(Entrevista com Plínio de Arruda Sampaio Jr.)
Gabriel Brito
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Correio da Cidadania: A PEC 241, que estabelece um teto percentual para os gastos públicos
para os próximos 20 anos e que deve afetar as áreas sociais, como saúde e
educação, é o grande assunto do momento. Como você a avalia em linhas gerais?
Plínio
Arruda Sampaio Junior: A PEC 241
radicaliza a Lei de Responsabilidade Fiscal e a drenagem de recursos estipulada
pela famigerada DRU — a Desvinculação da Receita da União. Trata-se de tirar
dos pobres, que dependem de políticas públicas, para dar aos ricos, que se
locupletam na ciranda da dívida pública. Os efeitos sociais da “PEC do fim do
mundo”, como muitos a chamam, serão catastróficos.
Se colocada em prática, significaria uma
contração das despesas primárias do governo federal de 20% para 12% do PIB. É
uma barbaridade que comprometeria totalmente os serviços públicos.
Se esse critério tivesse sido adotado
vinte anos atrás, os gastos com educação teriam sofrido uma contração de um
terço; o SUS, de acordo com a Associação Brasileira de Economia da Saúde, teria
sido inviabilizado; o salário mínimo, que regula o rendimento de quase 50
milhões de brasileiros, segundo cálculos do DIEESE, teria sofrido uma redução
da ordem de 42%.
O congelamento dos gastos públicos por
vinte anos é uma expropriação de fundos públicos sem precedente na história
brasileira. Só uma classe dominante de origem escravista, sem nenhum
compromisso com o futuro da Nação, seria capaz de propor uma medida tão
estapafúrdia.
Parece que estamos voltando a níveis de
violência social da época da acumulação primitiva, nos primórdios do
capitalismo.
Quando posta ao lado das outras
iniciativas que vêm sendo impulsionadas pelas classes dominantes — Lei
Antiterrorista, Escola sem Partido, entrega do Pré-Sal, Reforma da Previdência,
ataque ao direito de greve dos funcionários públicos, reforma trabalhista que
solapa o poder dos sindicatos, Lei da Mordaça, fim da avaliação de impacto
ambiental para projetos de infraestrutura considerados estratégicos — fica
evidente que a burguesia declarou guerra aberta aos trabalhadores.
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CD: Considerando
haver de fato uma crise fiscal, quais são as suas principais causas? Diante da
gravidade da situação e do caminho que tem sido demarcado na condução da
política econômica do país, cortes e mudanças nas áreas sociais seriam de fato
necessários, em alguma medida que seja?
PAS: Ao contrário do que martela a
ladainha neoliberal, a crise fiscal não é a causa da crise econômica. Ocorre
exatamente o contrário. É o aprofundamento da crise econômica que está gerando
um grande desequilíbrio fiscal. A vulnerabilidade fiscal é uma característica
estrutural da economia brasileira.
Nos tempos de bonança, o problema é
camuflado pelo crescimento. Na crise, torna-se dramático. O desequilíbrio
financeiro atual tem duas causas fundamentais: i) A contração das receitas,
reflexo da recessão cavalar que atingiu o Brasil desde 2015, ii) o aumento das
despesas financeiras do setor público, resultado de uma política monetária e
cambial desastrosa (que é inerente ao Plano Real).
O governo fala em gastança do setor
público, mas oculta que as despesas financeiras alcançaram 8,5% do PIB em 2015,
montante mais de quatro vezes superior ao déficit primário. Ao aprofundar a
recessão, o regime de austeridade fiscal só agrava o problema.
É só olhar o que acontece na Grécia para
ver para onde vamos. Uma política econômica racional deveria estar fazendo
exatamente o oposto. Ao invés de cortar gastos, deveríamos estar aumentando as
despesas públicas para estimular a recuperação da demanda agregada. Contudo, as
políticas keynesianas não estão na ordem do dia.
A ordem liberal interditou qualquer tipo
de política econômica que não obedeça cegamente às exigências do grande
capital. A livre circulação de capitais não abre espaço para que os Estados
nacionais tenham um mínimo de controle sobre seus centros internos de decisão.
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CD: Como enxerga,
nesse sentido, a Reforma da Previdência?
PAS: A Reforma da Previdência é um
assalto aos fundos públicos. A narrativa de que o INSS é deficitário e a
redução dos direitos previdenciários dos trabalhadores brasileiros é um mal
necessário é uma grande mentira.
Ela só se sustenta porque não há liberdade
de imprensa e a opinião pública é manipulada de maneira despudorada. Existem
inúmeros estudos que mostram que o Orçamento da Seguridade Social é
superavitário. O déficit da previdência é uma construção ideológica.
O número do governo, de um déficit de R$
85 bilhões em 2015, é calculado pela diferença entre a receita e a despesa do
INSS. Mas a Constituição de 1988 estabelece que a contribuição do INSS não é a
única fonte de receita para financiar o INSS.
O Orçamento da Seguridade também
contempla os recursos advindos do COFINS — Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social — e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido — PIS/PASEP,
para citar os mais importantes.
Incluindo todas as fontes de
financiamento da Seguridade Social previstas na Constituição, em 2015, mesmo
com a crise, o saldo de todo o sistema da seguridade, que inclui a previdência,
foi superavitário em R$ 20 bilhões de reais.
Os argumentos que sustentam o terrorismo
de que a previdência brasileira está quebrada são um embuste. O cálculo do
déficit é um sofisma, ilegítimo e ilegal, pois se baseia em critérios que
violam o que foi determinado pela Constituição de 1988.
A sangria nos cofres públicos não advém
do excesso de gastos com a Previdência Social, que em 2015 absorveu algo em
torno de R$ 430 bilhões, cerca de 8% do PIB, beneficiando diretamente 28
milhões de pessoas, 13,5% da população, e indiretamente, no mínimo o dobro
disso.
A sangria nos cofres públicos é causada
pelos mecanismos de transferência de renda para a burguesia. O parasitismo do
empresariado no Estado é generalizado.
Dois exemplos dão a dimensão do
problema: a) as despesas financeiras do setor público absorveram em 2015 8,5%
do PIB, beneficiando menos de 0,1% da população; b) segundo cálculos dos
auditores fiscais, entre 2011 e 2018, a renúncia fiscal de tributos de grandes
empresas implicará um sacrifício de receita da ordem de R$ 458 bilhões, o
equivalente a 17 anos do programa Bolsa Família.
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CD: Acha válida a
crítica que liga a PEC 241 a medidas passadas do governo Dilma, sugerindo uma
linha de continuidade?
PAS: O governo Temer é a metástase do
governo Dilma. A PEC 241 leva ao paroxismo o ajuste fiscal iniciado por Joaquim
Levy em 2015 e seguido por Nelson Barbosa em 2016, até a deposição de Dilma.
A lógica do regime de austeridade
fiscal, que subordina a política fiscal aos interesses dos rentistas que mamam
na dívida pública, foi legitimada pelos governos petistas. Lula começou o
governo prometendo ao FMI um superávit primário draconiano, superior ao que os
próprios técnicos do Fundo Monetário tinham imaginado, e Dilma caiu reafirmando
sua fidelidade à Lei de Responsabilidade Fiscal e seu compromisso com a
austeridade fiscal.
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CD: Como avalia
outras medidas anunciadas pelo governo Temer no campo da economia, a exemplo do
pacote de concessões na infraestrutura, que estimula as Parcerias
Público-Privadas — PPP? Diante da profunda crise econômica e queda de
investimentos por que passa o país, acredita que o pacote passou a ser uma
imposição?
PAS: O pacote de concessões anunciado
por Temer foi preparado ainda no governo Dilma. O aprofundamento da
privatização é parte da solução liberal para a crise econômica. Trata-se de um
esforço desesperado de recuperar a economia, criando grandes negócios para o capital
ocioso.
A iniciativa certamente vai criar
negócios da China para os donos do poder, mas não contribuirá em nada para
superar os problemas que paralisam a economia. O pacote não é para resolver
nada. É para criar negócios para a tigrada.
Enquanto o comércio internacional
permanecer deprimido e a crise política não for resolvida, nenhum empresário de
bom senso apostará suas fichas no Brasil. A trilogia que compõe os pilares da
solução liberal para a crise econômica — ataque aos direitos dos trabalhadores,
privatização do patrimônio público e especialização da economia brasileira na
divisão internacional do trabalho — aprofunda a crise econômica, agrava a crise
social e acirra a luta de classes. O Brasil está num impasse histórico de
grandes proporções e não sairá dele com pirotecnia privatista.
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CD: Nesse
momento, em função dos problemas graves com as contas públicas, e dos cortes
propostos que afetam as áreas sociais, reacendeu-se uma polêmica entre
economistas ditos desenvolvimentistas e os ditos neoliberais, com suas visões
distintas sobre o crescimento, desenvolvimento e sobre a maneira de utilizar os
instrumentos de política econômica para incidir em um momento recessivo. O que
dizer sobre essa polêmica, como você se situa nesse sentido?
PAS: A crítica dos economistas
influenciados pelo keynesianismo ao ajuste ortodoxo é correta. O corte de gasto
público, o arrocho salarial, o aumento do desemprego, a maior exposição da
economia à concorrência global, o aumento da taxa de juros (como meio de evitar
a fuga de capital pelo incentivo à ciranda financeira lastreada em dívida
pública), a venda de patrimônio como forma emergencial de tapar buraco do
orçamento público são medidas que aprofundam a recessão. Elas atendem aos
interesses do grande capital, internacional e nacional.
Mas a perspectiva keynesiana é
insuficiente para dar uma resposta à crise que paralisa a economia brasileira.
A mundialização das forças produtivas e
a crescente mobilidade do capital — tendências inexoráveis do capitalismo
global — solapam as bases objetivas e subjetivas de uma política anticíclica
ancorada no espaço econômico nacional. A defesa de uma solução keynesiana para
a crise econômica é uma ingênua ilusão.
Talvez seja por esse motivo que, quando
no governo, os neodesenvolvimentistas fizeram uma política econômica muito
parecida com a dos monetaristas. Sem uma ruptura com os parâmetros da ordem
global, a sociedade brasileira não tem como resgatar o controle sobre os
centros internos de decisão e colocar em prática uma política econômica que
priorize os interesses do conjunto da população.
Uma ruptura dessa envergadura não é
possível sem colocar em questão as relações internas e externas responsáveis
pela perpetuação do subdesenvolvimento e da dependência.
É claro que no capitalismo que estamos
vivendo, tais transformações colocariam na ordem do dia mudanças ainda mais
profundas, a apontar para a superação do próprio modo de produção capitalista.
Sem levantar a bandeira da “Revolução Brasileira” e explicitar sua natureza anticapitalista,
a crítica acaba chovendo no molhado.
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CD: Qual sua
opinião sobre os movimentos e setores hoje presentes na cena nacional que
tentam resistir e protestar contra iniciativas que significam retrocessos nas
áreas sociais e nos direitos da população?
PAS: Após as Jornadas de Junho de 2013,
o Congresso Nacional transformou-se definitivamente num covil de delinquentes
que conspiram noite e dia contra o povo. O medo e pânico de perder privilégios
seculares levaram as classes dominantes a orquestrar uma ofensiva avassaladora
sobre os direitos das classes trabalhadoras.
É o que explica o estelionato eleitoral
da Dilma e, logo em seguida, “dobrando a meta”, a farsa do impeachment que
levou Temer ao Planalto. A burguesia partiu para o tudo ou nada.
Se for necessário, derrubam Temer e
colocam outro qualquer, para impulsionar medidas antipopulares. Nos altos
círculos do poder, já se fala disso.
É claro que um ataque de tal dimensão,
que inviabiliza qualquer arremedo de política social de caráter universalista e
compromete até mesmo a possibilidade de políticas assistencialistas minimamente
estruturadas, não passará sem reação.
A tendência é de uma forte polarização
na luta de classes.
O movimento dos secundaristas em defesa
da escola pública, a luta dos estudantes em prol das universidades federais, os
protestos dos Sem Teto contra a interrupção dos projetos de habitação popular,
as inúmeras manifestações populares contra o governo espúrio de Temer são as
primeiras iniciativas de um ciclo de luta social que não terá fim enquanto a
reação conservadora não for barrada.
As aves de rapina que tomaram o poder
não têm a menor ideia do que é o Brasil. São uns aventureiros.
Temer e companhia não têm base legal,
sustentação política, força social e condição moral para impor ao povo
brasileiro um retrocesso social que levará o país de volta à República Velha. É
o que o programa de ajuste liderado por Henrique Meirelles pretende.
Com o apoio do STF, as classes
dominantes rasgaram a Constituição de 1988. O povo brasileiro não vai engolir
passivamente uma prepotência dessa magnitude.
Quem vive do próprio trabalho e depende
de políticas públicas para sobreviver ficou sem alternativa senão a
desobediência civil. Quando a ficha cair, o bicho vai pegar. Mais dia, menos
dia, serão derrubados pela força das ruas.
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CD: Apesar da
perspectiva de novas reações populares, aparentemente o Fora Temer e os
protestos mencionados têm perdido fôlego neste momento, assim como a greve
geral que a CUT tenta orquestrar não parece forte o bastante para marcar
posição. O que isso diz da atualidade dos setores que representariam o mundo do
trabalho e as massas assalariadas em geral?
PAS: O legado de Lula e Dilma não
poderia ser pior. O lulismo foi catastrófico. Temer e Cunha foram alçados à
primeira divisão da política brasileira pelas mãos de Lula, em nome da
famigerada governabilidade.
Uma parcela expressiva da bancada que
votou a PEC 241 e o impeachment de Dilma fez campanha em 2014 de mãos dadas com
Lula e Dilma.
Os juízes do Supremo Tribunal Federal
que votaram contra o direito de greve dos funcionários públicos e que
referendaram o golpe parlamentar foram nomeados por Lula e Dilma. Mas o pior
foi o seu papel deplorável na desorganização, desmobilização e alienação dos
trabalhadores.
Para que o PT pudesse cumprir a função
de “esquerda” da ordem, era necessário evitar a qualquer custo a presença de
uma esquerda contra a ordem. Foi a desorganização e o desalento da classe
trabalhadora que abriu brecha para a agressiva ofensiva do capital sobre os
direitos do trabalho.
A CUT não vai levar a campanha “Fora
Temer” às últimas consequências porque não interessa ao PT uma eleição agora. O
jogo do PT é outro. Para Lula interessa que a poeira abaixe.
O PT aposta no desgaste do governo Temer,
na esperança de que em 2018 a situação esteja menos desfavorável, e daí, quem
sabe, o próprio Lula possa se apresentar como salvador da pátria.
Também não se descarta a possibilidade
de uma composição com Ciro Gomes ou qualquer outro aventureiro. A perda de
vigor da campanha “Fora Temer” não pode ser dissociada das alianças eleitorais
do PT com o PMDB e outros partidos “golpistas” em diversos municípios do
Brasil, a começar por São Paulo, onde, apesar de tudo que aconteceu, a filha do
presidente é secretária de Haddad.
Mas o fato de a campanha pelo “Fora
Temer” não alçar voo não significa que a insatisfação com os governantes de
plantão tenha arrefecido. Pelo contrário.
A vitalidade do movimento dos
secundaristas e dos universitários revela que os usurpadores não terão sossego.
Como diz a moçada: “não vai ter arrego”.
É claro que enquanto não houver uma
bandeira programática e uma organização política para condensar as
manifestações dispersas, a revolta contra o ajuste regressivo imposto pelas
classes dominantes, no momento pelas mãos do Temer, não terá força suficiente
para criar uma alternativa capaz de abrir novos horizontes para a sociedade
brasileira.
Para tanto, a esquerda precisaria
superar a teoria e a prática do PT. É o desafio que está na ordem do dia.
Enquanto a esquerda não desencarnar definitivamente do PT, ela será, na melhor
das hipóteses, uma mera coadjuvante da política brasileira.
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CD: O que espera
para o país, considerando a hipótese de que Temer cumpra seus dois anos e
poucos meses de mandato? Chegaríamos a 2018 em que condições?
PAS: Temer terá muita dificuldade para
concluir seu mandato. O cenário para os próximos anos é sombrio.
A crise econômica é profunda e basta
olhar o cenário internacional para perceber que ainda não se vislumbra luz no
fim do túnel. A perspectiva é de uma longa estagnação, com tudo que a acompanha
— crise fiscal, aumento do desemprego, instabilidade cambial etc.
A crise política também está bem longe
de uma solução. A queda de Dilma foi apenas o primeiro ato da tragédia.
A crise é do sistema de representação e
reflete a exaustão do padrão de dominação institucionalizado na transição da
ditadura militar para a Nova República. Ao aprofundar a desmoralização dos
“políticos”, a “solução Temer” só agrava a descrença da população nas
instituições e a instabilidade política.
Por um lado, unidade dos interesses
fisiológicos que sustentam o governo Temer é precária e extraordinariamente
vulnerável aos vendavais que surgem das delações premiadas da Lava-Jato. Por
outro, Temer terá muita dificuldade para conter a revolta popular que germina
entre os que veem suas vidas piorarem dia a dia.
A desmoralizante falta de popularidade
de Temer e as manifestações espontâneas contra seu governo são apenas a ponta
do iceberg.
A grande mídia comemorou efusivamente a
derrota acachapante do PT e a vitória eleitoral dos partidos que apoiam o
governo, mas o principal recado das urnas é que a abstenção e os votos nulos e
brancos foram majoritários. O sistema político faliu.
Quando a classe trabalhadora perceber
que a crise econômica não é conjuntural, o ritual eleitoral virou um embuste e
a camarilha que assumiu o poder partiu para o tudo ou nada, ela reagirá.
Entramos numa era de convulsão social e
turbulência política. O avanço da barbárie capitalista vai acirrar a luta de
classes.
No Brasil (e em toda a América Latina) a
barbárie avança a galope, impulsionada pelo processo de reversão neocolonial
que compromete irremediavelmente a capacidade de o Estado formular políticas
públicas que em alguma medida levem em consideração a defesa da economia
popular e os interesses estratégicos do país.
É muito improvável que o povo brasileiro
se conforme com o papel de mão-de-obra barata de uma megafeitoria moderna — que
é o que o projeto burguês lhe reserva.
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CD: O que
considera como esquerda hoje? Qual o espaço de atuação que tem na atual
conjuntura e o que deve buscar como construção futura, dada a conjuntura
nacional e internacional de profunda crise?
PAS: A esquerda está comprometida com a
superação das contradições responsáveis pelas mazelas dos trabalhadores. Ela é
um movimento composto por todas as forças sociais que lutam contra a segregação
social, contra a dominação imperialista e contra o regime do capital.
No momento, o espaço da esquerda é
mínimo e, em grande medida, estéril. Enquanto a conquista de espaços no
aparelho do Estado burguês for o centro da estratégia, o potencial
transformador da esquerda será nulo.
A armadilha institucional neutraliza
todas as iniciativas capazes de impulsionar a mudança das estruturas sociais.
Para estar à altura dos desafios
históricos, a esquerda precisa se reorganizar. O fundamental é acumular força
real, isto é, consciência de classe e organização política.
O sentido da reorganização tem de ser
dado pelas necessidades históricas. O avanço galopante da barbárie coloca na
ordem do dia a ideia da “Revolução Brasileira”. Essa é a conversa séria capaz
de tirar a esquerda de sua irrelevância como força política.
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