Estancar a
sangria é quase impossível
Leonardo Attuch
Quaisquer que tenham sido as causas do
desastre aéreo que matou Teori Zavascki e outras quatro pessoas na última
quinta-feira, uma coisa é certa: uma parcela expressiva da população brasileira
jamais se convencerá de que foi um simples acidente, uma vez que o ministro
estava prestes a homologar as delações da Odebrecht num dos maiores escândalos
de corrupção da história, com potencial para implodir toda a elite política
brasileira.
Por isso mesmo, o governo Michel Temer
agiria bem se não demonstrasse pressa em indicar um sucessor para a vaga,
deixando que o próprio Supremo Tribunal Federal escolha ou sorteie o novo
relator da Lava-Jato. Como Temer e vários de seus ministros são citados nas
delações das empreiteiras, seria conveniente cuidar ao menos das aparências,
num momento em que o Brasil está perplexo com uma tragédia que acrescenta
pitadas de realismo fantástico ao colapso político e econômico do País.
A intenção de Teori Zavascki era dar
publicidade aos depoimentos dos 77 delatores da Odebrecht, assim como de outras
empreiteiras que negociam seus acordos, como Andrade Gutierrez e Camargo
Corrêa. Se o Supremo Tribunal Federal quiser de fato honrar a memória do
ministro, esta seria a melhor saída, pois só assim, com transparência total,
será possível desmontar a tese de que tudo que vem acontecendo no Brasil nos
últimos meses não tem como objetivo maior "estancar a sangria" da
Lava-Jato, como disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR).
É bem verdade que muitos dos 150 ou 200
políticos que serão atingidos pelas delações torcem pelo adiamento da
homologação das delações, ou até pelo esquecimento do caso. Mas esse é um
desejo impossível de ser atendido.
Qualquer manobra que vise salvar a
classe política deixará impressões digitais e contribuirá para um rebaixamento
ainda maior da imagem do Brasil. Além do mais, será inútil, uma vez que os 77
delatores da Odebrecht já prestaram seus depoimentos iniciais e só teriam que
confirmá-los nesta etapa final. Ou seja: se alguém quiser estancar a sangria,
tudo vazará instantaneamente.
O mais provável é que o luto com a morte
de Teori Zavascki e os trâmites internos do Supremo Tribunal Federal adiem a
homologação das delações por uma ou duas semanas. Mais do que isso, será um
tiro no pé da classe política e do próprio Poder Judiciário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário