
Como mostrou em recente artigo (Folha,12/08) o economista Sergi Gobetti, a classe média aqui, com renda de R$ 7.000 mensais, considerada rica, é tão vítima da injustiça fiscal quanto os pobres.
Ambos são proporcionalmente mais taxados que os ricos, sem obter retorno equivalente de serviços públicos dignos.
‘Os realmente ricos, que vivem de expressivos lucros obtidos das empresas em que são acionistas e do dinheiro aplicado no mercado financeiro -cuja tributação é menor do que sobre salários’, explica Gobetti, 'somam 70 mil pessoas (0,05% da população ativa) ganham, em média, R$ 5 milhões anuais e concentram 8,2% da renda nacional’.
Pouco taxados, são eles também, junto com bancos e corporações, os que emprestam ao Estado adquirindo títulos de uma dívida pública que avança para atingir 80% do PIB e lhes devolve 6,9% do PIB em juros, todos os anos.
É nesse sumidouro rentista que se degradam e escasseiam os serviços públicos, de cuja qualidade os pobres e a classe média que paga imposto se ressentem com razão.
À descrença, ao medo, à incerteza e à angústia que flertam com o autoritarismo trata-se, portanto, de contrapor o horizonte de uma rede de segurança feita de serviços públicos e de espaços públicos de inédita audácia e qualidade.
Cidadania abrangente e enriquecedora, capaz de recompensar em larga medida as oscilações e revezes de um mundo profissional, e de renda, globalmente cada vez mais adverso à classe média e aos pobres.
Não é fácil, repita-se, vencer o descrédito e a resistência ao novo, quando a matraca conservadora emite falsos salvo-condutos de regressividade e apartheid.
Mas quando se tem como alternativa, pela enésima vez, a receita embolorada de um arrocho que antecipa no fracasso da meta atual o desastre da seguinte, a demanda pelo novo torna-se quase visceral.
O instinto de sobrevivência de amplas camadas sociais aderna entre o novo e o fascismo.
A ‘des-emancipação’ social em massa preconizada pelo golpe de 2016 no Brasil atingirá a presente geração, a anterior, dos idosos, e a futura, da juventude.
E não apenas dos pobres, mas também das faixas médias de renda, seus filhos e netos, que já patinam no meio fio do mercado e da cidadania.
Refém de uma armadilha ideológica que transfere ao mercado tarefas das quais ele não pode se desincumbir, a população brasileira pode ser arrastada a uma liquefação da economia e da sociedade na qual não haverá ganhadores, só derrotados.
Um recomeço efetivo exige outra coisa.
Exige uma repactuação política fiadora de um novo ciclo de investimentos estatais e privados, que afronte o esgarçamento industrial ali onde o país ainda dispõe de competitividade. E, sobretudo, expanda e renove maciçamente a infraestrutura e os serviços públicos, para erguer um abrigo de direitos no qual a cidadania se reconcilie e resgate a confiança no poder da democracia para construir uma nação verdadeiramente de todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário