ENTREVISTA DO PRESIDENTE
LULA AO JORNAL A TRIBUNA (ES)
A Tribuna –
Como presidente, o senhor adiantou os royalties do petróleo ao Estado. Mais
recentemente, um pedido de homenagem ao senhor foi barrado na Assembleia
capixaba. Como vê esses dois momentos?
Lula – Nunca
fiz política, nem para o Espírito Santo nem para nenhum lugar, para receber
homenagem, e sim para melhorar a vida do povo. A Assembleia é soberana. No meu
governo, adiantei os royalties porque era importante para o Espírito Santo.
Atendi todos os governadores bem, independente do partido, porque representavam
os cidadãos dos seus estados.
Hoje, a disputa política se
tornou muito exagerada. Plantaram o ódio para dar um golpe na vontade do
eleitor. E não vai ser o ódio que irá consertar o Brasil.
Primeiro, não aceitaram o
resultado eleitoral de 2014. Parte da classe política e dos meios de
comunicação enganou muita gente dizendo que a vida ia melhorar tirando uma
presidente eleita e honesta.
E agora é o povo, em especial
o povo trabalhador, que está pagando esse pato: corte de direitos trabalhistas
e na Previdência, redução dos investimentos na educação e na saúde, aumento
absurdo do gás de cozinha. Estão percebendo que muitos dos que atacavam o PT
tinham, na realidade, objetivos contra os trabalhadores e os mais pobres.
A Tribuna –
Houve pressão de correntes do PT pela saída do partido da base de apoio do
governo Paulo Hartung. Como é a relação do senhor hoje com o governador? Ele
seria um bom vice na disputa presidencial?
Lula - Faz
tempo que eu não converso com o governador Paulo Hartung, mas, quando ele era
governador e eu era presidente, tivemos uma boa relação. A definição de um vice
é uma discussão complexa que cabe a cada candidato.
A Tribuna –
Não teme ser preso e ficar inelegível ano que vem?
Lula -
Qualquer cidadão que lê o processo vê que eu não cometi crime nenhum. A
sentença do Sérgio Moro é incapaz de apontar qualquer ato de corrupção meu.
Depois de tudo isso, ele não consegue dizer o que eu teria feito de errado. E
reconhece que a propriedade do apartamento é da OAS, tanto que teve que tirar o
apartamento da massa falida da empresa. E ainda disse no recurso que não tinha
dinheiro desviado da Petrobras. Eu tenho minha vida investigada há 40 anos,
reviraram a minha casa, a dos meus filhos e não acharam um real. Eles poderiam
ter pedido desculpas. Mas já tinham aparecido no Jornal Nacional, em filme, e
não podiam voltar atrás.
O partido que define quem é o
candidato ou quem ele irá apoiar. Eu não queria mais ser candidato, mas com
tudo que eles vêm fazendo no País, desmontando políticas sociais, vendendo o
patrimônio nacional, retirando verbas da saúde e educação, acabando com
programas de apoio à agricultura familiar, agora eu quero sim ser presidente,
para provar, de novo, que esse País tem jeito.
É preciso dar oportunidades
para qualquer criança estudar e alcançar todo o seu potencial, se alimentar e
ter uma vida digna. Esse era o rumo em que o Brasil estava, o rumo que ganhou
quatro eleições.
A Tribuna –
Como o senhor analisa a pré-candidatura de Jair Bolsonaro (PSC), a saída de
Luciano Huck e a consolidação do nome de Geraldo Alckmin (PSDB) como candidato
ao Planalto?
Lula - Eu
sou a última pessoa que pode questionar a vontade de alguém querer ser
candidato a presidente da República, porque eu fui várias vezes, perdi 3
eleições antes de ganhar em 2002. Quem quiser, que se apresente para o debate.
Estão procurando um candidato para defender o governo Temer e fingir que é o
novo sendo o velho.
A Tribuna –
O senhor acredita que o atual governo conseguirá aprovar a reforma da
Previdência?
Lula - Os
mesmos que hoje querem a reforma da Previdência, para sabotar a Dilma,
aprovaram em 2015 o fim do fator previdenciário.
Agora, o Temer gastou
fortunas para se salvar de duas denúncias no Congresso. O governo está propondo
uma isenção bilionária para as empresas estrangeiras que vão explorar o
pré-sal. E a reforma trabalhista vai reduzir o ganho do trabalhador e, por
consequência, a arrecadação da Previdência. É preciso fazer mudanças na
Previdência e eu mesmo fiz em 2003. O que estão propondo não é uma reforma, é
uma demolição.
A Tribuna –
O presidente Temer teria musculatura para concorrer ou apoiar um candidato de
peso na eleição presidencial?
Lula - Vamos
ver. Acho que o Temer tentará, sim, construir uma candidatura até a eleição. O
importante é o povo poder decidir livremente.
A Tribuna – Fora
da política, o que o cidadão Luiz Inácio gosta de fazer nas horas vagas?
Lula - Nos
fins de semana, eu gosto de assistir futebol, tanto o brasileiro, onde tive o
prazer de ver o meu Corinthians ser campeão, como também gosto de acompanhar os
campeonatos europeus. E toda manhã, a partir das 05h30min, faço meu exercício
diário: caminhada, musculação, perna, braço. Eu não tinha
antes o hábito do exercício físico. Mas nos últimos anos tenho me cuidado mais.
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