Teresa Cruvinel
Quando Michel Temer e a cúpula do PMDB
resolveram trair Dilma, romper com seu governo e embarcar no golpe do
impeachment calculavam que, tomando o governo, uniriam o partido em torno de um
projeto próprio de poder para 2018.
Após seis meses de um governo
desastroso, o partido está novamente rachado e destinado a continuar sendo
linha auxiliar na próxima disputa presidencial.
O racha na bancada do Senado foi
escancarado nesta segunda-feira 26/12 pela postagem do presidente do partido e
líder do Governo, Romero Jucá, negando que pretenda disputar a presidência da
Casa e dizendo haver consenso em torno do nome do atual líder do partido, Eunício Oliveira.
Jucá ouviu de Renan Calheiros uma
proposta para que se lançasse candidato a presidente com seu apoio, cedendo-lhe
a presidência do partido, posto que daria mais cacife a quem vai trocar o alto
da Mesa pela planície do plenário. Jucá não apenas recusou como foi à rede
social explicitar sua posição, que é apoiada por Temer. E com isso, restará a
Renan o posto de líder da bancada, mesmo assim se conseguir a maioria de votos
para ser eleito.
Na Câmara a situação não é muito
diferente. A maioria da bancada votou contra Temer no projeto de renegociação
das dívidas estaduais, suprimindo a exigência de contrapartidas. Uma parte da
bancada, alinhada com o Centrão, é contra a candidatura de Rodrigo Maia(DEM) a um segundo mandato na presidência da Câmara.
A disputa de fevereiro promete
aprofundar as fissuras que começam a aparecer na ampla base de apoio a Temer, a
tábua de salvação em que se agarra, diante da impopularidade, do evidente
colapso econômico e das denúncias da Lava-Jato.
Mas ainda que Temer sobreviva no cargo
até 2018, como um pato manco, arrastando as correntes da impopularidade e da
fragilidade, o projeto de poder do PMDB já foi para o espaço.
Temer vacilou muito quando os
peemedebistas que hoje compõem o núcleo duro de seu governo (Moreira Franco, Eliseu
Padilha, Geddel Vieira e Henrique Alves, que já caíram), em longas tertúlias no
Jaburu, buscavam convencê-lo de que “o cavalo estava passando selado” em sua
porta e era preciso montá-lo. Ou seja, dar o golpe, tomar o governo e
viabilizar o tal projeto próprio de poder.
Pois, afinal, depois da Constituinte, o papel do partido foi dar
sustentação a governos de outros partidos, exercitando com maestria a arte do
fisiologismo, da troca de apoio por nacos do Estado.
Assim foi com Fernando Henrique, com
Lula e com Dilma. As duas candidaturas presidenciais do PMDB, a de Ulysses
Guimarães em 1989 e a de Quércia em 1994, sofreram derrotas humilhantes. Mas com o golpe, esta sina poderia mudar.
Temer finalmente foi convencido e um dos primeiros movimentos reveladores de
que entrara na conspiração foi aquela carta dos queixumes a Dilma. Em seguida
Romero Jucá, como presidente do partido, comandou o desembarque do governo.
Este foi o verdadeiro dia do golpe.
Pouco antes, o documento “Ponte para o Futuro”
fora elaborado para dizer ao país que o PMDB tinha programa para concluir o
governo de Dilma e seguir no comando do país.
Seis meses depois, não há ponte, apenas uma pinguela, segundo FHC. O
futuro é um grande ponto de interrogação pairando sobre o país que se
desmancha.
Na disputa de 2018, mesmo que Temer não
caia antes, estarão no jogo o PT com Lula, o PSDB, possivelmente com Aécio
Neves, Ciro Gomes, pelo PDT, Marina Silva, pela Rede, e os outsiders que
fatalmente vão aparecer, como Bolsonaro e semelhantes, pela direita ou pela
esquerda. Ao PMDB, restará apoiar os tucanos. A Lava-Jato não deixará ninguém
em condições de disputar a presidência, nem mesmo como um candidato figurativo
no primeiro turno, para barganhar apoio
no segundo.
Eles se enganaram com Temer,
superestimaram sua dimensão e sua capacidade para liderar um país em crise
política, econômica e ética. Subestimaram os setores que resistiram ao golpe e
conseguiram difundir a narrativa sobre a verdadeira natureza do impeachment de
Dilma. Sacrificaram a democracia e estão sacrificando a economia nacional por
nada. Não há projeto de poder para o PMDB no horizonte de 2018.
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