O
ministro cochila e o pato acorda
FERNANDO BRITO
O romance perdura enquanto o
dinheiro dura. Quando o dinheiro some, o amor sai pela janela. O que não falta
na cultura popular é frase para explicar a revolta dos empresários com o
aumento do PIS/Cofins. O cidadão comum não se conformou de pagar R$ 18 a mais
para encher o tanque, e a Fiesp ficou tão irada que inflou o pato amarelo,
famoso na campanha contra Dilma Rousseff.
O cochilo do ministro
Henrique Meirelles na reunião do Mercosul pode virar outro símbolo, o do
descuido com a imagem de um governo que precisa rever seus conceitos antes de 2
de agosto, quando a Câmara decide se Temer fica ou vira réu no STF. O
presidente também começou o dia ‘cochilando’, ao dizer que o brasileiro
compreenderia o aumento de imposto. A tarde, acordou com o barulho de empresas
e das redes sociais, e quem teve de “entender a reação da Fiesp” foi ele:
chamou o protesto de “mais do que razoável”.
A campanha “Não vou pagar o
pato” fez a festa dos portais na internet, com anúncios pipocando nas telas: “O
que é isso, ministro? Mais imposto?” Em carta pública, Paulo Skaf se disse
indignado: “Aumentar imposto não vai resolver a crise; pelo contrário, irá
agravá-la bem no momento em que a atividade econômica já dá sinais de retomada,
com impactos positivos na arrecadação em junho. Todos sabem que o caminho
correto é cortar gastos, aumentar a eficiência e reduzir o desperdício”,
defendeu.
O ministro da Fazenda se
agarra ao limite de déficit de R$ 139 bi para reforçar o compromisso com a meta
fiscal e manter o apoio do mercado. A previsão de perda de receita no ano é de
R$ 34,5 bi. Mas poucos concordam com o plano escolhido na semana que, segundo
Miriam Leitão, teve “cenas explícitas do colapso fiscal”.
Para José Velloso, da Abimaq,
o ajuste fiscal “fracassou por culpa da própria equipe econômica, que insistiu
no corte de gastos em meio à maior recessão da história do país”. A federação
dos postos de revenda (Fecombustíveis) classificou como “lamentável” e alertou
para mais queda nas vendas.
Meirelles culpou as mudanças
feitas pela Câmara no Refis, que “levaram muitas empresas a adiar ou não se
inscrever no programa de adesão”, mas descartou novos aumentos.
Admitiu impacto na inflação,
mas disse que o momento para o aumento é agora, com a inflação abaixo do centro
da meta. E a pérola do dia: disse que o aumento de imposto consolida o
crescimento porque mantém confiança no ajuste fiscal. Seria melhor continuar
cochilando.
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