domingo, 23 de julho de 2017

SABEM DO QUE SÃO FEITOS OS DIREITOS, MEUS JOVENS?

Sabem do que são feitos os direitos, meus jovens?
Raquel Domingues do Amaral*
Sabem do que são feitos os direitos, meus jovens?
Sentem o seu cheiro?
Os direitos são feitos de suor, de sangue, de carne humana, apodrecida nos campos de batalha, queimada em fogueiras!
Quando abro a Constituição no artigo 5º, além dos signos, dos enunciados vertidos em língua jurídica, sinto cheiro de sangue velho!
Vejo cabeças rolando de guilhotinas, jovens mutilados, mulheres ardendo nas chamas das fogueiras! Ouço o grito enlouquecido dos empalados.
Deparo-me com crianças famintas, enrijecidas por invernos rigorosos, falecidas às portas das fábricas com os estômagos vazios!
Sufoco-me nas chaminés dos campos de concentração, expelindo cinzas humanas!
Vejo africanos convulsionando nos porões dos navios negreiros.
Ouço gemidos das mulheres indígenas violentadas.
Os direitos são feitos de fluido vital.
Para se fazer o direito mais elementar, a liberdade, gastou-se séculos e milhares de vidas foram tragadas, foram moídas nas máquinas de se fazer direitos, a Revolução!
Tu achavas que os direitos foram feitos pelos janotas que têm assento nos parlamentos e tribunais?
Engana-te. O direito é feito com a carne do povo!
Quando se revoga um direito, desperdiça-se milhares de vidas...
Os governantes que usurpam direitos, como abutres, alimentam-se dos restos mortais de todos aqueles que morreram, para se converterem em direitos!
Quando se concretiza um direito, meus jovens, eternizam-se essas milhares de vidas.
Quando concretizamos direitos, damos um sentido à tragédia humana e à nossa própria existência!
O direito e a arte são as únicas evidências de que a odisseia terrena teve algum significado!

* Juíza TRT/MS

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