Uma cleptocracia cruel, covarde e
assassina
ROBSON SÁVIO REIS SOUZA*
Que o Brasil é comandado por
uma coalizão de ladrões não há dúvidas. Além do bando que tomou de assalto o
Executivo, observa-se também um Parlamento majoritariamente formado por larápios;
outros tantos estão no Judiciário – que por omissão, ação ou conivência
respaldam e dão suporte à empreitada golpista.
Mas, por que estamos sob o
domínio de uma cleptocracia? Porque somos dirigidos por “um tipo de governo no
qual as decisões são tomadas com extrema parcialidade, indo totalmente ao
encontro de interesses pessoais dos detentores do poder político. Assim, a
riqueza é extraída de toda a população e destinada a um grupo específico de
indivíduos detentores de poder. Muitas vezes são criados programas, leis e
projetos sem nenhuma lógica ou viabilidade, que no fundo, possuem a função de
beneficiar certos indivíduos ou simplesmente desviar a verba pública para os
bolsos dos governantes.”
Além de manipular
criminosamente o erário e o patrimônio nacional, os golpistas roubam também os
direitos (constitucionais) e a esperança de um país minimante decente, justo e
civilizado.
Temos assistido, perplexos, a
um show de horrores patrocinados pela coalizão nos poderes dessa republiqueta
das bananas. Ações cruéis, covardes e que geram morte: reformas constitucionais
sem respaldo e concordância popular que maculam a Constituição e já produzem
sofrimento e morte; transferência criminosa de recursos e fundos públicos para
os ricos (banqueiros, empresários, mídia e latifundiários) e arrocho para os
trabalhadores e os pobres.
Os cortes anunciados no
salário mínimo (algo inimaginável) e no Programa Bolsa Família, por exemplo,
são dois dos mais recentes absurdos; mais que isso, são um escárnio. Uma
violência inominável que só pode ser produzida quando se corrompem todos os
critérios éticos, humanos, republicanos e de justiça a escancarar a face mais
perversa dessa coalizão.
A falta de pudor e escrúpulos
é tão grande que os golpistas não conseguem sequer perceber que há algo estupidamente
agonizante num desgoverno quando nem mesmo as aparências são preservadas.
Uma das maiores pesquisadoras
sobre os resultados altamente positivos do Bolsa Família, Walquíria Domingues
Leão Rego, demostrou em recente artigo que “o feito inacreditável dos cortes é
sua absurda lógica. Ora, tais cortes empobrecerão ainda mais os municípios que
abrigam esta população, tornando-a mais miserável, menos consumidora de bens e
serviços. Resultado imediato desta
perversa lógica: aumento do sofrimento social, politicamente evitável com
políticas públicas bem desenhadas e bem debatidas. (...) Apenas crueldade
social para responder à sanha preconceituosa e mal informada da classe média
paneleira. Na verdade, tornar ainda mais garantido o saque a nação para ampliar
os lucros de rentistas de todos os naipes. (Veja aqui).
Como se não bastassem o
congelamento por duas décadas de novos investimentos sociais, os retrocessos na
legislação trabalhistas (violência que nem mesmo a ditadura militar ousou
processar) e tantas outras alterações legislativas infraconstitucionais que
atentam contra os mais pobres em benefício do andar de cima, a cleptocracia
avança a passos largos para modificar a previdência, arrombando por inteiro
todo o sistema de seguridade social brasileiro.
Por outro lado, benesses em
abundância são concedidas àqueles que, cínica e criminosamente, apoiam o bando
no poder.
Em recente artigo, Aldemário
Araújo Castro, procurador da Fazenda Nacional e professor da Universidade
Católica de Brasília, confirmou o que todos sabemos: o discurso para justificar
os cortes nos gastos com a Previdência Social e nas despesas com a máquina
pública é cheio de más intenções. O artigo completo pode ser acessado aqui.
Em relação à previdência
social, fica fácil desmascarar a falácia do rombo no sistema: “a Desvinculação
de Receitas da União (DRU), efetivada por mais de vinte anos, subtraiu vultosos
recursos da Seguridade Social para outros fins (...) e os fundos
previdenciários, previstos pela Emenda Constitucional n. 20, de 1998, não foram
constituídos pelos sucessivos governos.”
Quando se trata dos cortes no
funcionalismo público, enquanto no Brasil “a cada 100 trabalhadores, 12 são
servidores públicos, a média é a mesma verificada nos demais países da América
Latina, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) e nos países mais desenvolvidos, o percentual costuma ser
quase o dobro — nesses locais, a média é de 21 funcionários a cada 100
empregados.”
Ou seja, há todo um esforço
bem articulado da cleptocracia para atender às expectativas da banca
internacional e do rentismo, a destruir as bases de um estado social e a
inviabilizar a máquina pública para o atendimento adequado à população.
Enquanto isso, com a omissão
intencional da mídia, “as bilionárias despesas com o serviço da dívida pública
são praticamente esquecidas no debate realizado pela grande imprensa, pelo
governo e pelo parlamento. Nesse campo, registra-se o pagamento de cerca de 511
bilhões de reais em juros (nominais) pela União em 2016 (8,1% do PIB).”
Ademais, “a sonegação
tributária, segundo vários estudos e análises, como aquele que sustenta o
sonegômetro do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional, atinge
o patamar de 500 bilhões de reais por ano.”
E, ainda, “as renúncias de
receitas tributárias em conjunto (realizadas e projetadas), entre os anos de
2010 e 2018, alcançarão o patamar de 501,4 bilhões de reais. Somente no ano de
2015, as desonerações observadas representaram aproximadamente 106,7 bilhões de
reais. Esses dados constam de análises efetivadas pela Receita Federal do
Brasil.”
Por fim, “os subsídios de
várias naturezas concedidos pelo governo constituem um capítulo especial em
matéria de gastos públicos. Segundo o Ministério da Fazenda, de 2003 a 2016 os
subsídios embutidos em operações de crédito e financeiras somaram quase R$ 1
trilhão – 420 bilhões do total foram para o setor produtivo (Folha de São
Paulo, dia 6 de agosto de 2017).”
Ou seja, a coalizão golpista que
rouba dos pobres para beneficiar os ricos além rasgar a Constituição, assim
procede porque não tem nenhum compromisso com o país e seu povo. Às favas a
ética, o senso de justiça, o compromisso com a igualdade ou com qualquer outro
ideal humanitário e republicano.
Esse é o resumo da ópera:
nosso país está nas mãos de um banco que é cruel e covarde e que provoca o
sofrimento e a morte, no presente e no futuro, de milhões de brasileiros.
* Doutor em Ciências Sociais
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