Gleisi: o PT não pode apoiar Golpista
Temer articula estancar a Lava Jato
publicado 23/01/2017
"Quer dizer que o Golpe não foi tão ruim assim?"
PHA: Converso com a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Senadora, o que a senhora acha de o PT apoiar as candidaturas de Rodrigo Maia, na Câmara, e Eunício Oliveira, no Senado?
Gleisi: Eu, particularmente, sou contra esse apoio. Acho que o PT não deve apoiar nenhum candidato que tenha participado do processo de Golpe contra a Presidenta Dilma, da defesa da PEC 55 e do patrocínio dessa Reforma da Previdência.
PHA: O que a senhora acha que levou uma corrente do PT a adotar essa decisão?
Gleisi: É importante dizer que a decisão que o Diretório Nacional do partido tomou nesta semana não é uma decisão de apoio a qualquer candidatura. O partido apenas orientou a bancada de que era importante que as bancadas na Câmara e no Senado ocupassem o máximo possível todos os cargos a que têm direito pela proporcionalidade, como determinam a Constituição e o Regimento Interno. Mas, deixou às bancadas a deliberação de fazê-lo ou de como fazê-lo. E é por isso que nós continuamos nesse debate. Porque, no meu entender, não devemos fazê-lo. Há, sim, deputados e senadores que defendem fazê-lo; aliás, isso é normal numa situação de normalidade política e democrática. Fizemos isso várias vezes, porque a Constituição e o Regimento Interno preveem que os partidos devem participar, sim, do espaço de direção das casas, proporcionais ao número dos seus deputados, sempre que possível. Não há problema, é a regra parlamentar. O que nós avaliamos é que agora o momento é outro. Nós não estamos num momento de normalidade institucional, democrática ou política. E isso levaria a uma confusão muito grande, inclusive no enfrentamento das lutas que nós temos que fazer no Parlamento e também nas ruas.
PHA: Esta, portanto, não é uma decisão definitiva. O partido pode reverter a decisão...
Gleisi: Essa decisão do Diretório Nacional não é uma decisão definitiva, é uma decisão orientativa para as bancadas, e nós vamos decidir, tanto no Senado, quanto na Câmara, qual vai ser a posição. É óbvio que vai gerar debate com a militância - grande parte da militância é contrária a essa posição. O que eu acho importante é que a gente faça esse debate. É legítimo fazê-lo. O PT sempre se utilizou do debate para determinar as suas posições. Acho que nós não podemos partir de uma linha de agressão - contra aqueles que são contra a proposta ou contra aqueles que são a favor. Não dá para dizer que quem apoia a proposta é Golpista, porque não é - aliás, são companheiros que lutaram contra o Golpe e contra a PEC 55. Como não se pode dizer que os que não apoiam essa proposta são oportunistas. Não é isso. Temos leituras diferentes da conjuntura. E vamos tentar convencer os nossos colegas na Câmara e no Senado que querem aprovar o acordo de que estão fazendo uma leitura errada. Não é o momento de fazer acordos no Parlamento. Esse Parlamento é algoz do povo brasileiro, é o Parlamento que derrubou a Presidenta Dilma, é o Parlamento que mudou a Constituição de 1988 - que levamos 500 anos para ter, colocando nela direitos como a Seguridade Social, e isso acabou! E é esse Parlamento que está ajudando a patrocinar esse atentado contra a Previdência Social. Portanto, nós não temos espaço para fazer esse acordo. Temos que denunciar e fortalecer os movimentos sociais e de rua.
PHA: E qual seria o papel das bancadas do PT na Câmara e no Senado sem nenhum assento nas mesas diretoras?
Gleisi: De fazer uma oposição sistemática e denunciar o comando do Senado e da Câmara - do Congresso Nacional - como parte operativa do processo de Golpe no País. Porque nós nos sentarmos à mesa fazendo um acordo, votando em senadores e partidos que promoveram esse Golpe, qual é a mensagem que nós vamos passar para a sociedade brasileira? Que não foi um Golpe verdadeiro, que não é assim tão ruim, afinal, nós estamos compondo com esse Parlamento. Então, é um Parlamento que tem realmente as suas prerrogativas intactas e está, do ponto de vista institucional, cumprindo o seu papel? Nós não acreditamos nisso. Por isso é que nós temos que denunciar. Vamos ter problema de espaço? Vamos ter, mas eu acho que isso não é o essencial agora. O essencial é a luta política.
PHA: E qual deve ser a luta política?
Gleisi: Exatamente denunciar o que aconteceu. A população saber que o que está em curso no País é um Golpe. É um Golpe contra a Constituição, é um Golpe contra os direitos dos trabalhadores. Estão desmanchando o mínimo do Estado de Bem-Estar Social que construímos ao longo dos últimos 30 anos - que foram aprofundados nos Governos do Presidente Lula e da Presidenta Dilma. Construímos apenas um degrau do Estado de Bem-Estar Social, e isso está sendo desmanchado. E desmanchado para quê? A favor do capital financeiro, a favor de pagar juros estratosféricos da dívida, a favor de uma elite que não entende que temos que ter um País desenvolvido para todos, [a favor] desta criminalização dos movimentos sociais e da utilização da violência para combatê-los... Nós temos hoje um Governo instalado no Brasil que está desmanchando tudo aquilo que nós pregamos, um Congresso que compactua com isso e, portanto, não podemos estar juntos nesse processo. Até porque vamos ficar deslegitimados, também, quando quisermos mobilizar a população. Porque só vai haver um jeito de impedir que essas reformas continuem: é o povo na rua. Não tem outro jeito.
PHA: A senhora acha que as bases do partido estão do seu lado?
Gleisi: A maioria da militância não quer esse acordo, acha que é momento de denunciar, de não sentarmos às mesas da Câmara e do Senado - ainda que isso signifique uma redução de espaço e da nossa presença. Entendem, assim como eu entendo, que esses espaços não serão essenciais para fazer o debate. Não vão impedir a Reforma da Previdência, não vão impedir o retrocesso, não vão impedir o crescimento da Direita e do Estado conservador em cima dos movimentos sociais e dos avanços que tivemos. O que vai impedir é a mobilização social! E, para ter mobilização social, precisa ter confiança. É por isso que precisamos ter uma postura muito coerente com aquilo que denunciamos até agora.
PHA: Quando a senhora fala em mobilização social e povo nas ruas, associa isso a uma candidatura do Presidente Lula em 2018, a partir já de 2017?
Gleisi: Não necessariamente, mas com certeza a candidatura do Presidente Lula é consequência da mobilização da sociedade. Ele tem feito uma campanha - e nós temos apoiado - de antecipação das eleições. Acho que a situação está tão ruim no País, tudo sendo tão questionado, que nós deveríamos devolver dignidade aos Poderes que governam, que legislam. E, aí, não vejo outra forma a não ser anteciparmos as eleições. É claro que essa discussão sobre o Estado de Direito e o Estado de Bem-Estar Social vai estar nessa pauta. E aí o povo tem condições de decidir quem é que ele quer ou que programa ele quer que seja executado no País. O que não pode é o que estamos vendo: um Governo ilegítimo, sem voto, patrocinar mudanças muito profundas que vão retirar direitos, mudar muito a realidade social brasileira.
PHA: Não sei a senhora viu hoje, no Globo, a notícia de que eles vão entregar a Base de Alcântara aos Estados Unidos... Eu queria fazer uma última pergunta: a senhora está acompanhando a maneira pela qual pode vir a ser escolhido o substituto do ministro Teori? E, diante desse impasse, como a senhora situa o encontro ontem, no Palácio do Jaburu, entre o Presidente Temer, o Moreira Franco e o ministro Gilmar Mendes?
Gleisi: Na substituição do ministro Teori têm que ser seguidos os preceitos constitucionais e legais. É como a substituição de qualquer outro ministro. Em relação ao Governo Temer, nós já denunciávamos, lá atrás, que o Golpe contra a Presidenta Dilma era justamente para estancar a sangria da Lava Jato. E o Temer tem feito articulações nesse sentido. Aliás, a sua base de apoio, o senador Romero Jucá, numa gravação, foi pego dizendo isso... Então, o que nós estamos vendo é uma ação muito grande para que as coisas fiquem onde estão. Ou seja, já afastaram o PT, o PT era o grande vilão, o precursor da corrupção no País - foi o que venderam para o País -, e agora querem calmaria. Tem que ter muita responsabilidade nessa sucessão. E, sobre a Base da Alcântara: é muito grave! Começou pela entrega do pré-sal, quando eles mudaram a legislação, não deixando mais a obrigatoriedade da partilha; agora, com a Base de Alcântara... Ou seja, nós vamos ter um Governo de entrega total dos interesses nacionais e da nossa soberania.
PHA: Para ver se entendi o seu raciocínio: aquele encontro de ontem no Jaburu, a senhora acha que faz parte dessa estratégia de estancar a Lava Jato?
Gleisi: Eu não posso afirmar isso. Não sei o que se passou no Jaburu, ou o que conversaram. Agora, que o Presidente Michel Temer tem feito articulações nesse sentido, não resta dúvida.
Fonte: Conversa Afiada
Fonte: Conversa Afiada
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