O silêncio das
panelas
Sebastião Costa*
Em todos os
tempos, sempre que se pretendeu avaliar o desempenho de qualquer governo, em
qualquer país, foi naturalmente inevitável se falar na evolução da economia, no
perfil da política externa, e essencialmente no continente latino americano, na
performance das políticas sociais.
Mas, no Brasil
atual, os cidadãos que bateram muita panela foram induzidos/conduzidos a
enxergar durante alguns anos só e somente só, as questões éticas. De repente
todo o noticiário político da imprensa tupiniquim concentrou todos os holofotes
nos delitos e desvios éticos, promovendo intolerância e sentimentos de rancor e
ódio, que anestesiaram sensibilidade social, trucidaram senso de justiça,
extirparam a consciência democrática de muitos brasileiros.
De mãos dadas,
intolerância e sentimentos tangeram muitos brasileiros inteligentes para as
ruas, convictos de que estavam gritando pela ética na política. Das sacadas dos
apartamentos chiques, o barulho revoltado das panelas, na consciência de que
estavam erradicando a corrupção no país.
E no êxtase da
euforia inebriante, não perceberam que os muitos gritos, panelas e buzinas
estavam comemorando a queda de uma presidente sem crime de responsabilidade.
Passado o
carnaval golpista, veio a ressaca da Quarta-feira de Cinzas, montada numa
realidade corruptiva, entranhada nas profundezas de um governo com rumo e
diretrizes estabelecidos por interesses, sem qualquer harmonia com as
ansiedades e necessidades do povo brasileiro.
Embriagados
pelo oba-oba do fervor cívico, os paneleiros nunca se incomodaram com as
arbitrariedades criminosas do super-juíz, muito menos com as tendenciosidades
sem rédeas do Procurador Geral da República, que investiga vazamentos só de um
lado, configurando, sem qualquer inibição, a miopia seletiva da justiça. Não
sentiram sequer o odor fétido exalado das delações odebrechtianas, que
expuseram os porões infectos de um governo que já nasceu corrupto.
Recentemente,
em pronunciamento conjunto com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e da
Câmara federal, Rodrigo Maia, o presidente Michel Temer falou com insistência
em medidas de combate à corrupção. Os dois parlamentares, como se sabe,
carregam nas costas graves denúncias de desvios éticos e o presidente, além de
constar nos esgotos da Odebrecht., é auxiliado pelos ministros, “Velhinho” e
“Angorá” e apoiado pelos partidos de “Gripado",
"Caju" e "Mineirinho".
A grande
curiosidade é que, durante todo o pronunciamento, em pleno domingo, não se
enxergou nas ruas brasileiras um único resíduo daquele fervor cívico, nem se
ouviu um mísero tilintar de panelas.
* Médico pneumologista
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