Deram o Golpe para fechar a Lava Jato! E roubar em
paz!
Paulo Henrique Amorim
Rubens Valente, na Fel-lha, produziu a
reportagem que vai derrubar o Governo Temer.
A conversa sórdida entre Romero Jucá e
Sergio Machado (mais sórdida do que a gravação do Delcidio) expõe com letras
mais claras aquilo que o Padim Pade Cerra negociou com o Temer, segundo o
Estadão: não ter caça às bruxas.
Ou seja, dar o Golpe para fechar a Lava
Jato só com os petistas lá dentro!
E, do lado de fora, roubar em paz !
Em
diálogos gravados, Jucá fala em pacto para deter avanço da Lava Jato
Em conversas ocorridas em março passado,
o ministro do Planejamento, senador licenciado Romero Jucá (PMDB-RR), sugeriu
ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que uma "mudança" no
governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria"
representada pela Operação Lava Jato, que investiga ambos.
Gravados de forma oculta, os diálogos
entre Machado e Jucá ocorreram semanas antes da votação na Câmara que
desencadeou o impeachment da presidente Dilma Rousseff. As conversas somam
1h15min e estão em poder da PGR (Procuradoria-Geral da República).
O advogado do ministro do Planejamento,
Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que seu cliente "jamais
pensaria em fazer qualquer interferência" na Lava Jato e que as conversas
não contêm ilegalidades.
Machado passou a procurar líderes do PMDB
porque temia que as apurações contra ele fossem enviadas de Brasília, onde
tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal), para a vara do juiz Sergio Moro, em
Curitiba (PR).
Em um dos trechos, Machado disse a Jucá:
"O Janot está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho. [...] Ele
acha que eu sou o caixa de vocês".
Na visão de Machado, o envio do seu caso
para Curitiba seria uma estratégia para que ele fizesse uma delação e
incriminasse líderes do PMDB.
Machado fez uma ameaça velada e pediu
que fosse montada uma "estrutura" para protegê-lo: "Aí fodeu. Aí
fodeu para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu 'desça'? Se
eu 'descer'...".
Mais adiante, ele voltou a dizer:
"Então eu estou preocupado com o quê? Comigo e com vocês. A gente tem que
encontrar uma saída".
Machado disse que novas delações na Lava
Jato não deixariam "pedra sobre pedra". Jucá concordou que o caso de
Machado "não pode ficar na mão desse [Moro]".
O atual ministro afirmou que seria
necessária uma resposta política para evitar que o caso caísse nas mãos de
Moro. "Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra. Tem
que mudar o governo para estancar essa sangria", diz Jucá, um dos
articuladores do impeachment de Dilma. Machado respondeu que era necessária
"uma coisa política e rápida".
"Eu acho que a gente precisa articular
uma ação política", concordou Jucá, que orientou Machado a se reunir com o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e com o ex-presidente José
Sarney (PMDB-AP).
Machado quis saber se não poderia ser
feita reunião conjunta. "Não pode", disse Jucá, acrescentando que a
ideia poderia ser mal interpretada.
O atual ministro concordou que o envio
do processo para o juiz Moro não seria uma boa opção. "Não é um desastre
porque não tem nada a ver. Mas é um desgaste, porque você, pô, vai ficar
exposto de uma forma sem necessidade."
E chamou Moro de "uma 'Torre de
Londres'", em referência ao castelo da Inglaterra em que ocorreram
torturas e execuções entre os séculos 15 e 16. Segundo ele, os suspeitos eram
enviados para lá "para o cara confessar".
Jucá acrescentou que um eventual governo
Michel Temer deveria construir um pacto nacional "com o Supremo, com
tudo". Machado disse: "aí parava tudo". "É. Delimitava onde
está, pronto", respondeu Jucá, a respeito das investigações.
O senador relatou ainda que havia
mantido conversas com "ministros do Supremo", os quais não nominou.
Na versão de Jucá ao aliado, eles teriam relacionado a saída de Dilma ao fim
das pressões da imprensa e de outros setores pela continuidade das
investigações da Lava Jato.
Jucá afirmou que tem "poucos caras
ali [no STF]" ao quais não tem acesso e um deles seria o ministro Teori
Zavascki, relator da Lava Jato no tribunal, a quem classificou de "um cara
fechado".
Machado presidiu a Transpetro,
subsidiária da Petrobras, por mais de dez anos (2003-2014), e foi indicado
"pelo PMDB nacional", como admitiu em depoimento à Polícia Federal.
No STF, é alvo de inquérito ao lado de Renan Calheiros.
Dois delatores relacionaram Machado a um
esquema de pagamentos que teria Renan "remotamente, como
destinatário" dos valores, segundo a PF. Um dos colaboradores, Paulo
Roberto Costa disse que recebeu R$ 500 mil das mãos de Machado.
Jucá é alvo de um inquérito no STF
derivado da Lava Jato por suposto recebimento de propina. O dono da UTC,
Ricardo Pessoa, afirmou em delação que o peemedebista o procurou para ajudar na
campanha de seu filho, candidato a vice-governador de Roraima, e que por isso doou
R$ 1,5 milhão.
O valor foi considerado contrapartida à
obtenção da obra de Angra 3. Jucá diz que os repasses foram legais.
LEIA
TRECHOS DOS DIÁLOGOS
Data das conversas não foi especificada
SÉRGIO MACHADO - Mas viu, Romero, então
eu acho a situação gravíssima.
ROMERO JUCÁ - Eu ontem fui muito claro.
[...] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não
adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um
gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o
Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais,
quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra
nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?
MACHADO - Agora, ele acordou a
militância do PT.
JUCÁ - Sim.
MACHADO - Aquele pessoal que resistiu
acordou e vai dar merda.
JUCÁ - Eu acho que...
MACHADO - Tem que ter um impeachment.
JUCÁ - Tem que ter impeachment. Não tem
saída.
MACHADO - E quem segurar, segura.
JUCÁ - Foi boa a conversa mas vamos ter
outras pela frente.
MACHADO - Acontece o seguinte,
objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo
após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.
JUCÁ - Exatamente, e vai sobrar muito. O
Marcelo e a Odebrecht vão fazer.
MACHADO - Odebrecht vai fazer.
JUCÁ - Seletiva, mas vai fazer.
MACHADO - Queiroz [Galvão] não sei se
vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito
preocupado porque eu acho que... O Janot [procurador-geral da República] está a
fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.
JUCÁ - Você tem que ver com seu advogado
como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não
encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa
porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.
MACHADO - Rapaz, a solução mais fácil
era botar o Michel [Temer].
JUCÁ - Só o Renan [Calheiros] que está
contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo
Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO - É um acordo, botar o Michel,
num grande acordo nacional.
JUCÁ - Com o Supremo, com tudo.
MACHADO - Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ - É. Delimitava onde está, pronto.
MACHADO - O Renan [Calheiros] é
totalmente 'voador'. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o
Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo,
principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor
pra ele. Ele não compreendeu isso não.
JUCÁ - Tem que ser um boi de piranha,
pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.
MACHADO - A situação é grave. Porque,
Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi
dado...
JUCÁ - Acabar com a classe política para
ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com...
MACHADO - Isso, e pegar todo mundo. E o
PSDB, não sei se caiu a ficha já.
JUCÁ - Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes,
senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].
MACHADO - Caiu a ficha. Tasso
[Jereissati] também caiu?
JUCÁ - Também. Todo mundo na bandeja
para ser comido.
MACHADO - O primeiro a ser comido vai
ser o Aécio.
JUCÁ - Todos, porra. E vão pegando e
vão...
MACHADO - [Sussurrando] O que que a
gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele
ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua
inteligência.
JUCÁ - Não, veja, eu estou a disposição,
você sabe disso. Veja a hora que você quer falar.
MACHADO - Porque se a gente não tiver
saída... Porque não tem muito tempo.
JUCÁ - Não, o tempo é emergencial.
MACHADO - É emergencial, então preciso
ter uma conversa emergencial com vocês.
JUCÁ - Vá atrás. Eu acho que a gente não
pode juntar todo mundo para conversar, viu? [...] Eu acho que você deve
procurar o [ex-senador do PMDB José] Sarney, deve falar com o Renan, depois que
você falar com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que
você achou e o que eles ponderaram pra gente conversar.
MACHADO - Acha que não pode ter reunião
a três?
JUCÁ - Não pode. Isso de ficar juntando
para combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa
que não é... Depois a gente conversa os três sem você.
MACHADO - Eu acho o seguinte: se não
houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande.
MACHADO - É aquilo que você diz, o Aécio
não ganha porra nenhuma...
JUCÁ - Não, esquece. Nenhum político
desse tradicional ganha eleição, não.
MACHADO - O Aécio, rapaz... O Aécio não
tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema
do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...
JUCÁ - É, a gente viveu tudo. [Em voz
baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só
tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a
imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca'. Entendeu?
Então... Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo
tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o
quê, para não perturbar.
MACHADO - Eu acho o seguinte, a saída
[para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma
um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege
todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses
procuradores de São Paulo ajudou muito. [referência possível ao pedido de
prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para
depor no caso da Lava jato]
JUCÁ - Os caras fizeram para poder
inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não
está deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento...
MACHADO -...E burro [...] Tem que ter
uma paz, um...
JUCÁ - Eu acho que tem que ter um pacto.
MACHADO - Um caminho é buscar alguém que
tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não
tem ninguém.
JUCÁ - Não tem. É um cara fechado, foi
ela [Dilma] que botou, um cara... Burocrata da... Ex-ministro do STJ [Superior
Tribunal de Justiça].
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