segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

ESTANCAR A SANGRIA É QUASE IMPOSSÍVEL

Estancar a sangria é quase impossível
Leonardo Attuch

Quaisquer que tenham sido as causas do desastre aéreo que matou Teori Zavascki e outras quatro pessoas na última quinta-feira, uma coisa é certa: uma parcela expressiva da população brasileira jamais se convencerá de que foi um simples acidente, uma vez que o ministro estava prestes a homologar as delações da Odebrecht num dos maiores escândalos de corrupção da história, com potencial para implodir toda a elite política brasileira.

Por isso mesmo, o governo Michel Temer agiria bem se não demonstrasse pressa em indicar um sucessor para a vaga, deixando que o próprio Supremo Tribunal Federal escolha ou sorteie o novo relator da Lava-Jato. Como Temer e vários de seus ministros são citados nas delações das empreiteiras, seria conveniente cuidar ao menos das aparências, num momento em que o Brasil está perplexo com uma tragédia que acrescenta pitadas de realismo fantástico ao colapso político e econômico do País.

A intenção de Teori Zavascki era dar publicidade aos depoimentos dos 77 delatores da Odebrecht, assim como de outras empreiteiras que negociam seus acordos, como Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. Se o Supremo Tribunal Federal quiser de fato honrar a memória do ministro, esta seria a melhor saída, pois só assim, com transparência total, será possível desmontar a tese de que tudo que vem acontecendo no Brasil nos últimos meses não tem como objetivo maior "estancar a sangria" da Lava-Jato, como disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR).

É bem verdade que muitos dos 150 ou 200 políticos que serão atingidos pelas delações torcem pelo adiamento da homologação das delações, ou até pelo esquecimento do caso. Mas esse é um desejo impossível de ser atendido.

Qualquer manobra que vise salvar a classe política deixará impressões digitais e contribuirá para um rebaixamento ainda maior da imagem do Brasil. Além do mais, será inútil, uma vez que os 77 delatores da Odebrecht já prestaram seus depoimentos iniciais e só teriam que confirmá-los nesta etapa final. Ou seja: se alguém quiser estancar a sangria, tudo vazará instantaneamente.

O mais provável é que o luto com a morte de Teori Zavascki e os trâmites internos do Supremo Tribunal Federal adiem a homologação das delações por uma ou duas semanas. Mais do que isso, será um tiro no pé da classe política e do próprio Poder Judiciário.


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